Teste: Ford Mustang Mach 1

O Ford Mustang é um dos ícones mundiais da indústria automotiva. Presente em filmes, séries, comerciais e no sonho distante de muitos amantes de carros. E predicados para isso ele tem: é um muscle car, tem motor V8, muita potência, uma sinfonia debaixo do capô e tudo isso é envelopado no lindo formato de cupê.

Mas hoje não vamos falar de um Mustang qualquer, pois o Mach 1 é simplesmente uma das versões produzidas em série mais potentes da história do modelo.

Você já viu essa notícia aqui no AUTOO em abril, quando a Ford iniciou a pré-venda da primeira centena de unidades no Brasil.

À época, o Mach 1 custava R$ 499.000. Agora, dois meses depois e já se preparando para receber mais um lote do esportivo, a Ford passa a cobrar R$ 523.950 pelo modelo.

Uma lenda

O Mach 1 foi inicialmente apresentado em 1968 e lançado oficialmente em 1969 como um pacote de performance. Ou seja, já naquela época o Mach 1 era o suprassumo de tudo que de melhor havia para o Mustang.

E não é diferente nesta unidade de 2021, quarta geração que chega em versão única e com produção limitada. Tão limitada que a Ford indica no painel, por meio de uma placa, a inscrição com o número do Chassi. O Mach 1 testado pelo AUTOO foi o M0021. Haja exclusividade!

O aprimoramento técnico é o que deixa esse carro ainda mais invocado. Entretanto, o design desta versão não passa despercebido. Além do novo spoiler dianteiro, o Mustang Mach 1 vem com diversos artifícios de design que remetem à primeira geração do modelo.

Um deles é um contorno plástico que faz referência ao farol alto, incorporado à grade, do modelo de 1969. O novo Mach 1 só utiliza faróis de LED e o contorno plástico do “farol alto” nem sequer traz luzes de posição, mas valeu a tentativa da Ford. Alguns chegam a confundir com uma entrada de ar para o radiador, mas não é.

O capô tem duas entradas de ar para que o V8 possa aspirar a maior quantidade de ar possível e o adesivo com três cores (laranja, preto e cinza) dá o toque “vintage” para que não nos esqueçamos que estamos diante de um modelo com 57 anos de história.

O Mach 1 tem 4,79 metros de comprimento, 2,72 m de distância entre-eixos, 1,40 m de altura e 1,91 m de largura. O peso é de 1.814 kg, mas isso parece não fazer muita diferença na hora de afundar o pé no acelerador — e mais para baixo eu te conto o motivo.

Na traseira saltam aos olhos as duplas saídas de escape nas extremidades do para-choque — ao todo são quatro ponteiras — e o difusor mais avantajado, dois itens que o Mach 1 herdou do Mustang Shelby GT500. Outros equipamentos da traseira, que também pertencem ao GT500, são o conjunto de suspensão traseira e o sistema de arrefecimento do diferencial traseiro.

O porta-malas suporta até 482 litros de bagagem, bem maior que os 208 litros do Chevrolet Camaro. Na tampa do bagageiro existe um pequeno aerofólio.

O Mustang mais potente

Além dos itens já mencionados na parte de trás do carro, o Mach 1 pegou o coletor de admissão, o corpo de borboletas maior e o sistema de arrefecimento do motor e o radiador da transmissão do Shelby GT 350. Assim, ele tem tudo de melhor para não ter falhas técnicas ao ser levado ao limite em um track day, por exemplo.

Com todas essas novidades, o motor Coyote 5.0 V8 ganhou 17 cv (quando comparado com o Mustang GT tradicional), totalizando 483 cv a 7.250 rpm. Já o torque é de estonteantes 56,6 kgfm a 4.900 rpm. 

O câmbio é automático de 10 marchas e há aletas para trocas atrás do volante. Com esse conjunto o Mach 1 acelera de 0 até 100 km/h em 4,3 segundos e chega a 250 km/h (com limitação eletrônica). 

Sobriedade

O acabamento interno não salta aos olhos, mas não deixa a desejar. Apesar de em alguns pontos da porta encontrarmos plástico duro, a maior parte da peça e do painel é composta por material suave ao toque e couro sintético, além de diversos elementos cromados de altíssimo bom gosto.

Apesar de ser um esportivo, o interior é sóbrio. Exceto pelos bancos com faixa amarela, que fazem um resgate ao passado ao trazerem mais um elemento do primeiro Mach 1.

O volante tem boa empunhadura, mas poderia ter maior espessura e menor raio, duas características primordiais em um carro esportivo. Tanto o painel de instrumentos quanto a central multimídia SYNC 3 possuem telas de 12 polegadas.

O painel de instrumentos no modo de condução “Pista” mostra pouquíssimas informações e talvez essa seja a configuração mais interessante dos mostradores: a marcha engatada do lado esquerdo, velocímetro no direito e a rotação do motor em uma grande barra que corre toda a tela. E durante o nosso teste na pista posso afirmar que simplesmente não tive tempo de olhar para os instrumentos.

O sistema de som é da Bang&Olufsen com 12 alto-falantes e 1.000 W de potência. Ao todo são sete modos de condução (Normal, Esportivo, Esportivo +, Pista, Drag, Neve/Molhado e Configurável) que podem ser selecionados por meio de um botão abaixo dos comandos de ar-condicionado.

Na pista

A posição de dirigir é facilmente encontrada com os ajustes elétricos do assento do banco do motorista, mas o ajuste do encosto é manual, assim como o de distância e altura do volante. A despeito de ter apenas 1,40 m de altura, não é preciso se contorcer para entrar ou sair do Mustang Mach 1 e a visibilidade não fica comprometida em nenhum dos quatro cantos do carro.

Aquela minúscula janela traseira, comum em cupês esportivos, dá lugar a um vidro mais comprido que segue o caimento da traseira. Essa boa visibilidade passa a ser de grande auxílio para os consumidores que estão estreando no segmento de esportivos.

Mas é só ao pressionar o botão de partida que o show começa: o despertar do V8 faz arrepiar até aqueles acostumados com esse tipo de carro. O modo de condução “Pista” deixa tudo muito mais responsivo e foi justamente este utilizado no circuito do Velocittá: volante com mais peso e respostas precisas, acelerador super sensível e um freio de seis pistões pronto para estancar o cupê a qualquer momento.

O Mach 1 parece não se intimidar com o peso de 1.814 kg e aponta nas curvas com facilidade. O coice que recebemos do banco ao acionar os 56,7 kgfm de torque é muito melhor do que qualquer montanha-russa e os amortecedores adaptativos, com suspensão recalibrada, transmitem tanta segurança que a cada volta o motorista fica mais à vontade.

Os limites passam a ser descobertos quando entra em cena o controle de estabilidade: com segurança e sem intervenções violentas, o ESC segura toda a potência e a coloca o cupê de volta ao rumo sem traumas para o condutor. Mas se é a sua primeira vez com um esportivo, sugiro começar com carros com potência e torque menores. Depois de quatro voltas rápidas é possível ter noção da responsabilidade que é acelerar um Mach 1.

O repórter que vos escreve já trabalha há 10 anos no setor automotivo e, apesar de ter dirigido uma porção de carros esportivos e de já ter ido a diversos lugares do mundo por conta da profissão, ainda faltava algo.

Nesses 10 anos de carreira eu nunca havia dirigido um Ford Mustang, só tinha visto o carro em alguns Salões do automóvel.

Não conhecia nem como era ligar o 5.0 V8 deste muscle car. Mas parece que a espera valeu a pena, pois tive a sorte de — na minha primeira vez — ser apresentado e dirigir o icônico e um dos mais potentes Mustang de todos, o quase indomável Mach 1. E pode ter certeza que o prazer foi todo meu.

Se você está em busca de um carro “raiz”, com motor V8, cupê e com belo rugido de estremecer as janelas do seu vizinho, o Mach 1 passa a ser uma opção para aqueles que valorizam o resgate ao passado. Entretanto, o Chevrolet Camaro oferece quase a mesma potência (461 cv), mais torque (62,8 kgfm) e custa R$ 397.360. Em suma: dá para colocar na garagem outro belo muscle car e economizar R$ 126.590. 

Ficha técnica