Vendas da Ford podem desabar cerca de 85% no Brasil, mas lucro será maior
Com nova estratégia, marca pode perder mais de cinco posições em participação de mercado
Como em qualquer empresa, a questão da rentabilidade nas operações e da margem de lucro são métricas importantes na hora de avaliar a saúde do negócio em si e realizar algumas decisões estratégicas. Certamente esses dois pontos tiveram uma enorme relevância na opção da Ford por fechar suas fábricas no Brasil. Mas como ficará o posicionamento de mercado da empresa daqui para frente no Brasil?
As perspectivas para os negócios da companhia por aqui, de certa forma, são complementares. Se, por um lado, a participação de mercado deverá passar por uma queda abrupta, a rentabilidade das operações no Brasil será potencializada pelo fato da marca apostar em veículos bem mais caros.
Ao longo de 2021, a Ford já tem confirmada para o Brasil a estreia da família Bronco, da Ranger Black (nova opção da picape com acabamento “todo preto”) e a variante de alto desempenho Mach 1 para o Mustang. Estamos falando de modelos que ultrapassam, com folga, os R$ 150 mil.
“Se você olhar para os números de 2020, cerca de 85% do que a Ford vendeu no Brasil ficou por conta dos volumes de EcoSport e Ka. Creio que a participação de mercado da marca deverá cair na mesma relação neste ano”, analisou Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, em entrevista ao Autoo. De acordo com o especialista, outros 13% dos emplacamentos da marca ficaram por conta da Ranger, com o restante distribuído entre Mustang, Edge e as últimas unidades do Fusion que foram comercializadas no Brasil.
Em 2020, a Ford conquistou o 5º lugar entre as marcas mais vendidas no Brasil somando automóveis de passeio e comerciais leves. Com uma participação de 7,14% no ano passado, se levarmos em consideração uma queda de 85% sobre esse total, a Ford pode responder por apenas 1% do mercado brasileiro neste ano, claro que ainda sem ponderarmos como será o desempenho e a procura por sua nova linha de importados.
Apenas como comparação, a CAOA Chery encerrou 2020 com 1,03% de participação de mercado, figurando na 11ª posição do ranking geral. É provável, portanto, que a Ford ocupe um posto semelhante neste ano, mas quem sabe ainda na frente de marcas como Peugeot (0,69%), Citroën (0,69%) e Mitsubishi (0,89%).
Talvez futuros modelos, como a nova geração da van Transit, que vai retomar a atuação da Ford entre os veículos comerciais, assim como a futura picape compacta-média Maverick possam aprimorar os números de venda da marca no país. A picape em questão, uma rival em porte e faixa de preço para a Fiat Toro, não deverá chegar por aqui antes de 2022.
A nova geração da Ranger, por sua vez, terá o início de sua produção na Argentina e o lançamento no Brasil somente em 2023, portanto a Ford ficará um bom tempo sem modelos que poderiam tornar seu nível de emplacamentos mais robusto.
Outro ponto é que, sem seus veículos de maior volume, muitos concessionários talvez repensem seu vínculo com a Ford, deixando de representar a montadora por aqui e tornando sua rede brasileira consideravelmente menor.
Como abordamos, mesmo que os projetos de Ka e EcoSport ganhem sucessores no exterior, dificilmente eles voltariam a ser comercializados aqui como veículos importados, até por conta da baixa competitividade comercial que eles teriam em seus respectivos segmentos.
A decisão da Ford de encerrar suas atividades de manufatura no país certamente vai abalar a imagem da empresa junto ao público consumidor. Pesando tudo isso, resta saber se o novo posicionamento da companhia no Brasil será suficiente para atender seus anseios em termos de negócios por aqui. Ao menos financeiramente, com uma operação bem mais enxuta e lucrativa, os números deverão se tornar mais favoráveis.