Eduardo Pincigher

É jornalista formado pela PUC-SP e atua no setor automotivo desde 1989, com passagens em diversas publicações e montadoras. Hoje trabalha como assessor de imprensa por intermédio de sua agência de comunicação.

VW Tera estreia no Carnaval do Rio. Por que tanto barulho?

Um dos lançamentos mais importantes de 2025 teve o máximo de exposição possível na mídia

Qualquer brasileiro que se interessa e acompanha minimamente o mercado automotivo não escapou da imagem da atriz e apresentadora Sabrina Sato, desfilando na Marquês de Sapucaí, no maior e mais afamado Carnaval do mundo, no último domingo 2/3, a bordo do novíssimo Volkswagen Tera. Todo mundo viu.

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O lançamento comercial do VW Tera, de acordo com o que a fabricante informou, será só em maio. Mas vamos combinar: o “mundo” já tá avisado que esse SUV compacto fará parte do mercado brasileiro daqui a dois meses, tal a visibilidade que ele adquiriu ao atravessar a passarela do samba.

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Arrisco afirmar que nenhum automóvel terá sido mais fotografado e filmado em 2025 do que o Tera. Ele ocupou geral o noticiário. E ainda haverá outro evento em maio.

A estratégia

Volkswagen Tera 2026
Volkswagen Tera 2026 na Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, para ser visto pelo maior volume de pessoas possível
Imagem: Divulgação

Na análise mais clássica, tudo o que você investe em Marketing e Comunicação tem um único objetivo: fazer seu produto aparecer (bem) para o maior número de clientes ou futuros clientes, tangibilizando esse anúncio com valores que edifiquem a reputação de marca.

Ao se aprofundar nessa estratégia, você começa a desvendar outros objetivos pretendidos pela fabricante em uma apresentação maiúscula como essa. Um deles é o tamanho do apetite de quem lança, com nuances claras de tentar influenciar os receptores dessa comunicação. (Anos atrás, a Fiat fez o lançamento do Doblò em Goiânia, em um evento em que os jornalistas podiam levar suas famílias. O ponto alto da apresentação ocorreria em um espetáculo circense.

Pois não é que aparece um palhaço no final do evento, evocando uma série de mensagens importantes que ilustravam as virtudes do carro? E esse palhaço, ao se desnudar perante o público, era ninguém menos do que o Diretor de Comunicação da marca? Genial, simplesmente genial.) 

De volta ao Tera. E ao apetite da VW – é que eu não podia deixar de mencionar outro exemplo brilhante de um evento de lançamento como foi o do Doblò. Quanto maior for o investimento e o barulho criado pela Volks nessa ação, maior será a percepção (sua e minha) do quão importante ele será para a própria empresa.

No evento, lá na Marquês de Sapucaí, o CEO da Volkswagen, Ciro Possobom, exibiu uma imagem aos jornalistas que cobriam o evento onde o Tera aparecia lado a lado com Fusca, Gol e Polo, içado, nas palavras do executivo, à condição de “ícone” da marca alemã antes mesmo de seu nascimento. Essa questão corrobora o raciocínio anteriormente descrito: desde o início, a Volks quer que você acredite que esse será O CARRO, não apenas mais um carro. E deverá ser mesmo. Conto o porquê a seguir.

A Volks não costuma ser ágil

Volkswagen Tera 2026
Volkswagen Tera 2026 ficará abaixo do Nivus para brigar ciom Kardian, Pulse e companhia
Imagem: Divulgação

Até aqui, OK, esse texto serviria para qualquer montadora ao ter um lançamento relevante. Onde o Tera se diferencia? Pelo simples fato de a Volks estar aparentemente fugindo de sua essência. Muitas vezes, a marca alemã demora para responder a uma demanda de mercado.

Mas quando o faz...Vamos relembrar do segmento imediatamente acima de onde o Tera se posiciona. O primeiro SUV compacto do Brasil surgiu em 2003. Era o Ford EcoSport. Ele estava muito à frente de seu tempo, tanto que os concorrentes diretos começaram a surgir só 8 anos depois, que foi o Renault Duster. O Chevrolet Tracker chegou em 2013. Antes disso, os únicos rivais do modelo da Ford eram improvisadamente os da família Adventure, da Fiat. E o VW CrossFox. 

Outros tantos suves surgiriam na metade da década seguinte: Honda HR-V, Jeep Renegade e Peugeot 2008 (2015), Nissan Kicks (2016), Hyundai Creta e Renault Captur (2017) e Citroën Cactus (2018). E nada de Volkswagen...
O T-Cross chegaria só em 2019. Mas bastou que estreasse para assumir as primeiras posições nas vendas, algo que permanece até hoje. Se você considerar ainda a presença do Nivus nesse segmento, a partir de 2020, pronto, ninguém vende mais suves compactos no país do que a Volks.

Daria para descrever outros tantos exemplos em que a marca não se importou muito em chegar depois. Ela sempre foi ponderada para realizar suas novas investidas. Isso para não dizer “lenta”, aos olhos dos mais críticos. Repare o caso das picapes intermediárias: você tem Renault Oroch, Fiat Toro, Chevrolet Montana... e nada de VW Tarok. E isso costuma ser frequente.

Com o Tera vai ser diferente

Volkswagen Tera 2026
Volkswagen Tera 2026 tem vários equipamentos encontrados em segmentos superiores
Imagem: Divulgação

Desta vez, o modelo da Volks não custou tanto a chegar. Ela não foi reativa. O VW Tera não precisará enfrentar quase uma dezena de adversários já postados no mercado, como ocorreu com T-Cross e Nivus. Os rivais diretos do Tera serão somente o Fiat Pulse, o Citroën Basalt e o Renault Kardian. Daqui a pouco chegará também o Toyota Yaris Cross

E por que estou descrevendo esse cenário? Certamente porque a Volks sabe disso muito melhor do que eu, e essa deve ter sido uma das razões para realizar um pré-lançamento tão grandioso como o que foi feito no Carnaval do Rio. 

A empresa sinaliza que “está chegando”, à frente da maioria das concorrentes, e disposta a transformar esse segmento, que é até mais importante do que o do T-Cross, visto que a expectativa de preços para o Tera reside na faixa de R$ 100 mil a R$ 150 mil.

Ele certamente será o Volkswagen mais vendido do país em um curto espaço de tempo, o que pode devolver à marca a liderança geral nas vendas e remexer totalmente nas estratégias das concorrentes.

O que ninguém pode prever é o quanto o Tera irá canibalizar as vendas do Polo, já que ele deverá se posicionar na mesma faixa de preços. E também do quanto irá extrair de vendas da dupla T-Cross/Nivus, visto que será mais barato e, na prática, vai entregar só um pouco menos de espaço interno.

Mas mais do que isso: ele deverá mesmo tirar vendas dos hatches e dos sedãs da concorrência, tendo a vantagem, aos olhos do consumidor, de ser um suve e, ainda, de ter todo o frescor da novidade.

 Faça esse exercício desde já: mostre uma foto do Tera à sua esposa, seu filho, seu amigo (...) e pergunte se ela ou ele preferirá esse carro ou um Argo, um Peugeot 208, um Onix Plus, um Hyundai HB20 e qualquer outro modelo dessa categoria... custando o mesmo preço do novo suve da Volks. Será barbada.

Volkswagen Tera 2026
Volkswagen Tera 2026 conta com jogo de luzes ao pisar no freio entre as diferenças
Imagem: Divulgação

Parece um imenso exercício de futurologia. Mas já vimos isso acontecer com outros lançamentos bombásticos como esse. O que eu prevejo para o segundo semestre deste ano, depois que o Tera chegar e o público assimilar a novidade? 

Boa parte dos hatches e dos sedãs compactos em suas versões mais caras, bem como os suves de Fiat e Renault (o da Citroën já é bem mais barato) que são concorrentes diretos, deverão ter de se acomodar com alguma queda de preços. Tão simples como isso. 

Uso o próprio exemplo da dupla T-Cross e Nivus. Eles chegaram depois de toda a concorrência e, exceção feita ao design charmoso do Nivus, não exibiam qualquer adjetivo mais destacado frente aos rivais. Mas não deram bola para a fidelização dos adversários e viraram líderes de vendas. 

Não te parece óbvio que a chance desse fenômeno se repetir com o Tera, que tem bem menos concorrentes diretos, é bem grande? Um Argo de R$ 105 mil terá maior dificuldade para ser vendido com o Tera posicionado 5 ou 10% acima. 

Gosto muito quando um carro “blockbuster” chega ao mercado nacional. Há a obviedade de celebrar a chegada de um modelo aspiracional na faixa de entrada do nosso mercado, o que sempre é bem positivo, pois vai encantar centenas de milhares de consumidores. 

E há os benefícios indiretos. E é essa mensagem que esse texto pretendia dar desde o início e o motivo pelo qual pensei em escrevê-lo, destacando o porquê de um lançamento tão importante

O Tera tende a realinhar os preços dos concorrentes, além dos modelos de sua própria família. Essa é a grande notícia. Eu, por exemplo, não sou fã direto do modelo, visto que não gosto de utilitários-esportivos. Mas prevejo a provável acomodação de preços dos hatches e dos sedãs dessa categoria. A se confirmar, isso sempre é uma ótima notícia.

 

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