Ricardo Meier

Comenta o mercado de vendas de automóveis e tendências sustentáveis

Picape Titano será um desafio duro para a Fiat

Veículo, que chega ao mercado em breve, vai disputar um cliente que não se rende apenas ao marketing agressivo da marca italiana

Para uma marca que tem pouca relevância mundial, a Fiat opera milagres no Brasil. Desde os anos 90 e o surgimento do carro popular, a marca italiana acertou a fórmula para encontrar clientes para seus veículos e há alguns anos é líder em vendas no país.

É um cenário que não se vê nem mesmo na Itália, onde a Fiat lidera, mas depende basicamente do modelo Panda para isso (em janeiro ele representou 70% dos emplacamentos da marca).

Tamanha representatividade no Brasil tem dado à Fiat o direito de arriscar sua entrada em segmentos onde não tem tradição. Um deles foi o de sedãs médios.

Vieram o Tempra, o Marea e o Linea, este um compacto inflado. Nenhum deles vingou, o que não surpreende já que o público brasileiro passou a ter uma fidelidade enorme com os modelos japoneses, sobretudo o Corolla.

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Agora a Fiat está prestes a se aventurar em outra seara espinhosa, a das picapes médias. Sim, onde reina outro modelo da Toyota, a Hilux.

Como você leu no AUTOO, a marca que hoje é parte do grupo Stellantis vai lançar no mercado a Titano, uma caminhonete com chassi separado da carroceria, motor turbodiesel e toda a valentia que se espera de um veículo assim.

Peugeot Landtrek 2021
Peugeot Landtrek: Stellantis achou melhor transformá-la em Fiat no Brasil
Imagem: Divulgação

Com medidas como 5,39 metros de comprimento, 1,96 m de largura, 1,84 m de altura e 3,18 m de entre-eixos, a Titano deverá ser equipada com motor 2.2 turbodiesel de 180 cv e tração 4x4.

A marca vem de uma bem sucedida experiência com a Toro, picape “super compacta” fabricada em um chassi monobloco derivado da plataforma dos Jeeps nacionais.

Será então que a Fiat vai conquistar outro segmento do mercado?

Penso que não, a começar pelo fato que a Titano não é Fiat e sim Peugeot, o modelo Landtrek vendido na vizinhança e que chegou a ser cogitado no Brasil.

Como a marca francesa vem de um imenso fracasso com a Hoggar, talvez a Stellantis tenha sido cuidadosa em não apostar na grife do leão.

Mas transformar um veículo concebido com o estilo e conteúdo francês em um modelo da Fiat também não é algo a se celebrar.

Mercedes-Benz Classe X 2019
Mercedes-Benz Classe X: picape era baseada na Nissan Frontier e não deu certo
Imagem: Divulgação

Esse tipo de estratégia dá quase sempre errado já que o cliente não é bobo. Se está comprando um produto de uma marca, espera por aquilo que a define.

Verdade que esses diferenciais estão caindo em desuso já que atualmente há uma padronização de sistemas e equipamentos para baratear o custo.

Portanto, não é incomum ver as mesmas soluções em diversas marcas, ainda mais em grupo imenso como o Stellantis.

Muitas histórias de fracassos

O passado recente, no entanto, assusta. Veja a Renault, a Nissan e a Mercedes, que tiveram a ideia de produzir picapes sobre a mesma base – neste caso a Frontier.

Bem, a Renault Alaskan não é exatamente um sucesso e a Mercedes-Benz Classe X foi descontinuada rapidamente, num enorme vexame para o grupo alemão.

Apesar disso, há quem ainda considere aproveitar produto de rival, como a Volkswagen está fazendo com a “nova Amarok", feita sobre a plataforma da Ranger.

Tudo isso poderia ser superado com um bom trabalho de marketing, especialidade da Fiat, mas há outra barreira, esta mais difícil de transpor.

Trata-se do perfil do cliente de picapes médias, que é conhecido pelo conservadorismo e pela racionalidade.

Acima a Fullback, picape média que a Fiat comercializa em mercados como o europeu e é baseada na Mitsubishi L200 Triton
Acima a Fullback, picape média L200 Triton com a marca Fiat
Imagem: Divulgação

Ao contrário de potenciais compradores de SUVs e picapes urbanas, que são conquistados pelo coração, o dono de uma caminhonete preza a robustez, a confiança, tradição e, sobretudo, o pós-venda.

Não é por menos que a Toyota sobra na categoria e mesmo empresas com um longo caminho nesse nicho como a Ford ainda sofrem para manter sua participação.

É sobre essa ótica que a Fiat Titano terá uma “carga na caçamba” que talvez não possa carregar.

Uma olhadela em outra experiência da própria marca seja apropriada para refletir. Em 2016 ela lançou a Fullback, nada mais do que uma L200, da Mitsubishi, com o emblema da Fiat.

A aventura durou apenas três anos, após baixas vendas e a mudança na legislação ambiental. Como será a história da Titano?

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