Recarga rápida já está custando o mesmo que gasolina no Brasil
Empresas estão cobrando valores altíssimos pelo serviço, acima de R$ 2 o kWh
Esta coluna sempre foi e será aguerrida defensora da abertura de mais e mais eletropostos rápidos de uso público ou semipúblico pelo Brasil. E, assim sendo, entende que para as empresas que se dedicam a prestar este serviço é fundamental que o negócio faça sentido em vários aspectos, inclusive e particularmente o financeiro,para evitar o risco de fechamento precoce de unidades, como já visto em alguns casos.
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Porém, é necessário primordialmente que a conta como um todo feche para aquele que mais importa: o comprador ou usuário de carro elétrico. Ele é a raiz de tudo o que a eletromobilidade traz a reboque, mesmo aqueles valores aparentemente incalculáveis – como a melhoria da qualidade do ar, por exemplo.
Pelo que percebo, porém, cada elo da cadeia da eletromobilidade está agindo de acordo com o que bem entende – possivelmente por falta de uma coordenação central: as montadoras para o seu lado, os usuários para outro e, agora, também as fornecedoras de serviço de recarga estão puxando as coisas exclusivamente para o lado que mais lhes interessa.
Altos preços da recarga rápida: elétricos em risco no Brasil
Este colunista viveu recentemente, e bem mais de uma vez, situação que pode ser considerada absolutamente bizarra: já está sendo cobrado por recarga rápida pública o preço equivalente à gasolina. Isso não faz o menor sentido e não tem o menor cabimento.
As estações da EZVolt nos Postos Petrobras, como os da Rod. dos Bandeirantes, Rod. Carvalho Pinto e Dutra, estão cobrando dos usuários R$ 2,50 o kWh. A CPFL em Campinas aumentou recentemente sua taxa para o mesmo valor, sem explicações. A Tupi (ex-Tupinambá) aplica valor um pouco abaixo, mas não muito: R$ 2,15 o kWh nos postos Shell Recharge do Limão e Vila Olímpia.
Apresentando uma conta rápida, um BYD Dolphin, por exemplo, tem bateria de 44,9 kWh. Para ‘encher’ a bateria a R$ 2,50 o kWh, portanto, seriam gastos R$ 112,25. Segundo o Inmetro sua autonomia é de 291 km. Ou seja: o custo por quilômetro rodado seria de R$ 0,38.
Vamos pegar agora um modelo equivalente a combustão, o Chevrolet Onix 1.0. Também segundo o Inmetro ele faz, com gasolina, 16,5 km/l na estrada e 13,3 km/l na cidade. Vamos considerar 14,5 km/l no uso misto. O tanque dele tem 44 litros, o que, neste cálculo, dá autonomia de 638 km. Segundo a Petrobras, o preço médio da gasolina em São Paulo está em R$ 5,64 (período 12/5/24 a 18/5/24). Para encher o tanque seriam, então, R$ 248,16.
Preço por quilômetro rodado: R$ 0,39.
Sim, há outras variáveis a considerar, mas a grosso modo você pode fazer essa conta comparando qualquer carro elétrico com outro a combustão dentro da mesma categoria e o resultado será, sempre, muito próximo. E mesmo que em alguns casos o valor por km rodado fique menor para o elétrico, a diferença será pouca – quando deveria ser gritante.
Deveria ser gritante porque o é a diferença do preço de aquisição: para ficar no mesmo exemplo, R$ 150 mil o Dolphin e R$ 88 mil o Onix. “Ah, mas o ideal é carregar em casa.” Sim, mas para isso você vai pagar o carregador doméstico e sua instalação: pode jogar aí, tranquilo, um custo adicional de R$ 5 mil a R$ 10 mil na conta do elétrico.
Ou seja: um consumidor minimamente antenado que resolver fazer as contas verá que, com esses valores, não compensa comprar um elétrico. E o que comprou por impulso e não fez a conta está fulo da vida e irá expor isso para qualquer interessado em sua experiência. Nos dois casos o resultado é um só – queda no entusiasmo e, portanto, nas vendas de elétricos. O que será ruim, inclusive, para quem presta serviço de recarga. Ruim, não: péssimo.
Esta coluna não está defendendo recarga rápida pública grátis,longe disso. Mas também cobrar valores como esses, acima de R$ 2 o kWh, é dar tiro no pé e munição à vontade para os negacionistas da eletromobilidade. A conta da compra e do uso do carro elétrico precisa fazer sentido, no mínimo. Se for para cobrar estes preços na recarga rápida, é melhor empacotar tudo e entregar o futuro da mobilidade nacional, de bandeja, para os defensores do híbrido flex.
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