Sobrevivente, Honda Fit se prepara para mudar de novo
Mistura de minivan com hatch, modelo é admirado em vários países, mas vem perdendo espaço para os utilitários esportivos
Quando revelou o Fit em 2003, a Honda causou confusão. Afinal, aquele compacto deveria ser classificado em qual categoria? Chamá-lo de hatchback parecia injusto afinal sua carroceria era mais longa. Perua? Também não tinha um balanço traseiro tão grande e era alto para se encaixar nesse segmento. Daria para considerá-lo uma minivan, então... Não, o Fit era baixo comparado à contemporânea Meriva.
Pois assim, sem conseguir ser rotulado, o Fit surpreendeu. Era um veículo bom de dirigir, com uma ergonomia acima da média, econômico e sobretudo, versátil graças ao sistema ULT que permitia várias configurações dos bancos, até mesmo levar uma bicicleta montada.
Lançado mundialmente, o Fit (Jazz em alguns mercados) agradou no Brasil. No primeiro ano completo de vendas, em 2004, emplacou quase 30 mil unidades, ou 2% de tudo que se vendeu naquele ano. Era uma senhora marca obtida numa época em que o mercado brasileiro ainda tentava sair do ostracismo.
E o Fit não era um carro barato por assim dizer. Para oferecer tanta confiança na sua compra, a Honda cobrava mais, como faz até hoje, aliás. Mas seus clientes não tinham do que reclamar, exceto do estranho câmbio CVT, uma novidade naquele período.
A segunda geração, que estreou em 2008, manteve o conceito, mas deu um ar mais jovem ao compacto. A transmissão CVT deu lugar ao câmbio automático tradicional e o Fit passou a ser flex, exigência do mercado. Com esse pacote e também um interior mais pobre do que antes, o Honda bateu recordes de vendas até que em 2010 veio o primeiro “golpe” interno.
No ano anterior, a Honda resolveu criar uma família baseada na sua plataforma e lançou o sedan City. A ideia era oferecer um modelo de três volumes mais tradicional que o New Civic, lançado em 2006 e que, se atraiu outros clientes por sua esportividade, também desagradou quem gostava do estilo mais pacato da geração anterior.
Ao dividir espaço com seu irmão sedan, o Fit sentiu o golpe e as vendas começaram a cair. Em 2011, o monovolume (sim, eis uma forma de defini-lo) teve seu pior ano no mercado com menos de 29 mil carros vendidos. Mas o efeito City passou nos anos seguintes e o Fit voltou a recuperar seu fôlego até que em 2014 o modelo bateu seu recorde de vendas no Brasil.
Mais hatch que minivan
Foi quando o Fit ganhou a 3ª geração, a de design mais instigante, graças à uma nova estratégia da Honda de valorizar esse atributo. Maior do que antes, o Fit voltou a contar com a transmissão CVT, mas aprimorada além de padronizar o uso dos motores 1.5, aposentando o 1.4 introduzido no lançamento uma década atrás.
Com esse pacote, o Fit conseguiu vender nada menos que 53,7 mil carros em 2014 e tudo ia bem no ano seguinte se não fosse por mais “fogo amigo”, a chegada do HR-V, SUV que mesclava componentes do monovolume e também do Civic.
Desde então, o Fit não tem sido mais o mesmo no mercado. Mais atraente e representante do segmento que mais cresce no Brasil (SUVs), o HR-V roubou o sistema ULT do Fit, seu diferencial. O resultado pode ser visto no gráfico desse artigo: o Fit mal tem chegado a 30 mil unidades emplacadas por ano.
O fenômeno, inclusive, não é local. Em outros mercados como os EUA o Fit também tem sofrido o mesmo desgaste. De quase 80 mil em 2008, o Honda passou a vender menos metade desse patamar no ano passado.
4ª geração volta às raízes
É nesse cenário adverso que a Honda prepara o lançamento da 4ª geração do Fit. O modelo, que já foi flagrado em testes avançados nas últimas semanas, será apresentado no final do ano no Japão e deve estrear por lá no início de 2020 possivelmente desembarcando no Brasil em meados do ano que vem como modelo 2021.
E certamente pressionado a recuperar parte do seu brilho original, mas num mercado que hoje valoriza outros aspectos como rodas enormes, posição de dirigir alta e potência. No entanto, pelo que se viu até o momento, o novo Fit 2021 será um veículo com caráter mais familiar novamente.
Projeções publicadas pelo site japonês BestCar dão uma boa ideia do que nos espera, um carro com menos vincos e carroceria volumosa. Certamente, a Honda pretende valorizar o espaço interno do modelo e a tecnologia a bordo, uma forma de reconquistar seus clientes mais pela razão do que a emoção.
Mas podemos esperar que os dogmas do Fit serão preservados, a versatilidade e a economia. Por isso é mais provável que ele venha equipado com motores de baixa cilindrada, porém, econômicos, além de uma investida ainda maior na propulsão híbrida.
Ainda com um volume respeitável
E no Brasil, o que esperar do novo Fit? Embora tenha perdido espaço no mercado, ele ainda tem uma participação importante e agora que a Honda abriu sua nova fábrica de Itirapina a falta de capacidade produtiva não será mais um problema como antes.
Ou seja, a 4ª geração do Fit se justifica em nosso país. Resta saber com que tipo de pacote mecânico. Se a marca japonesa partirá para mudanças significativas como introduzir um motor 1.0 turbo com injeção direta ou manterá o 1.5 aspirado atual talvez recalibrado.
Certo mesmo é que o Fit continuará a ser esse “estranho querido”, um carro confiável, versátil como nenhum outro e uma unanimidade praticamente mundial.