Pandemia fará o público ''reconhecer os benefícios de possuir um carro'', prevê VW
Executivo da área de estratégia da montadora alemã revela a visão da marca para o cenário atual
Enquanto todos buscam compreender como será o tão falado “novo normal”, especialistas da indústria, do comércio e analistas do setor projetam quais são os impactos da pandemia na área automotiva e como isso já afeta os negócios de diversas empresas do segmento.
Quem apresentou uma interessante visão do que podemos esperar para os próximos meses e anos foi Reinhard Fischer, vice-presidente sênior de estratégia do Volkswagen Group of America, um dos profissionais que está analisando e buscando compreender mais a fundo como será o comportamento do consumidor em um mundo em profunda transformação após os reflexos da Covid-19.
Na visão de Fischer e do conglomerado alemão, a primeira percepção é que após a pandemia do novo coronavírus, “as pessoas vão reconhecer os benefícios de possuir um carro”. “Um meio de transporte privado que você não precisa dividir com ninguém pode se tornar o seu santuário”, analisa Fischer.
Segundo o executivo, a tendência é que os consumidores olhem daqui para frente inclusive para tecnologias e serviços que permitem o menor contato possível com pessoas estranhas, incluindo a interação com o carro. “Nesses tempos, ninguém vai querer um ‘estranho’ em seu automóvel. Novos serviços e ferramentas que permitam interagir com a marca e o concessionário sem a necessidade de contato físico vão ganhar cada vez mais relevância para o consumidor”, vislumbra Fischer.
Por outro lado, analisa a VW, a pandemia ainda não eliminará a necessidade de uma concessionária física para a interação entre a marca e seus clientes. “A compra de um carro, em muitos casos, é a segunda maior aquisição que a maioria das pessoas realiza em suas vidas após a compra da casa própria. Os consumidores ainda estão esperando por essa experiência. Tocar, sentir e dirigir seu futuro automóvel antes de efetuar a decisão e optar por determinado modelo. A adição de elementos digitais nessa jornada de compra pode tornar a experiência muito mais confortável”, pondera o vice-presidente sênior de estratégia da VW para o mercado norte-americano.
Ainda sobre o “novo normal”, segundo Reinhard Fischer a previsão é que o público até mesmo prefira o uso do carro particular ao invés de viajar de avião para cobrir distâncias que permitam tal substituição. “Por outro lado, com o aumento de empresas oferecendo a possibilidade de seus funcionários trabalharem de casa, as pessoas vão dirigir menos. Em paralelo, com a tendência das pessoas afastarem-se das grandes áreas metropolitanas, regiões que tradicionalmente são servidas por uma infra-estrutura de transporte público de maior capacidade, e migrando para o interior, a tendência é que o uso e a necessidade de um carro próprio cresça da mesma maneira”.
“De uma maneira geral eu acredito que condição do carro próprio segue em alta em mercados como o norte-americano e vai continuar a crescer após o surgimento da pandemia. As pessoas enxergam o carro próprio como um local inviolável. Há uma falta de conforto em qualquer forma de transporte público”, acrescenta Reinhard Fischer.
Segundo o executivo da VW, a pandemia do novo coronavírus poderá “hesitar brevemente” a transição dos carros a combustão para os modelos de propulsão elétrica, mas a migração deverá ser acelerada em uma etapa posterior.
Na análise de Fischer, o fato de você recarregar seu automóvel em casa evitará o contágio com o vírus em um posto de gasolina ou até mesmo pela manipulação da bomba de combustível na hora do abastecimento, prática comum em mercados como o dos EUA e Europa. Além disso, as medidas de isolamento social aplicadas ao redor do mundo mostraram os benefícios da redução da quantidade de poluentes no ar e muitas cidades ou regiões podem decidir por uma migração acelerada para automóveis com zero emissão de gases tóxicos.
Por fim, Fischer analisa o segmento de transporte por aplicativos. Para ele, serviços de compartilhamento de automóveis ou carona compartilhada deverão usados de maneira “cautelosa”. “Clientes desse tipo de serviço poderão começar a se perguntar qual é a condição de saúde do motorista? Quem foi o último passageiro no carro?”, pondera. “A outra consideração é política. Muitas contramedidas podem reduzir a flexibilidade do conceito de carona compartilhada, já que existe a possibilidade dela ser regulamentada como um serviço de táxi é hoje. Isso poderá repercutir em um impacto no posicionamento de preço desses serviços para o usuário”, conclui o executivo.