Vendas diretas alavancam emplacamentos de sedans compactos em 2019
Puxados pela demanda de motoristas de aplicativos, modelos de três volumes só ficam atrás dos SUVs compactos em crescimento
O mês de abril fechou com uma marca e tanto para os sedans compactos. Foram mais de 36 mil emplacamentos no mês, confirmando uma tendência notada desde março do ano passado quando esse tipo de veículo pulou de um patamar de pouco mais de 20 mil carros para beirar os 40 mil unidades por mês.
Mas, afinal, o que está acontecendo? O brasileiro de repente percebeu que os sedans pequenos são irresistíveis? Nada disso. Embora tenhamos sim bons lançamentos no segmento como o Yaris, Virtus e o Cronos, não se trata de uma febre semelhante a dos SUVs compactos e sim reflexo do crescimento das vendas diretas de veículos.
Modalidade em que os automóveis são emplacados em nome de empresas, taxistas ou de clientes PCD, por exemplo, essa venda ocorre com enormes descontos. Frotistas e locadoras acabam pagando valores mais baixos que o praticado no varejo e muitas marcas entram na jogada para desovar estoques.
O que explicaria uma demanda maior pelos sedans seriam os motoristas de aplicativos que precisam desse tipo de veículo graças ao porta-malas maior. Locadoras então acabam oferecendo esses modelos para um cliente que precisa gerar caixa, reflexo do desemprego em níveis elevados.
Esse fenômeno já tornou o segmento de sedans compactos o segundo que mais cresce em 2019. Foram quase 19% de aumento nos primeiros quatro meses deste ano, só atrás dos 21% obtidos pelos utilitários compactos – não por acaso puxados por uma boa parcela de vendas diretas também.
Maioria das vendas no atacado
A distorção que essas vendas causam nos números é enorme. Vejam que o Ka sedan, modelo de emplacamentos modestos, foi nada menos que o 3º modelo mais vendido no atacado, com 4,2 mil unidades, só atrás dos “campeões da liquidação”, o Onix (9,4 mil unidades) e Gol (5,1 mil). Na cola dele vieram o Prisma (3,4 mil), Voyage (2,6 mil), Logan (2 mil) e Yaris Sedan (1,5 mil).
Mas o sedan da Ford não foi o carro que mais dependeu das vendas diretas para desovar os estoques. À frente do Ka estão o Voyage (88% dos emplacamentos no atacado), Logan (87%) e Cobalt (82%) contra 75% do Ford. No geral, a categoria dos sedans compactos emplaca mais na venda direta (55%) que para o consumidor final.
Na prática, essa demanda acaba sendo artificial, causando uma possível saturação no mercado de usados que se reflete em desvalorização mais alta e na outra ponta redução nas vendas de carros zero km. Ou seja, para as montadoras é um ciclo vicioso: perde-se na venda por se praticar descontos maiores que vão pesar mais ainda em futuras negociações.
Em outras palavras, está um crescimento de vendas que talvez não seja recomendável comemorar.
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