Ricardo Meier

Comenta o mercado de vendas de automóveis e tendências sustentáveis

Sim, a Fiat aproveitou muito do Argo no SUV 'Progetto 363', mas quem nunca?

Desde que as montadoras passaram a lançar modelos urbanos com ares de utilitários esportivos, se reaproveitam componentes de automóveis existentes

A aparição do Progetto 363 na final do reality show Big Brother Brasil causou uma certa polêmica por confirmar que a Fiat utilizou várias partes do hatch Argo no projeto. Mas isso é tão grave quanto levar a sério um programa de TV cujo objetivo é expor futilidades humanas ao vivo.

Sim, a Fiat reciclou o que pode do Argo para criar um ‘SUVzinho’, mas atire a primeira pedra a marca que nunca reaproveitou um componente de um carro existente.

Na prática isso ocorre há muitos anos e se tornou regra desde que a indústria automobilística passou a perseguir a simplificação técnica de seus veículos, as tais ‘arquiteturas’ ou ‘plataformas’.

Em resumo, em vez de criar uma solução para cada tipo de automóvel, elas desenvolvem uma base comum e que pode ser replicada não só dentro da própria marca, mas também em outras grifes de um mesmo grupo e até de montadoras concorrentes.

O “SUV da Fiat” nada mais é do que essa estratégia elevada ao máximo. A grande diferença é que a área de projetos da marca se esmerou em reinterpretar o que já existia do Argo num veículo que parece ter nascido desde o começo assim. Mas estão lá vários painéis da carroceria como portas, tampas, elementos de para-choque e afins que denunciam seu parentesco com o hatch compacto.

Demérito do projeto? Necessariamente não. A Honda, por exemplo, tirou o WR-V da costela do Fit de forma bem pouco disfarçada e quis chamá-lo de SUV. A Chery pegou o apagado hatch Celer e o transformou no Tiggo 2, usando a mesma pegada da Fiat.

O Argo comparado ao SUV do Progetto 363
O Argo comparado ao SUV do Progetto 363
Imagem: Divulgação

Estado de espírito

É claro que esse tipo de solução pode dar em nada se o resultado não convencer, mas a redução de custos no desenvolvimento brilha nos olhos dos executivos de qualquer montadora.

Para o consumidor, o que importa é saber se o produto corresponde às suas necessidades e também cumpre alguns papeis importantes como oferecer espaço adequado, bons equipamentos, economia e segurança.

Pegue-se o exemplo do Nissan Kicks, um SUV compacto de boa aceitação no mercado. Embora tenha uma carroceria feita do zero, o modelo usa e abusa de componentes de outros carros da marca. Em outras palavras, ele é um veiculo urbano, mas com formas mais atraentes de um utilitário esportivo. Nem por isso causa indignação.

O “Progetto 363”, a despeito do marketing pesado e muitas vezes exagerado da Fiat, não deve ficar atrás de outros SUVs mais originais. Demonstra ter uma boa altura, traz um estilo bastante interessante embora comum, e o mais importante, será vendido também com um motor 1.0 turbo moderno e certamente mais eficiente do que o velho e manjado 1.6 aspirado do Kicks – apenas para aproveitar o exemplo acima.

Afinal de contas, hoje em dia um SUV não é mais uma questão de aptidão para o off-road e sim um “estado de espírito”.

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