Teste: Volkswagen Jetta R-Line 250 TSI
Aceleramos a versão com apelo esportivo - e a mais cara - do novo Jetta
Uma análise mais atenta do ranking de vendas de sedãs médios nos permite separar o segmento em três blocos. O primeiro deles é ocupado pelo Toyota Corolla, que lidera a categoria de forma isolada. Em seguida, no pelotão intermediário, figuram Honda Civic e Chevrolet Cruze, os dois modelos que conseguem superar com facilidade o volume de mil emplacamentos por mês. Logo depois, o terceiro bloco fica com os modelos que gravitam em um volume de 300 a 500 unidades vendidas/mês, como é o caso de Ford Focus Fastback e o próprio Volkswagen Jetta.
É fato que o VW já estava pedindo por uma atualização há um bom tempo. A sexta geração do sedã estreou por aqui em 2011 e não faltou polêmica na época de seu lançamento, já que a versão de entrada manteve o motor 2.0 flex aspirado até então oferecido no antecessor Bora. Só em 2016, com a estreia do motor 1.4 TSI nas configurações Trendline e Comfortline, que essa questão foi sanada.
E o propulsor 1.4 com turbo e injeção direta caiu tão bem ao Jetta que a Volkswagen resolveu mantê-lo na sétima geração do sedã, que acaba de ser lançada no Brasil como havíamos antecipado.
Fato curioso é que, assim como ocorreu na estreia da geração anterior, as polêmicas voltam a figurar na vida do Jetta comercializado no Brasil.
A primeira delas diz respeito ao câmbio. Enquanto nos EUA o 1.4 TSI trabalha com a excelente caixa automática de 8 marchas, o Jetta 2019 destinado ao Brasil chega ao mercado apenas com a transmissão AQ250 de 6 velocidades. A Volkswagen diz apenas que isso ocorreu por uma “escolha de configuração” para nosso mercado, mas fica claro que, como o câmbio de 6 marchas também figura na gama Polo e Virtus, trata-se de uma racionalização do processo de fabricação. Além disso, ao focar em apenas uma transmissão para seus carros de maior volume, a marca também economiza custos no pós-venda e suprimento de peças para esses modelos.
Outra polêmica, em especial no Jetta R-Line avaliado aqui, é que o sedã inexplicavelmente não oferece a opção de trocas sequenciais por meio de aletas no volante. Vale a pena destacar que a designação R-Line remete a uma das configurações mais esportivas dentro da gama Volkswagen, portanto seria natural esperar esse recurso no sedã. Mais uma vez, quando questionada pelo Autoo, a equipe técnica da marca revela apenas que foi uma “decisão da empresa” não oferecer as borboletas para trocas sequenciais no volante, restanto apenas efetuar o avanço ou retrocesso das marchas direto na alavanca de câmbio. Tudo isso pode parecer um detalhe, mas a incoerência é que sedãs mais baratos do que o Jetta dentro da gama Volkswagen, como é o caso do Virtus e do Voyage, podem receber os paddle-shifters.
Polêmicas à parte, a chegada da plataforma modular MQB fez um bem enorme ao Jetta. Ao mesclar aços nobres e técnicas de construção sofisticadas, como as chapas de espessura variável, o Jetta em sua sétima geração entrega um nível de silêncio a bordo raramente visto até mesmo em rivais diretos. O comportamento dinâmico também tira vantagem do bom nível de rigidez estrutural do conjunto, assim como nível de segurança está alinhado com os patamares mais elevados dentro do segmento. Enfim, são todas as benesses que são esperadas de um projeto moderno como é o caso da sétima geração do Jetta.
No visual, o Jetta 2019 ganhou uma destacada grade frontal, elemento que domina praticamente toda a dianteira do sedã. Correndo o risco de parecer um pouco exagerada, podemos dizer a escolha da VW em “carregar” na grade frontal mostrou-se acertada. Ela colabora para criar uma sensação de maior largura e imponência ao sedã, que também ficou mais agressivo quando visto de frente.
No perfil, temos um uso bem interessante dos vincos da carroceria, resultando em formas elegantes e robustas. Na medida em que avançamos para a traseira, contudo, torna-se inegável a semelhança com o Virtus até mesmo no estilo do terceiro volume. Importante destacar que o Jetta 2019 manteve os 510 litros para o porta-malas, mesma capacidade da geração anterior e bem adequada ao uso familiar.
Agora com 4,70 m de comprimento e 2,68 m de entre-eixos, a nova geração do Jetta entrega uma cabine bem confortável para 4 adultos. A sensação de espaço também é realçada pela largura de 1,79 m da carroceria. Uma pena que a Volkswagen deixou o túnel central traseiro do Jetta elevado demais, o que compromete o espaço para as pernas de um quinto passageiro. Talvez esse seja um bom indício de que a VW pode considerar para o novo Jetta uma versão mais extrema e que ofereça tração integral. Dessa forma, é necessário que o modelo acomode o eixo cardã para levar a força do motor também para as rodas traseiras.
Por falar em versão mais extrema, se você está acostumado (a) com o Jetta 2.0 TSI, vai sentir que o novo Jetta R-Line não é tão animador no quesito esportividade. O modelo está longe de ser apático, já que os 150 cv e 25,5 kgfm de torque do 1.4 TSI flex entregam respostas aceitáveis para o sedã, mas falta ao Jetta R-Line aquele comportamento visceral que encontrávamos no Jetta Highline com seus 211 cv e 28,6 kgfm de torque. O Jetta R-Line é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos e alcançar 210 km/h de velocidade máxima, números bem aceitáveis, mas ainda longe dos 7,2 segundos que o Jetta 2.0 TSI precisava para realizar a mesma prova.
Ao menos a nova geração do Jetta está mais eficiente graças ao sistema start-stop de segunda geração, que desliga o motor um pouco antes da parada completa do carro. Com isso, o Jetta R-Line registra médias de até 10,9 km/l na cidade e 14 km/l na estrada com gasolina.
Perguntamos para a Volkswagen se está nos planos a nova geração do Jetta receber o motor 2.0 TSI novamente. “O que posso dizer é que a plataforma MQB é completamente modular e já temos o motor 2.0 TSI pronto, então, se a empresa assim decidir, fica fácil montarmos esse carro”, explica José Loureiro, gerente de desenvolvimento da marca.
Continuando no Jetta Highline da geração anterior, vale a pena lembrar que ele oferecia transmissão de dupla embreagem e suspensão traseira multibraço. Todas as versões do Jetta 2019, por sua vez, contam com a suspensão traseira por eixo de torção, layout mais simples que a geração anterior, porém, justiça seja feita, a VW conseguiu extrair dele um ótimo compromisso entre conforto e uma tocada neutra e estável nas curvas.
Tabelado em R$ 119.990, o Jetta R-Line sai de fábrica com um bom pacote de equipamentos, principalmente envolvendo os assistentes de condução. Nessa versão ele conta com o piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, faróis de LED com comutação automática para o facho alto, dentre outros. O modelo também oferece, nessa versão, o painel de instrumentos digital com tela de 10,25”, algo exclusivo do Jetta R-Line na categoria, bem como a iluminação ambiente da cabine com 10 opções de cores e a possibilidade de ajuste do modo de condução do veículo.
O Jetta R-Line é bem equipado, mas se olharmos para o mercado você encontra o Chevrolet Cruze LTZ com o pacote opcional R7F custando R$ 118.390. Nessa configuração, o Chevrolet também conta com um avançado pacote de tecnologia, com destaque para o assistente de estacionamento, alerta de ponto cego, banco do motorista com regulagem elétrica, dentre outros recursos que não figuram no Jetta R-Line. O Cruze LTZ completo conta com o alerta de colisão, mas fica devendo a frenagem automática e o piloto automático adaptativo.
Colocando tudo na balança, a sensação é que o Jetta R-Line com o motor 2.0 turbo faria bem mais sentido e, custando os mesmos R$ 120.000, seguramente essa combinação projetaria o sedã da VW como a melhor compra na categoria dentro dessa faixa de valor. Para quem quer mais esportividade e tem esse dinheiro para gastar, hoje um Honda Civic Touring (R$ 126.600) com seu 1.5 turbo de 173 cv faz bem mais sentido.
O Volkswagen Jetta em sua sétima geração é um modelo que traz qualidades inegáveis em termos técnicos, construtivos e de projeto, porém, sem a performance arrojada que a geração anterior era capaz de entregar, o novo Jetta 2019 faz bem mais sentido na versão de entrada Comfortline de R$ 109.990 do que na R-Line avaliada aqui. O novo Jetta figura como uma opção a ser considerada para quem deseja um modelo recente, porém, olhando para a realidade atual do segmento, alguns modelos entregam um custo-benefício mais competitivo.
Ficha técnica
Volkswagen Jetta 2019 R-Line 250 TSI 1.4 16V flex automático 4p | |
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Preço | R$ NaN (11/2019) |
Categoria | Sedã médio |
Vendas acumuladas neste ano | 5.796 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1395 cm³ |
Potência | 150 cv a 4500 rpm (gasolina) |
Torque | 25,5 kgfm a 1500 rpm |
Dimensões | Comprimento 4,702 m, largura 1,799 m, altura 1,474 m, entreeixos 2,688 m |
Peso em ordem de marcha | 1331 kg |
Tanque de combustível | 50 litros |
Porta-malas | 510 litros |