XC40 deverá se tornar o Volvo mais vendido no Brasil, revela presidente
Entrevistamos Luis Rezende, responsável pelas operações da Volvo Cars no país
Participando do lançamento da nova geração do XC60 no Brasil, o presidente da Volvo Cars Brazil, Luis Rezende, nos concedeu uma entrevista exclusiva onde abordou temas como a futura chegada do XC40 ao mercado, a receptividade da marca ao novo regime automotivo Rota 2030 e os planos da Volvo para o país. Confira o bate-papo na íntegra:
Nós notamos que a Volvo está, atualmente, em seu melhor momento no Brasil. Qual é a projeção para encerrar 2017?
Luis Rezende – Eu acho que quando falamos de melhor momento tem algumas coisas que precisamos destacar. Em primeiro lugar, mesmo passando por um período de crise tenho orgulho em dizer que não perdemos nenhum de nossos 60 funcionários aqui no Brasil. A matriz acreditou que iríamos entregar os resultados e o fato de possuirmos uma rede de concessionárias lucrativa hoje é uma grande habilidade da marca poder entregar isso. Nós vamos encerrar 2017 com 92% da rede com padrão VRE (Volvo Retail Experience), o que começou em agosto de 2015, e traz um novo padrão para as lojas com um ambiente mais aconchegante, o uso de móveis suecos, dentre outras características que mantém o padrão das concessionárias ao redor do mundo. Até o meio de 2018 teremos todas as concessionárias do Brasil no padrão VRE. Então convencer os empresários a investir nesse cenário de recessão também mostra uma relação de muita confiança com a marca.
E em termos de venda? Quais são os números esperados?
Luis Rezende – Neste ano esperamos encerrar com mais ou menos 3.700 carros vendidos, um crescimento em torno de 9% sobre 2016, o que já é algo bacana.
E para 2018? Considerando a implantação do Rota 2030, como isso poderá impactar para a Volvo Cars no Brasil?
Luis Rezende – A gente quer atingir, em 2018, mais ou menos 6 mil carros vendidos sendo que o novo XC60 deverá responder por algo em torno de 2.300 carros. Além disso é claro que apostamos muito na chegada do XC40, que é um SUV compacto e chega para atuar em um mercado super competitivo e interessante junto dos alemães. E, entre os SUVs, a Volvo é muito reconhecida, tem uma imagem muito forte.
A ideia é que o XC40 se torne o carro mais vendido da Volvo no Brasil?
Luis Rezende – Eu acredito que sim. Em um ano cheio do XC40 eu posso acreditar que sim porque o segmento é maior. O subsegmento dos SUVs compactos de luxo atualmente vende em torno de 14.000 carros ao ano. O segmento do XC60 (SUVs de luxo de porte médio) vende em torno de 5.000 carros/ano. Como o XC60 deve voltar a liderar seu segmento, nós temos um número muito expressivo. A partir do momento em que a gente vai para um outro mercado, no caso do XC40, falar em 3.000 carros dentro de um universo de 15.000 não é algo tão expressivo quanto eu tenho no subsegmento do XC60. A previsão, por exemplo, é que eu comercialize em torno de 600, 700 unidades da XC90. O que posso garantir é que em termos de SUVs nós estamos muito bem representados. A gama será composta por produtos totalmente novos, de uma “linhagem” toda nova. Então com a rede reformada, com rentabilidade, o time da Volvo no Brasil estável e feliz e a chegada de produtos novos em um momento econômico mais favorável, eu custo a crer que nós não vamos atingir o objetivo de encerrar 2018 com pelo menos 6 mil carros emplacados.
Esse volume de 3.700 unidades para 2017 ainda é amparado no XC60, mesmo com a rede passando por um processo de espera pela nova geração?
Luis Rezende – Sim, ainda é resultado do XC60. A versão diesel, que lançamos no meio do ano passado, sustentou bastante a vida da XC60.
Quanto a versão diesel representa nas vendas do XC60?
Luis Rezende – Olha, em torno de 50%.
Do total de 6 mil carros que a Volvo espera comercializar em 2018, como seria a distribuição por modelos?
Luis Rezende – Poderia dizer que em torno de 2.300 XC60 e algo em torno de 2 mil unidades do XC40, que ainda não passará por um ano cheio, mais umas 500 unidades do XC90 e o V40 e demais modelos dividiriam o mix.
Apesar de ainda não sabemos as diretrizes do Rota 2030, como você avalia o programa? O que ele pode significar para a Volvo?
Luis Rezende – Eu acho que o Rota 2030 chega para completar o que foi o Inovar-Auto, que teve uma visão de mercado interno e conseguiu atrair muitas indústrias para o Brasil, tanto que hoje a capacidade produtiva do pais gira em torno de 5,5 milhões de carros. Infelizmente, pelo lado da economia, O Inovar-Auto não funcionou como se planejava. Agora notamos que os pilares econômicos estão no lugar e eu acredito sim que o mercado vai melhorar, mas o olhar do governo é outro. Ao invés de disputar um mercado de 2 milhões de automóveis, por que não disputar um mercado de 90 milhões, que é a exportação? Agora nós estamos preparados, nós temos fábricas para dar conta do volume exportado. Então o Rota 2030 vêm muito para isso, para tornar os nossos produtos realmente exportáveis. Hoje estamos falando muito mais sobre segurança e eficiência, que passou a ser uma preocupação de todas as montadoras e vai continuar sendo. Também vale a pena destacar os investimento em pesquisa e desenvolvimento. A Volvo, por exemplo, como importadora e por participar do Inovar-Auto, hoje desenvolve parte do motor diesel no Brasil.
Sobre a participação da Volvo no Inovar-Auto, ela ficou limitada ao desenvolvimento do motor diesel?
Luis Rezende – Nós realizamos mais algumas coisa em termos de pesquisa, mas uma fase inteira do motor a diesel foi desenvolvida aqui, então isso é muito bacana. Outro ponto foi a etiquetagem veicular. Nós partimos logo para a etiquetagem de 100% de nossos carros independente da classificação obtida, da letra que cairia para meu carro.
Mas vocês esperam com ansiedade o Rota 2030? Ele será melhor para o importador, certo?
Luis Rezende – Eu acho que o Rota 2030 será mais igualitário.
Mais justo?
Luis Rezende – Mais justo no sentido de que o Inovar-Auto teve uma proposta. Ele cumpriu sua proposta e termina agora no dia 31 de dezembro e que venha outro programa a partir de 2018. A diferenciação de origem de produto tem um nome, que é o imposto de importação, sendo que no Brasil ele é 35%. O país é signatário dessa regra na OMC (Organização Mundial do Comércio). Uma vez que a gente difere disso, nós estamos indo contra a OMC. Ela já condenou essa prática, então esse assunto está resolvido. Não acredito que no Rota 2030 nós vamos voltar a falar de cotas, sobretaxa de IPI, etc. Enfim, é vida que segue.
Voltando a falar sobre o XC40, ele enfrenta modelos como o BMW X1, Audi Q3, Mercedes-Benz GLA... estamos falando de um carro de R$ 150.000 a R$ 200.000 por aqui?
Luis Rezende – Sim, deverá ser por volta disso aí. Lembre que eu tinha uma XC60 que atuava nessa faixa de valor na primeira geração, mas agora o XC40 chega para posiconar a marca entre os compactos.
A Volvo estuda a entrada em outros segmentos além do que a linha atual já atende?
Luis Rezende – Por enquanto não. Nós vemos a Volvo focada muito mais em eletrificação. Claro que chegarão as novas gerações do S60, V60, um novo V40 lá na frente... Isso está no portfolio. Agora falar alguma coisa fora disso, não. O que vamos analisar daqui para frente é se eles serão eletrificados? Totalmente elétricos? É nesse caminho que eu vejo uma evolução maior muito do que em uma ampliação de gama.
Por exemplo, pensar em uma minivan...
Luis Rezende – Hoje isso não está em nosso radar. Não digo que nunca estaria, mas hoje não está.
Falando sobre eletrificação, a Volvo já revelou sua estratégia para a próxima década. O Brasil está preparado para esse mundo eletrificado?
Luis Rezende – A partir de 2019 todos os nossos modelos serão eletrificados, seja gasolina-eletricidade ou diesel-eletricidade. Isso não exclui totalmente a presença de motores a combustão em nossos carros, é bom deixar claro, então eu creio que o Brasil está preparado. Até 2021 queremos atingir o volume de 1 milhão de carros totalmente elétricos comercializados no mundo.
Quais são os planos do Volvo para o médio e longo prazos? Existe planos de ampliar a rede de concesionárias?
Luis Rezende – Hoje nós cobrimos a maioria das capitais. Para a região Centro-Oeste e Norte que talvez precisamos caminhar para uma expansão maior. Agora possuindo uma gama de produtos mais completa eu posso pensar nisso. Também não era interessante eu pensar em um crescimento da rede em um cenário de crise, economia instável... logo temos muita coisa para pesar. De qualquer forma nós inauguramos novas concessionárias em mercados onde a marca já estava presente. Mas em locais onde nunca atuamos, agora com o novo XC60 a gente começa a ficar preparado e, com o XC40, a gente consolida. Nós olhamos para a ampliação da rede com parcimônia. Eu não acho que aumentar minha rede de concessionárias de 30 para 60 é o que me fará dobrar de volume. O que vai, sim, ajudar nesse ponto é a oferta de bons produtos e uma bela estratégia de marketing e depois entregar tudo o que eu prometi.
E considerando os números de venda melhorando significativamente a partir de 2018, você consideram em algum momento construir uma fábrica por aqui? Isso passa pela estratégia da Volvo?
Luis Rezende – A gente olha. A gente avalia todos os movimentos. No Brasil já se falou de um mercado de automóveis de luxo de 120 mil até 150 mil carros e isso quase se concretizou há quatro anos, foi bem de repente. Então, será que isso vai acontecer de novo? Não acredito nisso agora, mas é por isso que estamos sempre monitorando.