Teste: Hyundai Creta Sport 2019
Versão com inspiração esportiva do SUV fica devendo justamente a esportividade
A indústria automobilística, assim como outros setores, geralmente cai na tentação de contar histórias da carochinha para os consumidores na tentativa de colar uma imagem positiva aos seus produtos. A própria existência dos atuais utilitários esportivos é uma dessas peças de marketing exagerado.
Por definição o que significa um “utilitário esportivo”, popularmente chamado de SUV (sigla em inglês)? Um veículo de trabalho mas que possui alguma função de lazer. Faz sentido quando você tem de um lado uma picape como a Hilux ou S10, usadas na maior parte do tempo como veículos de transporte de material, e que deram origem a versões “fechadas” como a SW4 e a Blazer (hoje Trailblazer).
A rigor tratam-se de veículos irmãos que utilizam parte de suas características em comum. Mas o que se pode dizer dos SUVs compactos como o HR-V, Kicks ou Creta? Quando eles se mostraram “utilitários” em sua carreira bem sucedida?
Claro que nunca, afinal são carros urbanos como um Fit, Versa ou HB20, mas que ganharam aparência de “jipinhos”. Portanto a alcunha de “SUV” não seria merecida se fossemos ler ao pé da letra suas funções. E o que dizer então de um “SUV” esportivo?
Pois é essa a proposta da Hyundai com o Creta Sport. A versão foi lançada no ano passado e é uma alternativa um pouco mais em conta ao Creta Prestige, até então o único a contar com o motor 2.0 16V de 167 de potência (etanol).
Com alguns apêndices ditos esportivos como spoiler, antena “tubarão”, grade hexagonal e outros detalhes na cor preta, o modelo brincou um pouco com um estilo mais jovem que as demais versões originais, o que é perfeitamente esperado.
Mas e quanto à definição “utilitário esportivo ‘esportivo’”? Apesar de soar redundante, de fato hoje temos alguns carros que tendem a ressaltar a esportividade em detrimento do aspecto off-road, só que eles estão basicamente no segmento de luxo.
Modelos como o Jaguar E-Pace ou o Porsche Cayman conseguem ser esportivos mesmo com altura solo elevada e carroceria volumosa embora também não tenham praticamente nenhuma vocação utilitária. Já o Creta Sport não passa de um automóvel comum com adereços mais esportivos. E só.
Óbvio que ninguém esperava que a Hyundai fosse investir em transformar o veículo num bólido de corrida, mas nada a impede de criar uma versão com um comportamento mais instigante e assim justificar o sobrenome “Sport”.
O que se vê ao dirigir a versão é que o Creta está longe de divertir ao volante. Com um escalonamento de marchas focado em privilegiar a economia, ele realiza trocas cedo demais para evitar que o giro do motor suba muito. Já o motor, embora potente, acaba sendo pouco aproveitado nesse sentido, o que, por outro lado, faria o Hyundai ser mais beberrão do que já é.
A suspensão, que não filtra bem as imperfeições do piso, inclinava mais do que o desejado em curvas até a linha 2018. Em suma, muito longe de qualquer comportamento esportivo.
Menos segurança
A ideia da Hyundai de ter um Creta 2.0 intermediário faz sentido. Enquanto o Prestige custava em novembro R$ 103.990 a versão Pulse 1.6 saía por R$ 91.890. Nesse miolo existe ainda o Creta Attitude 1.6 mas que na versão automática é exclusiva para o público PCD.
Ou seja, existe aí espaço para mais uma versão, o problema é que o Creta Sport, com seu preço de R$ 97.890, perde itens como keyless e quatro airbags em relação ao Prestige, este último item algo incômodo em pensar em ter menos segurança a bordo. De resto, ele traz conteúdo equivalente ao Prestige como ar-condicionado digital, central BlueNav de 7 polegadas, câmera de ré, sistema Start&Stop, iluminação em curva, faróis de neblina e DRL, além de bancos de couro personalizados.
No entanto, a Hyundai poderia enfatizar o lado esportivo com pequenos detalhes como paddle-shifts (borboletas), que facilitariam as trocas de marchas manuais – a alavanca possui opção sequencial mas que tem acionamento lento e não dá liberdade ao motorista na seleção de marchas.
Ao menos um dos aspectos foi melhorado na linha 2019, a suspensão, que passou a ter um ajuste mais firme. Por outro lado, o motor 2.0 é um impeditivo para qualquer alteração em favor da esportividade.
Embora o Inmetro divulgue que ele é capaz de rodar 10 km com um litro de gasolina na cidade nós não conseguimos chegar nem perto disso, mesmo mesclando alguns trechos de estrada – o consumo rondou os 7 a 8 km por litro com o Star&Stop ligado a todo momento.
Talvez o público já tenha notado que o Creta Sport soe mais como um engodo do que uma versão interessante, apesar do apelo visual. Sua participação nas vendas do Hyundai é pequena e tem caído nos últimos meses. De maio a setembro, ele respondeu por apenas 7,7% dos emplacamentos do Creta, mas no mês retrasado foram somente 4,3% dos clientes que quiseram levar a versão dita esportiva.
Pelo jeito, a Hyundai vai precisar de algo mais além do nome “Sport” para fazer dele um produto viável.
Ficha técnica
Hyundai Creta 2019 Sport 2.0 16V flex automático 4p | |
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Preço | R$ 97.890 (11/2018) |
Categoria | SUV compacto |
Vendas acumuladas neste ano | 47.760 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1999 cm³ |
Potência | 156 cv a 6200 rpm (gasolina) |
Torque | 19,1 kgfm a 4700 rpm |
Dimensões | Comprimento 4,27 m, largura 1,78 m, altura 1,635 m, entreeixos 2,59 m |
Peso em ordem de marcha | 1399 kg |
Tanque de combustível | 55 litros |
Porta-malas | 431 litros |