Novo SUV 2008 quer fazer brasileiro redescobrir a Peugeot

Jipinho com fabricação nacional aposta no lado urbano e motor turbo mais potente da categoria para tirar a Peugeot do buraco e ganhar espaço na concorrência; parte de R$ 67.190

O SUV 2008 dará ânimo à Peugeot para enfrentar a concorrência | Imagem: Peugeot

A frase “redescobrindo o Brasil com o SUV 2008” está para a Peugeot assim como a “redescobrindo a Peugeot com o 2008” está para o consumidor. Ambas caem como uma luva à nova fase da marca no País. Finalmente, a montadora francesa pode contar com seu representante no segmento dos carros que são objeto de desejo do brasileiro, o dos SUVs compactos.

Embora a categoria esteja aquecida como nunca - com novos e interessantes modelos como o Honda HR-V e o Jeep Renegade -, a Peugeot vê no 2008 sua oportunidade de mudar a imagem no País e recuperar as vendas. Não por acaso, o local escolhido para a apresentação de seu novo pupilo foi a região de Porto Seguro (BA), terra do descobrimento, onde rodamos cerca de 140 quilômetros com a novidade.

Sou brasileiro

O 2008 tem fabricação nacional, na planta de Porto Real (RJ) do grupo PSA - de lá sai também o hatch 208, com o qual compartilha a plataforma. Ele é um crossover interessante, bem acertado, que se utiliza de sua elegância e aposta no lado urbano. Assim como o HR-V, ele não quer brigar no nicho que se vale das capacidades off-road para conquistar clientes. Pelo contrário, gaba-se por ostentar o motor mais potente da categoria, o THP Flex de 1,6 litro com turbocompressor e injeção direta, que obtém potência máxima de 173 com etanol (165 cv na gasolina) e 24,5 kgfm de torque máximo. Esta configuração chama-se Griffe THP e é a top de linha, vendida por R$ 79.590. O único “escorregão” é que a motorização será oferecida apenas com câmbio manual de seis marchas.

Por que não um THP automático?

Empolgante e eficiente, o motor turbo empurra os 1.231 kg do crossover como se ele fosse um hatch esportivo. Em baixas rotações, até os 1,700 rpm, as retomadas são lentas, mas depois que o giro sobe sentimos quão elástico este propulsor consegue ser. Dá gosto de pisar. No entanto, o consumidor mais exigente, que quer ter um motor turbo com o conforto de um câmbio automático ficará chupando o dedo. Desta forma, a Peugeot fica sem uma versão para competir com seus rivais na faixa dos R$ 80 mil.

De acordo com a marca, o desenvolvimento de uma caixa automática de seis marchas (que não está disponível nem na Europa) para este motor seria muito onerosa para a empresa, especialmente porque não há demanda que faça o investimento valer a pena. Miguel Figari, diretor geral da Peugeot no Brasil, acredita que não há expectativa de venda para tal configuração, por isso equipar o THP com câmbio automático está fora dos planos. A justificativa do executivo é que o cliente que opta por esta motorização irá aproveitá-la melhor com um câmbio mecânico. Será mesmo?

Nem tudo está perdido

No catálogo, ainda estão presentes as versões de acabamento Allure e Griffe equipadas com motor 1.6 flex aspirado (122 cv etanol e 115 cv gasolina) acoplado a caixas de câmbio manual (cinco velocidades) ou automática... de quatro velocidades (a mesma do 208). Enquanto outras montadoras colocam até 9 marchas em seus modelos, a Peugeot quis economizar para poder oferecer o câmbio automático mais em conta da categoria. Na prática, ele não é ruim. Pelo pouco que rodei com o modelo, fiquei até surpresa com a suavidade dos engates e acerto. A economia de marchas reflete de forma contrária no consumo, que é alto: ele faz 7,2 km com um litro de etanol em circuito misto (cidade/estrada).

Pela versão Allure paga-se R$ 67.190 com câmbio manual e R$ 70.890 pela automática. Já com o acabamento Griffe os preços são de R$ 71.290 com caixa mecânica e R$ 74.990 com transmissão automática. As versões automáticas contam com borboletas para trocas atrás do volante enquanto os modelos com câmbio manual trazem no painel indicador de trocas de marcha.

Criado no asfalto

Comparado aos demais concorrentes, o 2008 foi o que apresentou comportamento mais próximo a um carro de passeio. A suspensão suave e silenciosa deixou claro que sua recalibragem priorizou o conforto. Bom para o dia-a-dia na cidade, nem tanto em altas velocidades, onde o SUV pareceu “flutuar” um pouco no asfalto. A direção elétrica é muito precisa e possui assistência variável. Já os pneus são macios 205/60 calçados em rodas de liga leve aro 16.

Para se adequar ao Brasil, o 2008 produzido por aqui possui um maior ângulo de entrada, de 22,2 graus e suspensão 10 mm mais alta. Com isso, a altura em relação ao solo subiu para 20 cm, mesma medida do EcoSport e pouca coisa menor que os 21,8 cm do Renegade.

Elegância à francesa

Ele é um carro proporcional, de design harmônico e linhas atraentes. O visual externo tem muitos detalhes que lembram o 208, como as lanternas em forma de “garra de leão”, por exemplo. Com dimensões de 4,16 metros de comprimento, 1,73 m de largura e 1,58 m de altura, o 2008 é um dos mais compactos da categoria. A cabine prioriza o espaço interno em detrimento do porta-malas, que conta com 355 litros – incluindo os 22 litros do compartimento abaixo do assoalho. A sensação de amplitude é melhorada por conta do teto mais elevado na parte de trás e pelo 0,60 m2 de área envidraçada que clareia a cabine. O teto panorâmico (fixo) é exclusivo das versões Griffe.

A parte interna do 2008 lembra muito o 208. Destaque para o pequeno volante multifunção revestido em couro, cujo tamanho e toque agradam muito. Há ajustes de altura e profundidade na coluna de direção e ajuste de altura para o banco do motorista, possibilitando ao piloto encontrar uma posição agradável em frente ao painel de instrumentos elevado e conseguir visualizá-lo por completo (por cima do pequeno volante). Há quem estranhe, mas aprovei o conjunto.

Um item curioso é o freio de estacionamento. Enquanto seus rivais economizaram espaço no console com freios elétricos, acionados ao toque de um dedo, a Peugeot equipou o 2008 com um freio à mão “do tipo aviação”. Traduzindo, há uma espécie de manche no console que requer esforço acima do normal para acionar o freio.

Com 2,5 m de entre eixos, os ocupantes tem espaço à vontade, o passageiro da frente é inclusive beneficiado pelo recorte do painel. Dá para esticar bem as pernas sem atrapalhar quem vai atrás. Aliás, mesmo quando quem está dirigindo é um sujeito de 1,90 m, ainda sobra um espacinho para as pernas de quem vai atrás dele. No banco traseiro há apoio de cabeça e cinto de três pontos para os três ocupantes. Ficou faltando o isofix, para prender cadeirinhas infantis.

De série em todas as versões, a tela sensível ao toque de 7 polegadas fica bem posicionada no centro do painel e inclui os sistemas de áudio, navegação, telefonia por interface Bluetooth e computador de bordo. Antes confusa, sua interface está bem mais intuitiva. O ar-condicionado digital de duas zonas também está presente em todas as versões.

Inédito mesmo é o aplicativo Link My Peugeot, para iOS e Android, que permite receber no smartphone informações do computador de bordo, como autonomia, percurso, distância e tempo dos trajetos realizados e até quanto falta para a próxima revisão do carro.

Equipamentos para todos

A Peugeot não pensa em oferecer uma versão “pé de boi” do 2008. “Para reposicionarmos a marca, temos que oferecer carros completos, por isso uma versão de entrada com menos equipamentos foi descartada para o 2008”, explica Figari.

Na versão Griffe THP, os diferenciais visuais são retrovisores cromados e pedaleiras de alumínio, mas os principais destaques fazem parte de um pacote tecnológico. Além de controle de estabilidade e sistema de partida em rampa, a versão Griffe THP oferece o Grip Control, um sistema refinado do controle de tração que permite que o condutor ajuste o grau de tolerância de patinação das rodas. Por meio de um seletor giratório no console central, o motorista escolhe um entre cinco modos de atuação: Normal, Lama, Neve, Areia e ESP Off (desligamento total do sistema).

Para testar o sistema, a Peugeot criou um curto trecho de lama, de onde o carro saiu sem esforço. Porém, se você não tem o mínimo de prática off-road melhor não abusar, a não ser que queira sair guinchado - o 2008 não é um 4x4!

No mais, o pacote de equipamentos é farto para a versão Griffe tanto com motor aspirado quanto turbo. São seis airbags (um deles de cortina), acionamento automático dos faróis e limpador de para-brisa, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, entre outros.Mesmo com pacote mais modesto, a versão Allure também agrada. São quatro airbags (dois laterais) faróis e lanternas em LEDs, farol de neblina, piloto automático, porta luvas refrigerado e os demais que já citamos mais cedo.

Momento da virada

O 2008 chega em maio às lojas, mas já pode ser encomendado a partir da segunda quinzena de abril. A marca quer vender 1.100 unidades por mês do SUV, número que recolocaria a Peugeot de volta ao jogo, mesmo em um momento de economia difícil e concorrência acirrada.

Desde que ele apareceu pela primeira vez no Brasil, na última edição do Salão de São Paulo (em setembro de 2014), 15 mil pessoas cadastraram-se no site interessados em informações do modelo. A montadora estima que 80% do mix de vendas seja das versões com câmbio automático e que a THP venda mais no início e depois estabilize, mas não falou em números.

Mesmo não conseguindo competir em todas as faixas de preço dos concorrentes, o 2008 tem atributos para conseguir seu lugar ao sol entre as famílias que buscam jipinhos urbanos. Que comece o jogo!