Teste: Fiat Argo Precision 1.8 automático
Avaliamos o novo hatch da Fiat que chega para destacar a marca no segmento
Finalmente chegou a hora de colocar as mãos no Fiat Argo e acelerar! Mas antes é bom nos inteirarmos um pouco mais sobre esse projeto, a principal atração da montadora italiana para 2017 e sua grande aposta para retomar presença em um segmento onde costumava ser a referência do mercado.
Em primeiro lugar, o Argo (confira todos os preços da novidade) nasce sintonizado com as novas demandas dos consumidores de hatches compactos, até hoje a principal categoria em vendas no Brasil. E o que esse público quer? Seja no Argo ou em modelos como a nova geração do Volkswagen Polo e o Toyota Yaris, que chegará ao Brasil em 2018, alguns traços em comum denotam essas desejos. Em todos eles você encontrará bom espaço interno, adequado para 4 adultos com conforto. Nessa nova leva de hatches compactos, o porta-malas deverá ter no mínimo 300 litros de capacidade (algo que já encontramos no Hyundai HB20) e recursos de conectividade, com ênfase em uma boa central multimídia, serão praticamente obrigatórios daqui para a frente.
Isso tudo transparece a parte subjetiva do que se tornará relevante no segmento dentro de alguns meses, mas uma pesquisa da Fiat que balizou o desenvolvimento do Argo também nos traz alguns elementos objetivos sobre o que passa no coração e na mente de quem vai adquirir um hatch compacto em breve. Segundo a apuração da fabricante, o que mais pesa hoje na escolha de um modelo dentro da categoria é o fato dele possuir um motor econômico, tópico que mostrou-se relevante para 38% dos entrevistados. Em segundo lugar está o preço, com 28% de relevância. O design, que outrora já liderou esse tipo de questionamento com os consumidores, hoje ocupa a terceira posição com 27% de importância para os consumidores. Logo, não basta ser apenas um rostinho bonito para fazer sucesso entre os brasileiros.
Agrupando tudo isso, coube às equipes de engenharia, design, marketing e tantos outros departamentos da montadora colocarem a mão na massa para desenvolver um projeto campeão, que desse condições para a Fiat de recuperar terreno no mercado. Não custa lembrar que, exceto pelo subcompacto Mobi, que atua em uma segmentação de mercado bem peculiar, há um bom tempo a Fiat não contava com um hatch realmente competitivo.
Se a receita utilizada na picape Toro surpreendeu a todos devido à enorme aceitação do modelo desde o lançamento, todos ficaram ansiosos para descobrir o que a montadora poderia entregar com o Argo.
E por falar na Toro, a mesma equipe que cuidou do visual da picape ficou responsável por esculpir a carroceria do Argo. É nítido como alguns traços presentes no hatch conversam com a picape, sobretudo as dobras bem pronunciadas nas laterais do hatch. Visto de frente, qualquer semelhança com o Mobi não é mera coincidência. Alguns leitores aqui no AUTOO chegaram a brincar na época em que as primeiras imagens do Argo foram divulgadas de que tratava-se de um “Mobão” e, quando chegamos perto do modelo, essa sensação se confirma. De qualquer forma, o resultado agrada e o aspecto musculoso do Argo desencadeia uma sensação de que ele pertence a um segmento superior. É, sem dúvida nenhuma, um carro de presença.
Outro ponto destacado por alguns leitores e que também concordo diz respeito ao visual da traseira. Observado de longe, você até confunde o Argo com um Hyundai HB20 ou até mesmo o médio i30. Na tampa do porta-malas também estão presentes formas bem esculpidas e as lanternas, assim como os faróis, avançam sem medo pelas laterais para criar um efeito de maior largura para o modelo. Nas lanternas, os traços da boa qualidade construtiva e cuidado com o projeto são vistos nos relevos e depressões da peça, que criam um “efeito 3D” no conjunto.
Mas o melhor do Argo reside na sua estrutura como um todo. Provando que a parceria entre a Fiat e a Chrysler deu muito certo, tanto comercialmente quando do ponto de vista do desenvolvimento de novos produtos, a fabricante italiana conseguiu entregar um nível de refinamento ímpar em tudo o que envolve a parte técnica do Argo. Foi-se a época em que, para nacionalizar um carro, a Fiat mesclava plataformas antigas. O Argo é construído sob a nova plataforma MP1 da FCA, que contempla grande parte (55%) do uso de aço de alta resistência, sendo outros 10% de aço de ultra resistência e mais 10% da carroceria preparada com o sistema de hot stamping, que colabora não só com a segurança do Argo, mas melhora, em muito, sua rigidez torcional e respostas dinâmicas.
Ao primeiro contato com o Argo, em nosso caso com a versão Precision 1.8 automática, nos surpreendeu a qualidade do seu comportamento. A direção conta com assistência elétrica e traz o “peso” ideal para o volante, não sendo cansativo para manobras na cidade e nem anestesiado na hora de aproveitar uma boa estrada com curvas. O tempo de resposta para os comandos quase nos faz achar que estamos em um carro de uma marca alemã: ligeiramente mais rápido do que os rivais do segmento, a direção traz uma leve pitada esportiva, a dose exata que faz bem para qualquer automóvel. Até mesmo o pedal do freio trabalha com uma precisão muito boa, sendo mais sensível do que estávamos acostumados a encontrar em um Fiat.
Dando continuidade ao ótimo trabalho da direção e dos freios, a suspensão é, de longe, a melhor que podemos encontrar na categoria atualmente. Ela não tem nenhum segredo, seguindo o layout McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, mas ao menos conta com alguns refinamentos como a barra estabilizadora para as rodas da frente. Assim como a direção, fica fácil entender quando dirigimos o Argo porque uma marca geralmente roda na casa dos milhões de quilômetros para desenvolver um carro. O acerto dos elementos elásticos usados no Argo é impecável e, em vias sinuosas, a dianteira se destaca pela extrema competência em que se mantém na trajetória desejada pelo motorista. O mesmo podemos dizer do conforto no rodar, que é tão bom quanto a capacidade dinâmica da suspensão. Buracos e problemas da via são filtrados ao máximo pelo conjunto de molas e amortecedores. O Argo avaliado estava equipado com as rodas de liga leve aro 16” opcionais, que poderiam sacrificar parte do conforto, mas não foi o que notamos em nossos deslocamentos com o Fiat.
Como precisa lidar com bem menos peso do que no Jeep Renegade e na Fiat Toro, o motor 1.8 16V E.torQ EVO casa muito bem com a boa capacidade dinâmica do Argo. Com até 139 cv e 19,3 kgfm usando etanol, o propulsor 1.8 E.torQ ganha o sobrenome VIS quando aplicado no hatch. A sigla, do inglês Variable Intake System, refere-se ao coletor de ar com admissão variável. Até 4.000 giros, o ar que vai para os cilindros passa por um caminho mais longo, favorecendo o torque. Acima dessa rotação, uma aleta é acionada e faz o ar percorrer um trajeto mais curto, gerando mais potência.
Nessa busca pela eficiência, a adoção do start-stop em todas as versões do Argo fez muito bem ao modelo. Na versão Precision automática testada aqui, o Argo registra parciais de 10,1 km/l na cidade e 13,2 km/l na estrada, ambas com gasolina. Com esses números, o Argo Precision automático chega a ser até mais econômico que o Hyundai HB20 automático, que também conta com transmissão de 6 marchas. Com é de se esperar, o desempenho é muito bom a bordo do Argo 1.8. De acordo com dados da Fiat que nos pareceram bem fiéis à realidade, o Argo 1.8 automático vai de 0 a 100 km/h em 10,4 segundos e pode atingir 191 km/h de velocidade máxima, nas duas medições considerando o uso de etanol.
O funcionamento do propulsor é bem linear e silencioso. A caixa automática mesmo não contando com a rapidez de uma transmissão de dupla embreagem trabalha em sintonia com o motor, realizando reduções ou avançando marchas nos momentos corretos. É nítido como em todos os trabalhos que envolveram calibração (motor, câmbio, freios, suspensão, etc.) o Argo parece ter sido tratado com muito carinho.
Se na parte mecânica, estrutural e no projeto o Fiat Argo agrada, o mesmo vale para o interior. Aqui é um traço em que nitidamente notamos uma mescla dos italianos trabalhando a forma das peças e dos norte-americanos selecionando a qualidade dos materiais (plásticos e tecidos) usados no interior. Uma característica muito boa do Argo que foi herdada do Punto é a excelente ergonomia. Até mesmo a boa empunhadura do volante do Punto está lá replicada no Argo. As demais teclas e botões seguem o (bom) padrão visto nos modelos nacionais da Jeep e na Fiat Toro. Esse salto no acabamento promovido pela Chrysler dentro da linha Fiat foi muito salutar para a marca italiana. A única das poucas críticas em relação ao Argo destinam-se para o espaço traseiro. Os passageiros mais altos vão facilmente raspar a cabeça no teto, algo que não deveria ocorrer um carro tão moderno como o Argo. A área para as pernas é boa, mas não espere colocar mais do que dois adultos ou, no máximo, dois adultos e uma criança no banco traseiro do Fiat. O modelo, de qualquer forma, traz o prático e seguro sistema Isofix para fixação de cadeirinhas de bebê.
O Argo Precision conta com um bom pacote de opcionais, com destaque para o “Kit Stile”, que acrescenta ao modelo o revestimento interno de couro e as rodas aro 16” já citadas por mais R$ 2.200. O “Kit Tech” melhora o bem-estar a bordo com ar-condicionado digital, chave presencial com partida por botão, quadro de instrumentos com tela personalizável de 7”, sensor de chuva, acendimento automático dos faróis e retrovisor interno eletrocrômico tudo isso por R$ 3.500. Pensando na segurança, você pode acrescentar os airbags laterais por R$ 2.500 e o “Kit Parking” (sensor de estacionamento com display gráfico no painel e câmera de ré por R$ 1.200). Completão, o Argo Precision automático atinge R$ 77.200.
Considerando o preço do Argo Precision automático básico por R$ 67.800, não é exagero dizer que ele tem um custo-benefício favorável considerando que dentro do segmento só nele você vai encontrar um hatch com essa transmissão oferecendo os controles de estabilidade e tração, além do start-stop. Levando em conta que um Hyundai HB20 1.6 Premium com todos os opcionais atinge R$ 67.720, certamente o interessado em comprar o modelo da marca sul-coreana se sentirá tentado à migrar para o Fiat. O Ford New Fiesta é um rival mais condizente com o Argo Precision, já que, no limite dos R$ 70.000 o Ford em sua versão Titanium 1.6 traz o ESP e o controle de tração e até mesmo bancos de couro de série. Contudo, os problemas envolvendo o câmbio de dupla embreagem presente no Fiesta não colaboram para a imagem do hatch.
Neste primeiro teste a bordo do Fiat Argo a sensação que ficou para nós é clara: além de apresentar todas as características que encontraremos na próxima geração dos hatches compactos acima de 1.0 l, o Argo é um modelo que se destaca por uma boa lista de qualidades. Ele oferece bom nível de segurança ativa e passiva, é econômico e eficiente, agradável de dirigir e conta com um patamar elevado (em relação ao segmento) de acabamento e opcionais. Sem dúvida nenhuma tem vários predicados que o tornam uma boa opção para sua garagem, mas vale a pena você considerar também a compra de um VW Polo Highline.
Ficha técnica
Fiat Argo 2018 Precision AT6 1.8 16V flex automático 4p | |
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Preço | R$ 68.290 (10/2019) |
Categoria | Hatch compacto |
Vendas acumuladas neste ano | 65.943 unidades |
Motor | 4 cilindros, 1747 cm³ |
Potência | 135 cv a 5750 rpm (gasolina) |
Torque | 18,8 kgfm a 3750 rpm |
Dimensões | Comprimento 3,998 m, largura 1,724 m, altura 1,507 m, entreeixos 2,521 m |
Peso em ordem de marcha | 1264 kg |
Tanque de combustível | 48 litros |
Porta-malas | 300 litros |