Sedã chinês Lifan 530 é fotogênico, mas peca nos detalhes
Modelo traz luzes diurnas de LEDS, freios a disco nas quatro rodas e sistema Isofix, mas qualidade de montagem decepciona
Testar um carro 100% novo é como começar o namoro com uma pessoa completamente desconhecida: todos os detalhes chamam nossa atenção. As linhas externas, a posição do assento, o toque nos botões e volante, girar a chave, dirigir, tudo é marcante. Há encontros que são inesquecíveis, outros demoram a embalar e temos aqueles em que não há menor empatia e empolgação.
Com os carros chineses, nenhum até agora chegou perto do primeiro caso. No máximo, alguns modelos ganharam admiração em um ponto ou outro. Minha esperança com o Lifan 530, no entanto, era grande. Seria esse o ponto de inflexão entre eles?
Andei no modelo na China, por poucas voltas e numa versão de pré-série há dois anos. Meu colega Thiago Vinholes o conheceu meses atrás, já quase pronto para embarcar para o Brasil. A impressão, na época, era boa, sobretudo se comparamos o sedã com outros modelos da marca.
Agora, ao dirigir o Lifan 530 montado no Uruguai e que começa a ser vendido no Brasil, a constatação é que ele é muito fotogênico, mas carece de uma virtude que tem passado longe da preocupação das marcas chinesas, o esmero na montagem, algo que já alertávamos desde as primeiras voltas na China.
Direção agradável
Perto de alguns projetos desse país, o Lifan 530 se destaca. As linhas são bonitas e harmoniosas, coisa difícil de obter em sedãs compactos, focados em oferecer espaço para famílias. Sinal que os chineses acertaram é que numa clínica realizada no final do ano passado, os potenciais clientes, sem ver o logo da Lifan, acharam tratar-se de um carro japonês ou coreano.
Ao ver a lista de equipamentos de série, temos quase certeza que estamos diante de um veículo de outro nível: luzes diurnas de LEDs, motor com comando variável de válvulas, central multimídia com GPS, freio a disco nas quatro rodas, sistema Isofix para bancos infantis, direção elétrica e por aí vai. É o carro completo, mais completo ainda.
Até o preço, mais salgado do que o esperado (R$ 38.990), dá para assimilar na ponta do lápis, mas é na hora do ‘primeiro beijo’ que o Lifan 530 decepciona. Começa pela posição ruim do motorista, acomodado num banco pequeno e alto que não se entende com o volante muito baixo, mesmo com ajuste de altura.
Paro para reparar no painel e nada de novo no front: peças simples e ruins de manusear. O estilo é ‘inodoro’: nada lhe chama a atenção, diferentemente do exterior, apesar de a marca ter mudado o padrão do painel para preto em vez de dois tons mais claros. Há boas sacadas como os porta-trecos que ficam nas laterais do console, ou o apoio central de braço, mas nada ali lhe convence que o Lifan 530 vale R$ 40 mil. Fui ao evento com um dos seus concorrentes, o Grand Siena, que está longe de ser um dos prediletos do público nesse segmento, e, ao voltar de Campinas, local da apresentação, foi um alívio dirigir o Fiat.
Montado às pressas
É uma situação estranha: a impressão é que os chineses – e não apenas a Lifan – não conseguem traduzir o feedback que os brasileiros lhe passaram nos últimos anos. Você vê alguma preocupação em passar uma boa impressão na montagem, como o revestimento interno da tampa do porta-malas e a opção de couro nos bancos. Só que coisas básicas são deixadas de lado.
Ao girar o volante, estão lá os parafusos que fixam a caixa de direção, expostos. Peças plásticas são encaixadas sem que exista alguma moldura para esconder as rebarbas. Borrachas desalinhadas estão presentes em várias partes. As portas têm painéis sem um simples revestimento de tecido para quebrar o clima.
Como se vê, não se trata do projeto em si, que é interessante, mas da execução na linha de montagem e na escolha de alguns materiais. Uma pena, mas são detalhes possíveis de serem corrigidos.
Bom na rua
Ao menos quando você engata a 1ª marcha, parte desses problemas fica para trás. O motor 1.5 VVT, de 103 cv, dá conta do recado e trabalha em harmonia com o câmbio manual. A suspensão não chegou a ser exigida durante o test-drive e a direção elétrica tem um balanço equilibrado. No veículo testado pelo AUTOO, a embreagem estavam muito baixa e dura, mas era um exemplar bem mais rodado que os demais.
O Lifan 530 não chega a ser desses sedãs caixotões, que sobram em matéria de espaço. Ele agrada no espaço para pernas, mas deixa os ocupantes muito próximos do teto. O porta-malas é espaçoso e, ao abrir, vemos outro dessas improvisações chinesas: a câmera de ré está fixada acima da placa de identificação do carro, num suporte plástico. Deve ter vida curta nessa posição.
A Lifan tem feito bonito com o SUV X60, hoje o chinês mais emplacado no Brasil, mas não vai muito longe se não atacar as deficiências comuns aos carros chineses. Afinal, não basta parecer um Honda ou Hyundai, precisa é ter a mesma qualidade dos seus vizinhos coreanos e japoneses.
Ficha técnica
Vendas acumuladas neste ano | 3 unidades |
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