Projetos de EcoSport e Ka não morreram no exterior, mas retorno ao Brasil é improvável

Notícia que pegou a todos de surpresa, o fim das atividades de manufatura da Ford no Brasil trouxe consigo uma clara mudança de posicionamento da fabricante por aqui. Ao ficar sem seus modelos de entrada no país - com a Ranger tornando-se, em breve, o veículo mais barato da marca por aqui - a Ford será uma importadora apenas com produtos atuando em segmentos de mercado bem mais caros. Empresa que fechou 2020 como a 5ª maior fabricante do Brasil, certamente a Ford não conseguirá sustentar posições tão elevadas no ranking sem modelos de alto volume.

Apesar de saírem de linha aqui no Brasil assim que acabarem os estoques, EcoSport e Ka ainda são oferecidos em alguns mercados, como o indiano, onde por lá o hatch compacto é chamado Figo. O fato do fim da produção dos dois modelos em Camaçari não vai implicar em um fim de vida para esses projetos, inclusive a Ford havia dado algumas pistas sobre o futuro do Ka, como o Autoo apurou há alguns meses.

Apesar da joint venture entre a Ford e a Mahindra também ter sido suspensa como parte da reestruturação global da fabricante norte-americana, está longe de ser um segredo que a Ford prepara uma atualização para o EcoSport na Índia, a qual, segundo esperávamos, também chegaria ao SUV nacional. Logo, o modelo não será abandonado e ainda contará com uma sobrevida em alguns mercados emergentes.

O mesmo podemos dizer do Ka. Segundo nossas últimas apurações, a perspectiva era que o modelo iria se tornar um crossover pequeno (projeto BX744), passando a atuar em uma categoria onde o VW Nivus e o futuro representante da Fiat derivado do Argo estarão inseridos no Brasil. É o mesmo segmento onde outros modelos como o Hyundai Venue e o Nissan Magnite já atuam em outros países.

A planta indiana da Ford que hoje produz o Figo conta com uma destacada capacidade ociosa, o que poderia abrir margem para um reforço na produção com foco em atender outros países. 

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Assim como o Figo/Ka, o EcoSport também é produzido na Índia, além de Tailândia, Rússia e Romênia. Em mercados maduros, como o Europeu, a Ford segue oferecendo o EcoSport como uma alternativa de SUV barato, contando com modelos como o Puma para atuar entre os utilitários esportivos compactos mais sofisticados. Logo, haveria uma brecha para seu projeto continuar caso a marca considere essa opção.

Vale destacar que, em seu anúncio desta semana, a Ford deixou claro que vai manter seu Campo de Provas em Tatuí, no interior de São Paulo, bem como seu Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, para que ainda possa trabalhar em novos modelos para sua linha global. 

Segundo Cassio Pagliarini, consultor da Bright Consulting ouvido pelo Autoo, as chances são remotas de que eventuais sucessores de Ka e EcoSport em outros mercados possam ser importados ao Brasil, em grande por conta da elevada carga tributária para se realizar a operação.

Ainda de acordo com o profissional com vasta experiência no setor automotivo, devemos somar o fato de que veículos compactos estão inseridos em categorias muito competitivas e necessariamente precisam ter preço acessível, característica difícil de se obter em um automóvel importado aqui no Brasil.

Sem dúvida é uma pena, uma vez que tanto o Ka quanto o EcoSport trilharam um caminho de sucesso por aqui, com o SUV compacto praticamente inaugurando a categoria, hoje febre ao redor do mundo, no começo dos anos 2000. Um projeto que, sem dúvida, provou toda a competência da engenharia brasileira. 

Imagem: Reprodução / Indian Auto