Aos 40 anos, Volkswagen Gol segue vivo, mas em crise de identidade
Automóvel mais produzido do Brasil perdeu o posto de líder de vendas e hoje sobrevive graças ao mercado de vendas diretas
Não são muitos os nomes de carros que permanecem vivos após décadas. Mais que batizar um automóvel, as montadoras buscam vender um conceito a seus clientes e aí está justamente a razão de muitos modelos morrerem ao longo do tempo. Por mais significativa que tenha sido sua carreira, uma mudança de humores no consumidor rapidamente motiva uma marca a aposentar essa nomenclatura.
Para ilustrar o caso, há inúmeros exemplos, mas podemos recorrer ao Palio, por exemplo. A Fiat o tornou seu principal produto no Brasil por muitos anos, estendendo sua influência no mercado com uma família numerosa e igualmente bem sucedida. Bastou que o mercado mudasse de paladar em busca de veículos com maior conteúdo agregado para que o Palio tivesse sua morte decretada. Mas podem ter certeza que se a marca Palio ainda fosse relevante, o Argo não se chamaria assim.
E o que dizer da Volkswagen e o Gol? O automóvel mais produzido na história do país continua à venda e com relevância afinal ele é o 5º veículo mais emplacado em 2020. Mas a verdade é que o modelo, que acaba de completar 40 anos no mercado, tem se tornado cada vez mais um pária no portfólio da Volks. Quer uma prova disso? Em 2011, o hatch emplacou mais de 293 mil unidades, já no ano passado esse total despencou para pouco mais de 81 mil carros, uma queda de 72%.
Em que pese o fato de que o mercado como um todo tenha desacelerado nesse período, não há como esconder que a marca Gol hoje não é sombra do seu glorioso passado. Isso se explica pelo fato de que o modelo da VW sobrevive apenas por explorar as vendas diretas, realizadas para frotistas como locadoras e com margens apertadas de lucro, se tanto. Não que o Gol não tenha desfrutado dessa clientela antes (ele liderava nesse quesito no começo da década), mas é impressionante como as vendas para o público final perderam força com o passar do tempo.
Há quase uma década, o Gol liderava ambos os mercados e chegou a emplacar quase 200 mil unidades em 2012, seu auge. Desde então, o modelo perde espaço no varejo, um sinal claro de que o público que busca um produto por sua imagem não se interessa mais pelo ex-líder de vendas. Se em 2011 um terço das vendas advinham do atacado hoje é justamente o contrário: em 2019, 67% dos emplacamentos foram de vendas diretas e sob uma base muito menor, como explicado.
Reinvenção a caminho?
Esse fenômemo ocorre na contramão do apuro técnico do hatchback, que após quase quatro décadas enfim passou a contar com transmissão automática e há 11 anos conta com uma plataforma mais atual e eficiente.
No entanto, como dissemos no início do texto, a marca "Gol" perdeu a majestade e isso é um fator complicador na estratégia de uma fabricante de automóveis. Há veículos que parecem alheios ao tempo como o Corolla ou o Passat, mas até o Golf tem começado a apresentar sinais de desgaste em alguns mercados como o Brasil. Isso significa na prática que carro algum é imune a mudanças de direção, incluindo o Gol.
Aparentemente, a Volkswagen ainda aposta no poder de atração do modelo, criado no final dos anos 70 para o lugar da Brasilia e que não emplacou de imediato. Foi preciso que melhorias mecânicas e de estilo fossem implementadas para que o hatch passasse a chamar a atenção do consumidor e se tornado uma referência em bom desempenho e confiabilidade.
Os planos do sucessor do Gol estão na mesa dos executivos da Volks, mas agora suspensos temporariamente enquanto a pandemia do COVID-19 dizima as vendas de automóvel. Não será surpresa se esse novo "Gol" mude até de categoria, assumindo outros papéis, mas focado ainda no segmento de entrada do mercado. Quem sabe venha daí um renascimento do interesse e a certeza de que o modelo poderá completar meio século em produção ininterrupta em 2030.
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