Teste: Volkswagen T-Cross Highline 250 TSI
Primeiro SUV da marca fabricado no Brasil mostra muitas qualidades
Demorou, mas finalmente a Volkswagen decidiu entrar de vez em um dos segmentos mais aquecidos do mercado brasileiro. Com o inédito T-Cross, a marca alemã entrará na disputa com modelos como o Jeep Renegade, Hyundai Creta, Honda HR-V e cia. Aliás, até o fim de 2020, a VW também expandirá consideravelmente sua participação entre os utilitários esportivos por aqui, já que, além dos atuais T-Cross e Tiguan Allspace, a marca terá o reforço de mais três modelos em subsegmentos diferentes, entre eles o argentino Tarek, o rival da marca para o Jeep Compass. Mas isso é papo para abordarmos no futuro.
Chegando plenamente em toda rede Volkswagen a partir de abril, o T-Cross é um modelo que promete mexer bem com o segmento de SUVs compactos, uma vez que vai mirar sua atuação em uma faixa de preço que reúne grande parte das vendas desses modelos, estamos falando aqui de cifras em torno dos R$ 100.000. O T-Cross conta com uma opção cravada dentro desse limite, no caso a Comfortline 1.0 TSI de R$ 99.990. Porém, por tudo o que entrega, inclusive a performance superior do motor 1.4 TSI, a opção Highline (que avaliamos nesta reportagem) deverá responder por uma parte considerável da procura pela novidade da Volkswagen.
Tabelado em R$ 109.990, o T-Cross Highline 250 TSI não é tão mais caro que o Comfortline com motorização 1.0 TSI e reúne um bom pacote de equipamentos. De série, temos no T-Cross Highline recursos como os 6 airbags e os controles de estabilidade e tração, revestimento interno de couro, ar-condicionado automático digital, rodas de liga leve aro 17”, central multimídia completa com câmera de ré, start-stop, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, chave presencial com partida por botão, entre outros.
Para quem deseja um carro bem completo, é possível elevar o preço do T-Cross Highline para R$ 124.840 acrescentando todos os opcionais. O preço sobe bem, porém tudo isso lhe dá direito ao charme do teto solar panorâmico, à tecnologia do painel de instrumentos digital interligado com a central multimídia com tela de 8”, à praticidade do assistente de estacionamento de terceira geração e à maior segurança proporcionada pelos faróis full-LED.
Se considerarmos que hoje em dia um Volkswagen Tiguan Allspace parte de R$ 128.990, parece excessivo cobrar cerca de R$ 125.000 no T-Cross todo equipado. Muita gente, contudo, está disposta a pagar esse valor em um SUV compacto, desde que ele entregue um bom pacote de tecnologia; por isso, a marca se sentiu motivada a criar uma lista de opcionais bem robusta para o T-Cross produzido em São José dos Pinhais (PR).
Outro ponto relevante em um SUV é a questão da personalização, algo que a Nissan soube trabalhar muito bem com o Kicks ao oferecer diferentes opções de revestimentos internos de couro e possibilidades de cores contrastantes para o teto. No T-Cross, sua cabine chega até a surpreender pela jovialidade, algo que até então não estávamos tão acostumados a ver em um VW. O T-Cross recebe apliques na parte central do painel criando uma atmosfera mais descolada e até mesmo o revestimento interno de couro da versão Highline “conversa” com essa nova composição da cabine. É salutar ver que a Volkswagen aos poucos deixa de lado uma certa rigidez no desenvolvimento de seus projetos e procura ouvir cada vez mais os desejos do público.
Para diferenciar um pouco o T-Cross do Polo e do Virtus, o SUV compacto conta com diferenciais como a manopla do câmbio exclusiva, porém compartilha com seus irmãos a boa ergonomia da cabine de um modo geral. Por falar em cabine, um traço semelhante entre o T-Cross e o Virtus é a generosidade no espaço para os cinco ocupantes. Ao aumentar o entre-eixos e o comprimento do T-Cross brasileiro em relação ao europeu, a Volkswagen conseguiu mais uma vez produzir um modelo para agradar em cheio aos anseios do público local. O porta-malas, contudo, poderia entregar um pouco mais do que seus 373 litros. Até é possível ampliar a capacidade para 420 litros reposicionando o encosto do banco traseiro, porém a solução não nos pareceu muito boa, uma vez que as costas ficam em uma posição excessivamente vertical, comprometendo o conforto dos passageiros. O T-Cross europeu tem uma solução bem mais interessante, no caso o ajuste longitudinal para toda a segunda fileira de assentos. Tal recurso não foi aplicado no SUV compacto brasileiro por conta da alteração no entre-eixos, como explicou Pablo Di Si, presidente da VW do Brasil, quando questionado pelo Autoo.
Mas se você procura um bom comportamento dinâmico, talvez seja indicado fazer um test-drive no T-Cross Highline antes de optar por qualquer um de seus concorrentes.
Quando olhávamos para o segmento de SUVs compactos flex, até a chegada do Citroën C4 Cactus com a opção do motor 1.6 THP, só encontrávamos no Chevrolet Tracker com seu 1.4 turbo uma alternativa com conjunto mecânico interessante do ponto de vista da eficiência. O Jeep Renegade com motorização 2.0 turbodiesel sempre foi um ponto fora da curva sob esse aspecto, mas o preço elevado de suas versões com esse motor, hoje começando em R$ 127.990 na opção Longitude 4x4, o torna caro demais para a categoria.
Única versão a receber o 1.4 TSI, o T-Cross Highline prima pelo compromisso ímpar entre bom desempenho e economia de combustível. Com 150 cv e 25,5 kgfm de torque, o motor 1.4 com turbo e injeção direta consegue impulsionar o T-Cross de 0 a 100 km/h em 8,7 segundos e garantir ao SUV uma retomada de 80 a 120 km/h em apenas 6,1 segundos. Com o câmbio automático de 6 marchas e start-stop (recurso disponível só no T-Cross Highline), as médias de consumo com gasolina ficam em 11 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada.
Os números do T-Cross Highline são bem convincentes, mas vale a pena destacar que hoje, por R$ 95.990, o C4 Cactus Shine alcança 100 km/h ainda mais rápido que o VW, no caso precisando de apenas 7,3 segundos para cumprir a prova. Isso posiciona os SUVs da VW e da Citroën como as escolhas mais interessantes para quem busca esportividade ao volante.
Após rodarmos por cerca de 200 km com o T-Cross Highline, mesclando trechos rodoviários e urbanos, o VW nos chamou a atenção pelo comportamento extremamente bem resolvido. Com toda a modernidade de sua plataforma MQB e um processo construtivo realizado com esmero, o T-Cross transmite uma sensação ao volante tão nobre quanto seu primo rico Audi Q3 (o qual também é montado em São José dos Pinhais).
O T-Cross mostrou-se um carro equilibrado, silencioso, com um rodar sólido e bem agradável. Se a via permitir, percorrer algumas curvas mais rápidas a bordo do SUV está longe de ser um problema, uma vez que ele mostrou uma disposição muito boa em trechos de serra. Sua carroceria rola apenas o necessário para não tornar seu comportamento anestesiado demais, enquanto a direção precisa e os pedais milimetricamente calibrados funcionam como um convite para que você passe algumas horas atrás do volante do T-Cross.
Para ajudar no bolso e no custo de propriedade, a Volkswagen vai oferecer para o T-Cross as três primeiras revisões grátis, o que, segundo cálculos da marca, representa para o consumidor uma economia de aproximadamente R$ 1.600. Em suas avaliações iniciais realizadas por órgãos independentes, o T-Cross saiu-se muito bem no tradicional índice de reparabilidade do CESVI Brasil, atingindo a melhor pontuação dentro da categoria e superando com folga seus concorrentes. Se olharmos para o retrospecto de Polo e Virtus nos testes do Latin NCAP, e somando a isso o fato do T-Cross contar com 6 airbags de série, o modelo também deverá ser aprovado nas provas de segurança.
Como era esperado, o Volkswagen T-Cross estreia com um dos conjuntos mais avançados e sofisticados dentro do segmento, levando em consideração seu leque de motores e sua plataforma como um todo. Ao combinar seu design arrojado para os padrões da marca com a elevada qualidade construtiva e de acabamento, além de um catálogo de equipamentos interessante, o modelo terá grandes chances de se destacar na categoria e figurar nas primeiras posições do ranking de vendas – meta declarada pela VW quando questionada sobre uma previsão de emplacamentos para a novidade. Atributos positivos para o T-Cross, como ficou comprovado, certamente não faltam. Só nos resta acompanhar como o mercado receberá o primeiro SUV fabricado pela Volkswagen no Brasil.
Ficha técnica
Volkswagen T-Cross 2020 Highline 250 TSI 1.4 16V flex automático 4p | |
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Preço | R$ 109.990 (02/2019) |
Categoria | SUV compacto |
Vendas acumuladas neste ano | 60.124 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1395 cm³ |
Potência | 150 cv a 5000 rpm (gasolina) |
Torque | 25,5 kgfm a 1500 rpm |
Dimensões | Comprimento 4,199 m, largura 1,76 m, altura 1,57 m, entreeixos 2,651 m |
Peso em ordem de marcha | 1292 kg |
Tanque de combustível | 52 litros |
Porta-malas | 373 litros |