Renault prepara sua melhor gama de motores já oferecida no Brasil
Complexo fabril no Paraná ganha unidade avançada para construção de blocos e cabeçotes de alumínio
A Renault inaugurou nesta terça-feira (6) um reforço importante para seu Complexo Ayrton Senna, parque que reúne as operações industriais da marca no Brasil. Localizado em São José dos Pinhais (PR), o local agora também serve de base para a Curitiba Injeção de Alumínio (CIA). A nova unidade, fruto de um investimento de R$ 350 milhões, permitirá que a Renault passe a produzir no Brasil o motor 1.6 SCe de forma completa, com destaque para o bloco e o cabeçote, ambos construídos com o material mais leve e que exige uma manufatura mais sofisticada. O motor 1.0 SCe, por sua vez, ainda contará com seus elementos principais (bloco e cabeçote) oriundos do exterior por uma questão estratégica, já que a motorização de maior deslocamento responde por 60% das demandas locais.
A CIA terá capacidade para produzir até 250 mil blocos e outros 250 mil cabeçotes ao ano, sendo que a unidade ocupa uma área de 14 mil metros quadrados dentro do complexo paranaense da Renault. O local conta com tecnologia de ponta e abriga até mesmo um equipamento de tomografia computadorizada industrial, primeiro deste porte em uma montadora na América do Sul. A máquina pode ser usada tanto para análise das peças em três dimensões bem como para o controle de qualidade do que é produzido na CIA além de pesquisa e desenvolvimento.
Em paralelo, a Renault também trabalha para concluir a ampliação de sua Curitiba Motores (CMO), outra fábrica integrante do Complexo Ayrton Senna e onde são montados os propulsores usados pelos carros nacionais da Renault. A Curitiba Motores, inclusive, será abastecida pelos blocos e cabeçotes oriundos da CIA. A ampliação da fábrica responsável por dar vida aos motores, por sua vez, consumiu outros R$ 400 milhões e as obras serão finalizadas em breve.
Como é possível notar, a Renault está promovendo uma intensa atualização de seus conjuntos mecânicos aplicados em seus modelos produzidos na América do Sul e as recentes movimentações da marca nos permitem costurar algumas conclusões.
Desde o fim de 2017, a Renault deixou claro que está trabalhado em uma solução para substituir seu já defasado conjunto mecânico composto pelo motor 2.0 16V e a caixa automática de 4 marchas.
Conforme o Autoo apurou, é praticamente certo que esse novo motor deverá ser uma versão nacionalizada do recém-apresentado 1.3 TCe, revelado ao mundo nesta semana durante o Salão de Genebra.
O motor, desenvolvido pela aliança Renault-Nissan em conjunto com a Daimler, brilha pelo conjunto compacto e alta eficiência. Dotado de turbo e injeção direta, a novidade poderá adotar calibrações de 116 a 162 cv para o mercado europeu, onde dentro da gama Renault vai estrear no Captur e na Scénic. O torque máximo, por sua vez, pode registrar até excelentes 27,5 kgfm também dependendo do acerto escolhido. Apenas como comparação, o 2.0 16V flex atualmente usado no Captur brasileiro entrega 148 cv e 20,9 kgfm com etanol. Portanto, o novo 1.3 TCe conseguiria substituir o 2.0 aspirado atual com imensa facilidade...
Quando questionado sobre o assunto, o presidente da Renault do Brasil, Luiz Pedrucci, é cauteloso. “Ainda não posso dizer nada sobre o motor 1.3 turbo, uma vez que dependemos das novas diretrizes do Rota 2030. Só com as regras claras poderemos tomar uma decisão e aí sim anunciarmos o caminho que vamos seguir”, explica o executivo. Independente do Rota 2030, fato é que o mercado de maneira geral já abraçou o downsizing aqui no Brasil. A Volkswagen, por exemplo, produz localmente seu 1.0 e o 1.4 TSI, enquanto a GM também deverá fabricar em Joinville um propulsor de características semelhantes.
O mesmo tom de cautela também foi adotado por Pedrucci no momento em que o Autoo abordou outra questão em alta envolvendo a fabricante, no caso o SUV médio que a Renault prepara para o mercado brasileiro. Apesar de apontado como certo em uma apresentação da matriz francesa que caiu na internet, Pedrucci não banca uma data sobre a estreia da novidade, alegando, também como mesmo motivo, a demora do governo federal em apresentar de uma vez o novo regime automotivo.
De qualquer forma, até o momento a dupla composta pelo 1.0 e o 1.6 16V, ambos da família SCe, figuram como os melhores motores já oferecidos pela Renault para sua gama nacional. Concretrizando-se a nacionalização do 1.3 TCe, teremos então a melhor linha de propulsores já fabricada pela Renault até o momento em nosso país.