Teste: Renault Kwid Intense
Principal lançamento da Renault para 2017, modelo mira em quem procura um carro acessível
Custo, preço, economia... durante a apresentação do Renault Kwid para a imprensa especializada essas eram algumas palavras que ditavam o tom da fala dos executivos e representam bem as características que permeiam o projeto deste subcompacto. Vale destacar que o Kwid inaugura no Brasil a nova plataforma modular da aliança Renault-Nissan para carros compactos, a CMFA, desenvolvida para proporcionar aos modelos aos quais suporta características como o baixo peso e ganhos na eficiência energética.
Por falar em peso, seguramente esse é um dos pontos fortes do Renault Kwid. Em sua versão de entrada Life, que dispensa a direção elétrica e o ar-condicionado, o Kwid registra apenas 758 kg, fazendo dele o carro mais leve produzido no Brasil. Na opção topo de linha Intense, como a avaliada aqui por nós, o peso sobe para 786 kg, mesmo assim um número excelente.
Além da parte estrutural, o segredo para o Kwid ser assim tão esbelto reside também no motor e no câmbio. Sob o capô nos encontramos o propulsor 1.0 SCe, da mesma família presente no Renault Sandero, porém em uma configuração chamada de "low spec" pelos engenheiros da Renault. Com isso, ele perde requintes como o comando de válvulas variável, a bomba de óleo variável, dentre outras soluções. Por esse motivo, o 1.0 SCe no Kwid entrega até 70 cv com etanol contra 82 cv quando montado na configuração “high spec” para o Sandero, porém a "simplificação" do 1.0 SCe no Kwid o torna 6 kg mais leve.
Outro segredo do Kwid é que seu câmbio manual de 5 marchas é diferente dos demais modelos produzidos pela Renault no Brasil e foi desenvolvido especialmente para o subcompacto e os demais modelos que vão derivar da plataforma CMFA no mundo. Segundo nos explicou Antonio Fleischmann, engenheiro responsável pela área de projetos da Renault na América Latina, a caixa manual do Kwid consegue notáveis 30 kg de redução no peso em relação às transmissões mecânicas usadas em outros modelos da marca por aqui.
Graças a tudo isso, o Renault Kwid consegue uma vantajosa relação peso/potência de 11,2 kg/cv na versão Intense, ou 10,8 kg/cv no Kwid Life, o que permite ao subcompacto acelerar de 0 a 100 km/h em 14,7 segundos com etanol segundo testes da Renault. É um resultado dentro do que os concorrentes entregam, sem surpreender, mas dando conta do recado para você rodar sozinho ou com duas pessoas na cidade. Mas a meta da Renault para o Kwid foi que esse corpo magro ajudasse muito mais a economizar combustível do que andar rápido, e isso o Kwid cumpre muito bem.
O Renault Kwid torna-se o segundo carro não eletrificado (híbrido) mais econômico do Brasil, empatando com o Peugeot 208 1.2 em termos de consumo energético com 1,39 MJ/km. O Kwid atinge consumo médio urbano de 14,9 km/l com gasolina, enquanto o Peugeot 208 1.2 fica em 14,8 km/l com o mesmo combustível. Na estrada e também com gasolina, o Renault Kwid percorre 15,6 km/l em qualquer versão. O 208, por sua vez, alcança parcial de 15,8 km/l nesse cenário. Considerando o uso de etanol, as médias de consumo do Kwid ficam em 10,3 km/l na cidade e 10,8 km/l na estrada.
Aproveitando que estamos falando sobre consumo, a Renault conseguiu inscrever o Kwid no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular como um Utilitário Esportivo Compacto alegando que, para isso, o modelo atende a legislação brasileira para ser classificado como tal. Isso ocorre graças a seus ângulos de entrada (24º) e saída (40º), bem como a altura livre em relação ao solo de 18 cm. Quer você queira ou não embarcar na onda Renault de classificar o Kwid como um SUV compacto, é claro que em posicionamento de preço e porte, o Kwid vai mesmo disputar mercado com Fiat Mobi e Volkswagen up!, apenas para apontar seus concorrentes mais diretos.
Coerente com o que encontramos entre os subcompactos, o Kwid conta com 3,68 m de comprimento, 1,57 m de largura e 1,47 m de altura. Um Fiat Mobi ostenta uma carroceria de 3,56 m, 1,63 m e 1,49 m, respectivamente, ao passo que um VW up! fica em 3,68 m, 1,64 m e 1,50 m. É inegável que a carroceria mais destante do chão confere um certo aspecto de maior robustez ao Kwid e deverá agradar os brasileiros, mas o que surpreende no Renault é o porta-malas para ótimos 290 litros, superando, com muita folga, os escassos 235 litros do Fiat e bem próximo aos 285 litros do up!.
Ao todo o Renault Kwid terá seis opções de cores (Orange Ocre, Branco Marfim, Vermelho Fogo, Branco Neige, Prata Étoile e Preto Nacré) e em nenhuma versão você encontrará rodas de liga leve em função do custo mais elevado desse equipamento. A combinação das calotas, contudo, criam um bom efeito visual e uma das marcas do baixo custo é vista até mesmo nos três parafusos de fixação por roda.
Na hora de dirigir, uma benesse da boa altura em relação ao solo do Kwid está na facilidade para trafegar por vias cheias de buracos ou passar por lombadas e valetas dos mais variados tipos, tudo isso quase sempre em péssimo estádo de conservação. Até pelo porte compacto, a carroceria mais distante do chão não afeta a dirigibilidade do Kwid, que se mantém neutra e estável, com pouca oscilação lateral. Os pneus 165/70 chamam a atenção por sua aparência bem estreita, mas, concebidos para ajudar na redução do atrito e melhorar o consumo, também não sacrificam o bom contato do hatch ao solo.
Graças a assistência elétrica, a direção mostra-se uma aliada para as manobras de estacionamento e o bom diâmetro de giro de 10 m confirmam a vocação urbana do Kwid. Um detalhe um tanto quanto negativo que notamos no Renault foi o posicionamento dos pedais: a embreagem nos pareceu alta e o curso do pedal poderia ser um pouco mais amplo; o freio, por sua vez, é baixo demais. Talvez conferir uma atuação mais progressiva ao pedal central cairia bem ao subcompacto.
No interior, o Kwid não nega que é um projeto pensado para custar o menos possível. Na versão topo de linha Intense ao menos você até que é surpreendido positivamente com detalhes como o plástico preto brilhante, o famoso black piano, no centro do painel. Pelo menos por enquanto, a versão Intense como a avaliada aqui é oferecida somente com o Pack Connect, o que resulta no preço tabelado de R$ 39.990. Nesse pacote, além da central multimídia com navegador e câmera de ré, o revestimento dos bancos é muito interessante e mescla material sintético e tecido. O Kwid avaliado aqui, por sinal, mostra-se uma configuração interessante para o modelo e não por acaso a Renault destaca que ela deve responder por 40% do mix de vendas, seguindo de perto a intermediária e mais racional Zen com outros 50%.
Apesar dos comandos dos vidros elétricos posicionados no console central, algo que não agrada algumas pessoas, a ergonomia do Kwid foi muito bem trabalhada e você acessa os comandos do ar-condicionado, sistema de som/central multimídia e trio elétrico de uma forma rápida e prática. O Kwid Intense ainda tem a vantagem de contar com a abertura remota do tanque de combustível e para o porta-malas.
Assim como no up! e no Mobi, você sente logo ao se acomodar do Kwid em companhia de outra pessoa que a carroceria do modelo é bem estreita, logo é bom você gostar muito de quem vai ocupar o banco do passageiro ao seu lado...
Brincadeiras à parte, a sensação de espaço interno dentro do Kwid assemelha-se mais com a do up! do que com a notada no Mobi, o que sem dúvida é um bom sinal para o Renault. Tudo isso combinado com o bom porta-malas, o maior da categoria, o Kwid até pode ser uma opção de baixo custo para as famílias.
Pensando nisso a Renault equipou o modelo com fixação de cadeirinhas Isofix no banco traseiro e os quatro airbags presentes no modelo como item de série desde a versão de entrada colaboram para a segurança dos passageiros. Apesar dos resultados pouco favoráveis do Kwid indiano em testes de colisão realizados no exterior, a Renault se diz “confiante” na integridade estrutural do Kwid brasileiro. A marca fez questão de destacar que a carroceria do Kwid nacional conta com 30% de aço reforçado e 35 crash-tests foram realizados no carro fabricado no Paraná.
Além do baixo custo de aquisição e do consumo frugal, a Renault tomou um cuidado importante com o pós-vendas do Kwid. Quem optar pelo financiamento com a fabricante, por exemplo, vai ser beneficiado com as três primeiras revisões grátis. As inspeções obrigatórias somam R$ 2.215 até 60.000 km para a versão Life ou R$ 2.449 para as configurações Zen e Intense, preços competitivos dentro do segmento.
Em resumo, o Renault Kwid desponta como uma excelente opção para quem quer um carro urbano e prático, sem gastar muito e barato de manter. A versão mais interessante para ele em termos de custo-benefício sem dúvida nenhuma é a intermediária Zen, que, por R$ 35.390, sai de fábrica com os desejáveis ar-condicionado, direção elétrica, 4 airbags, travas e vidros elétricos e rádio com Bluetooth e entradas USB e auxiliar. A opção de entrada Life mostra-se apenas um chamariz graças ao preço de R$ 29.990, ficando abaixo da “barreira psicológica” dos R$ 30.000, porém sem ar-condicionado e direção assistida dificilmente terá sucesso com o consumidor comum, devendo ser a escolha de frotistas ou empresas que procuram um carro de serviço barato. Quem cogita adquirir o Kwid Life é bom ter em mente que no futuro poderá ter problemas de liquidez e maior desvalorização.
A versão topo de linha Intense não deixa de ser interessante e sai de fábrica com um bom conjunto. Apesar de bem completa, com destaque para a central multimídia com navegador e câmera de ré além dos bancos com bom padrão de revestimento, o preço de R$ 39.990 já esbarra o Renault com modelos superiores em porte e espaço interno, como o Chevrolet Onix Joy e o Ford Ka. Ambos são facilmente encontrados nas concessionárias com promoções na casa de R$ 40.000. A central multimídia presente no Kwid também carece de integração aos sistemas Android Auto e Apple CarPlay, afinal hoje poucos consumidores trocam aplicativos de navegação como o Waze ou Google Maps pelo GPS integrado. Além disso, a praticidade que os sistemas oferecem para a integração com smartphones torna a vida a bordo do carro bem mais prática. Seguramente a Renault já deve estar trabalhando em uma nova central multimídia que contemple os dois sistemas operacionais.
Logo, se você procura uma carro até R$ 40.000 o Renault Kwid torna-se, no momento, a melhor escolha. Se você está com o orçamento mais folgado, pode ir além desse teto, mas não quer abrir de uma carroceria compacta, aí o investimento em um Volkswagen move up! TSI (R$ 53.990) torna-se uma escolha mais interessante.
Ficha técnica
Renault Kwid 2018 Intense 1.0 12V flex manual 4p | |
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Preço | R$ 39.990 (10/2017) |
Categoria | Aventureiro compacto |
Vendas acumuladas neste ano | 49.476 unidades |
Motor | 3 cilindros, 999 cm³ |
Potência | 66 cv a 5500 rpm (gasolina) |
Torque | 9,4 kgfm a 4250 rpm |
Dimensões | Comprimento 3,68 m, largura 1,579 m, altura 1,474 m, entreeixos 2,423 m |
Peso em ordem de marcha | 786 kg |
Tanque de combustível | 38 litros |
Porta-malas | 290 litros |