Por que carros voadores não existirão tão cedo
Projetos de mobilidade urbana aérea, os eVTOLs, estão sendo comparados a automóveis voadores de forma errada
A cena de George Jetson indo trabalhar no seu carro voador ficou gravada em que é mais antigo e assistia ao desenho animado futurista dos estúdios Hanna&Barbera. No entanto, a realidade, mais de meio século depois, não poderia ser mais diferente.
O futuro de fato nos reserva mais viagens aéreas, práticas e seguras, mas nada que lembre vagamente a ideia de um automóvel voador. Ao menos não com a tecnologia disponível hoje.
Embora alguns projetos bastante questionáveis tenham tentado transformar esse conceito em realidade, o resultado tem ficado bastante aquém do esperado tanto para uso no solo quanto no ar, como foi o caso do Terrafugia Transition.
No entanto, o surgimento dos eVTOL (algo como aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical, numa tradução grosseira) tem tornado a expressão de “carro voador” bastante popular em diversos artigos publicados no mundo.
Trata-se de uma atribuição completamente errada. Esses veículos aéreos, hoje em desenvolvimento, darão início a um novo tipo de mobilidade, conhecida em inglês pela sigla UAM (Urban Air Mobility, ou Mobilidade Urbana Aérea).
Mas por que não chamá-los de carros aéreos? Por uma simples razão: eles não se comportarão como se fossem veículos comuns deslocando-se por “avenidas” nos céus.
Primeiro porque um eVTOL ocupa um enorme espaço e por isso não se imaginam estacionamentos capazes de abrigar centenas deles como num shopping center.
Para ser ter uma ideia, a Joby Aviation, uma das empresas mais avançadas nesse campo, desenvolve uma aeronave com 6,4 metros de comprimento e 11,6 metros de envergadura. Com seis rotores, o eVTOL ocupa uma área de cerca de 74 m², ou o equivalente a nove Jeep Compass.
Outra startup, a Volocopter, estima que a área mínima para operação de um modelo como esse é de 500 m², mas o ideal para a criação de um “Vertiporto”, com infraestrutura mais adequada, é de 1.000 m² - espaço suficiente para estacionar uma centena de SUVs.
Voo autônomo
Ou seja, não pense que em breve veremos tantos desses veículos voadores circulando com seus proprietários ‘ao volante’. Pelo contrário: embora os primeiros protótipos sejam pilotados por humanos, a tecnologia de eVTOL se apoia justamente numa condução autônoma a fim de oferecer um custo acessível.
Isso sem falar no fator segurança afinal voar é uma tarefa muito mais complicada do que conduzir um veículo numa estrada. Se a direção ativa dos carros ainda poderá ser uma opção no futuro, na mobilidade aérea ela é mandatória.
Mesmo que fosse tecnicamente viável produzir um "carro voador", sem algoritmos e sensores capazes de controlar o voo, a necessidade de habilitação nesses veículos seria uma senhora dor de cabeça. Para pilotar uma aeronave são exigidas muitas horas de estudo e de voo até obter uma licença mínima. Não poderia ser diferente com qualquer outro tipo de veículo aéreo.
Por essa razão, é mais sensato imaginar que o uso dessas aeronaves urbanas será ocasional, dependendo da necessidade e tempo de deslocamento. Será preciso também conciliar diversas aplicações como entregas (em estágio mais adiantado) com a circulação de aeronaves maiores e mais velozes.
Além disso, esses veículos necessitarão de mecanismos de segurança muito avançados para evitar acidentes graves. Imagine o risco de um objeto de 2 toneladas como esse cair sobre lugares habitados. Como serão bem mais numerosos que helicópteros, essa hipótese terá de ser praticamente eliminada.
Carruagem sem cavalos
Não há dúvida, contudo, que os eVTOLs assumirão parte do papel que hoje ainda é reservado aos veículos terrestres. Deslocamentos dentro de um raio de 200 km aproximadamente poderão ser mais vantajosos nessas aeronaves, dependendo da necessidade e custo, se comparado uma viagem de automóvel ou mesmo de helicóptero ou avião.
Em outras palavras, é preciso enxergar essa nova mobilidade aérea da mesma forma que o próprio automóvel quando substituiu o cavalo como principal meio veloz de locomoção terrestre.
A despeito das reações iniciais, o carro surgiu como uma nova solução e não uma “carruagem sem cavalos”.
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