SsangYong está de volta ao Brasil e quer brigar com o HR-V
Marca sul-coreana especializada em SUVs lançará em novembro quatro modelos no país, dois deles inéditos, o Tivoli e XIV
O fim do Inovar-Auto e, consequentemente, das cotas de importação, já volta a tornar o Brasil um mercado interessante para marcas de veículos importados. Nesta quinta-feira (21) a sul-coreana SsangYong anunciou seu retorno ao país a partir de 2018.
Será a terceira investida no Brasil após uma tentativa não oficial na virada do século e de uma representação oficial entre 2007 e 2015. Desde agosto daquele ano, no entanto, a importadora anterior, a Districar, desistiu do negócio deixando cerca de 17 mil clientes sem assistência.
Agora o grupo Venko, do interior de São Paulo, fechou um acordo para ser o distribuidor oficial da marca numa operação que é considerada como um braço local da montadora – algo semelhante ao que faz a Kia no Brasil, representada pelo grupo Gandini.
A Venko atua no setor automobilístico há cerca de uma década quando trouxe ao país a marca Chery. Os chineses, no entanto, decidiram tomar a frente do negócio anos atrás e coube à Venko comercializar uma submarca, a Rely, voltado ao mercado de utilitários – negócio que foi encerrado em junho.
Marca “premium”
Já como SsangYong Brasil, a nova operação passou a trabalhar desde o começo deste ano ao procurar atender os proprietários dos modelos vendidos anteriormente e credenciando oficinais e futuras concessionárias para a reabertura – 15 delas já estão escolhidas inclusive. “Vamos assumir a garantia de todos os carros vendidos anteriormente desde que observando alguns fatores”, explicou Marcelo Fevereiro, diretor de operações da empresa.
A SsangYong tem ciência que o abandono da clientela nesse meio tempo pode custar caro para a marca, mas acredita que é possível virar o jogo “com muito trabalho”, completa Fevereiro.
A Districar, representante anterior, teve problemas de inadimplência além de acabar sofrendo com o aumento do imposto de importação. Até então, a marca havia conquistado seus melhores resultados, com quase 5 mil unidades vendidas em 2011. “Faltou uma melhor comunicação com o público”, constatou Jong Dae Lee, diretor de exportação da SsangYong.
A estratégia para reverter a situação passa por reconquistar os atuais proprietários de modelos da marca e também por enfatizar seu perfil “premium”e a origem sul-coreana. De fato, por ser pouco conhecida, a SsangYong costuma ser confundida com marcas chinesas.
Sem Mercedes e mirando no HR-V
O portfólio que chegará ao país em 2018 e que será apresentado em novembro inclui quatro modelos num primeiro momento, além do novo Rexton, SUV médio recém-lançado na Europa e prometido para o ano que vem.
Dois dos veículos já foram vendidos aqui e voltarão às lojas. São a picape Actyon Sports e o SUV Korando. Os dois serão trazidos com motor turbodiesel 2.2 litros e transmissão automática de 6 velocidades da marca ZF.
Mas são os dois “jipinhos” inéditos que prometem colocar a SsangYong em evidência. O Tivoli e ser irmão maior, o XIV, serão oferecidos com motor a gasolina 1.6 de 128 cv de potência.
Tanto os modelos a gasolina quanto diesel utilizam motores da própria SsangYong, encerrando uma dúvida persistente que atribuía até hoje à marca o uso de motores fabricados pela Mercedes-Benz – a parceria existiu mas foi encerrada há alguns anos.
Dos cinco modelos, o mais promissor é o Tivoli. Ele foi lançado na Coréia do Sul em 2015 e disputa o mercado dos SUVs compactos. Tem 4,2 m de comprimento, 1,8 m de largura e entreeixos de 2,6 m. O porta-malas comporta cerca de 420 litros.
É um SUV de linhas fortes na frente, com luzes de LEDs bem marcantes, mas com traseira um tanto estranha – a marca utiliza o expediente das duas cores como no exemplar exposto no evento.
Segundo a SsangYong, a ideia é aproveitar o boom do mercado de SUVs pequenos e concorrer com o Honda HR-V, entre outros. O preço, embora não revelado, deverá ficar próximo dos modelos nacionais – o executivo da matriz confessou que tiveram que negociar uma margem pequena para tornar seus carros competitivos com um câmbio de mais de três reais.
Desconfiança
Tornar-se uma marca relevante mesmo no mercado “premium” - que ela estima em cerca de 500 mil unidades/ano – não será uma tarefa fácil. Montadoras que ficaram no Brasil mesmo durante a crise, mas deixaram a desejar no pós-venda até hoje sofrem para reconquistar a confiança do consumidor. No caso da SsangYong, pesa contra os dois anos de “abandono” da matriz após a Districar desistir do negócio – teria sido mais prudente oferecer alguma assistência para seus clientes durante esse período incerto.
Apesar disso, há de se reconhecer que a SsangYong está num período positivo, com vendas crescentes e um bom mercado externo – em 2016 foram vendidos 155 mil unidades, 53 mil para exportação (24 mil apenas na Europa). Segundo Dae Lee, as três linhas de montagem na Coréia têm capacidade para assimilar uma demanda maior: até 300 mil carros podem sair dela apenas com alguns ajustes na produção.
De fato, o passado não tão brilhante, quando tinha um design exótico e pouco dinheiro em caixa, ficou para trás. Desde 2010, a marca é de propriedade da indiana Mahindra, que investiu em uma nova linguagem visual mais atraente e numa fábrica de motores para não depender da Mercedes-Benz.
Com meta de começar 2018 com 30 concessionárias e terminar o ano com 50 pontos de vendas, a SsangYong pretende emplacar cerca de 3 mil veículos. Isso, claro, dependendo das exigências do Rota 2030, programa que tomará o lugar do Inovar-Auto na virada do ano. Espera-se que desta vez a fabricante tenha vindo para ficar.