Peugeot 508 só peca por não ser alemão ou coreano
Marca francesa volta a brigar no segmento de sedãs executivos com um modelo elegante e bem equipado, mas sem tradição
Ele é bonito, elegante, cheio de recursos dos nossos sonhos e ainda impõe respeito por onde passa. O 508 é a prova que os franceses podem sim produzir um veículo tecnicamente impecável em vez de se preocupar apenas com as aparências. O novo sedã topo de linha da Peugeot só peca por não ser alemão ou coreano, hoje os dois países mais conceituados nessa categoria.
Os números não mentem. Enquanto durou, o dólar baixo permitiu a muita gente sonhar com um Mercedes Classe C, BMW Série 3 e Audi A4. E, para quem não os admirasse, ainda existiam os ousados modelos coreanos da Hyundai e da Kia, hoje referência em matéria de design.
Essas marcas dominam a preferência daquele consumidor já bem sucedido na vida, casado e com filhos adolescentes ou adultos. E o que a Peugeot pretende fazer para fazê-lo tirar os olhos de carros como o Sonata, Azera e os três modelos alemães citados acima? Oferecer um carro tão atraente quanto eles e com itens de série que passam longe de parte desses concorrentes como ar-condicionado de quatro zonas, partida e freio de estacionamento elétricos, motor turbo com injeção direta e paddle-shifts no volante, entre outros diferenciais.
O pacote dessa proposta considerada irrecusável pela Peugeot sai por R$ 119.990, praticamente o mesmo que a Volkswagen cobra pelo Passat, outra marca na mira dos franceses.
Comportamento irretocável
Não é a primeira vez que a Peugeot tenta fazer bonito nesse segmento. A marca já vendeu no Brasil o belo 406 e o “felino” 407, ambos sem grandes resultados. Este último, por exemplo, sofria com os mesmos problemas de outros Peugeot e Citroën, o conjunto mecânico aquém da expectativa. Com o 508, a história é outra, a começar pelo acabamento cuidadoso e com o uso de materiais agradáveis.
Espaço interno é outro aspecto do qual não há como questionar: seu interior é amplo e a fileira traseira não sofre com o assoalho, que é quase plano. Aliás, quem vai no banco de trás conta com saídas individuais de ventilação e cortinas retráteis para reduzir a insolação. Os ocupantes do banco dianteiro também não têm do que reclamar: há ajustes elétricos para ambos e o motorista encontra facilmente uma posição correta de direção.
Apesar da profusão de botões e painéis, o 508 tem uma arquitetura bastante intuitiva e fácil de assimilar. Mas há novidades no primeiro contato com o carro.
Logo que se assume sua direção a primeira surpresa é saber que o botão de partida (com chave presencial) fica do lado esquerdo do painel, assim como num Porsche. Ao lado dele está o freio de estacionamento elétrico que nem precisa ser desligado manualmente ao sair com o veículo.
Ao contrário de outros Peugeot mais antigos, os comandos satélites do 508 ficam todos na parte frontal do volante, de formas volumosas e base achatada. Atrás dele estão os “paddle-shifts” que são fixos na coluna, diferentemente de alguns rivais.
O 508 traz ainda dois equipamentos de lazer, um sistema de som premium da marca JBL e o teto solar elétrico, todos de série já que não há opcionais no sedã.
Os equipamentos de segurança ativa e passiva não desapontam, mas há sistemas mais modernos em seus concorrentes que ainda passaram longe do sedã francês. Ou seja, nada de ACC (que freia o carro automaticamente em caso de colisão frontal) ou que alerta sobre um ponto cego na rua. O 508 é equipado com um sistema Park Assist, porém, de funcionamento limitado. Em vez de atuar numa baliza, o sensor do carro apenas identifica uma vaga ao medir seu tamanho.
Na estrada, o 508 mostra que a Peugeot se preocupou em tornar o sedã um carro extremamente confortável. O silêncio de rodagem é exemplar e a suspensão absorve as imperfeições do solo sem ser mole demais. Para quem está acostumado com esse segmento vai estranhar o motor que vem com o modelo, um mero 1.6.
Quer dizer, não é bem um mero 1.6 e sim o THP, um turbo com injeção direta, como dissemos, o que se traduz em torque em grande quantidade e em baixa rotação. São os mesmos 165 cv e 24,5 kgfm de torque que estão no esportivo RCZ. Trabalhando em conjunto com o câmbio automático de seis marchas também usado por outros modelos da marca, o 508 é prazeroso de dirigir, mas sem a mesma disposição vista nos seus irmãos menores e mais leves, justamente.
Mas um 1.6 não seria inadequado para um carro desse porte? Pode parecer que sim, e basta lembrar que o 407 tinha até versão V6, mas o 1.6 dá conta do recado sem consumir absurdos. Talvez um motor 1.8 com essa mesma tecnologia fosse o ideal, mas ele ainda não existe.
Equação difícil
Como se vê, não basta conceber um produto aparentemente sem defeitos. Ele precisa ser desejado e é exatamente nisso que a Peugeot ainda carece de possibilidades. O retrospecto de outros sedãs franceses é ruim e é com essa imagem que o 508 terá de brigar. O segmento executivo é um dos mais tradicionais do mercado, ou seja, tirar um cliente das marcas mais conceituadas é algo raro.
Se o 508 confirmar toda boa impressão que deixou – e isso envolve um pós-venda atencioso e uma garantia de 3 anos que funcione de fato – a Peugeot pode reverter essa situação nos próximos anos, mas será, sem dúvida, uma luta diária para convencer que existe um francês que vale mais a pena que um alemão ou coreano.