Parceria da Ford e Mahindra na Índia pode repercutir no Brasil
Fabricantes estabelecem joint venture de US$ 275 milhões; confira detalhes
Uma notícia importante foi protagonizada nesta quarta-feira (2) pela Ford e a Mahindra. As duas fabricantes estabeleceram uma parceria na Índia por meio de uma joint venture avaliada em US$ 275 milhões. A nova empresa terá o controle da Mahindra, detendo 51% da companhia recém-criada, apesar do conselho administrativo contar com representantes das duas marcas em igual número. A Ford, com 49% de participação, vai transferir suas fábricas de Chennai e Sanand para joint venture, que, espera-se, entrará em regime operacional na metade de 2020.
A notícia, a princípio, pode parecer um tanto quanto distante para nós aqui no Brasil, mas quando analisamos os reais motivos pelos quais a Ford decidiu estreitar os laços com a Mahindra, a decisão estratégica fica bem mais clara. A principal meta das fabricantes com a joint venture é atender em especial as demandas de países emergentes, como é o caso não só da Índia, mas também do Brasil.
Segundo informações de veículos da imprensa especializada indiana, pelo menos sete novos modelos deverão ser oriundos da parceria entre Ford e Mahindra, incluindo aí três novos SUVs. É sempre bom lembrar que Ford e Mahindra já estavam cogitando estreitar relações há um bom tempo, uma vez que haviam assinado uma parceria estratégica em 2017. Atualmente a Mahindra & Mahindra conta com o controle acionário da conterrânea Reva, especializada em veículos elétricos, e da sul-coreana SsangYong.
Entre os três novos SUVs, um deles será um modelo de médio porte, ao que tudo indica o sucessor do Mahindra XUV500. O produto deverá utilizar a plataforma W601, co-desenvolvida entre a Ford, Mahindra e SsangYong, porém com algumas atualizações. O modelo contará com a próxima geração do motor 2.2 turbodiesel da Mahindra e a Ford terá uma variante do modelo com design interno e externo exclusivos e alguns aprimoramentos estruturais para garantir o bom padrão de comportamento dinâmico dos carros com a chancela da marca norte-americana.
Outro SUV será um modelo de porte compacto, chamado até o momento pelo nome de projeto B763. Segundo bastidores, ele deverá compartilhar elementos com o Mahindra S201 e garantir diferenciais estéticos e técnicos para cada uma das marcas.
Entre os modelos atuais, o Ford EcoSport, por exemplo, deixará de oferecer o motor 1.0 EcoBoost na Índia em 2020 e passará a utilizar o propulsor 1.2 turbo da Mahindra, que cumpre as novas normas de emissões do país.
Um ponto muito interessante da parceria entre Ford e Mahindra é que as duas empresas também vão dedicar mais atenção ao desenvolvimento de carros elétricos específicos para mercados emergentes. Isso pode resultar em produtos com preços mais acessíveis, hoje o principal entrave para uma maior popularização desse tipo de veículo.
Pelos termos da parceria, a ideia é que a Mahindra tenha acesso à rede de distribuidores Ford em especial em mercados emergentes, ajudando a fabricante indiana a globalizar suas operações. Segundo a Mahindra, existe potencial para a marca atingir mais de 100 mercados emergentes, incluindo Rússia e regiões da África, Oriente Médio, entre outras.
Como a Ford parece cada vez mais longe de investir em pesquisa e desenvolvimento aqui no Brasil, é importante ficarmos atentos em tudo o que ocorre com a fabricante ao redor do mundo, em especial para estratégias de longo prazo e que possam influenciar também o nosso mercado.
“Economias emergentes, incluindo a Índia, vão responder por uma em cada três vendas de veículos ao redor do mundo no futuro. A joint venture com a Ford resultará em um portfólio de produtos distinto, mas com plataformas e conjuntos mecânicos compartilhados. Esses modelos contarão com a mais recente tecnologia, alta qualidade e os elevados padrões de engenharia da Ford e da Mahindra, a um custo otimizado”, declarou Pawan Goenka, diretor administrativo da Mahindra, em comunicado.
“Nós precisamos evoluir por caminhos novos e mais rápidos, não apenas agradando nossos consumidores ao redor do mundo, mas também resolvendo suas mais diferentes necessidades. Alianças fortes como a que apresentamos hoje terão um papel crucial ao assegurar que nós continuaremos atingindo nossa visão, enquanto, ao mesmo tempo, vamos permanecer competitivos e entregando valor aos nossos acionistas globais”, completou Jim Hackett, presidente e CEO da Ford.
A Mahindra teve uma atuação discreta no Brasil entre 2007 e 2015, quando chegou a comercializar o modelo Scorpio nas versões picape e SUV. Montados em Manaus (AM) em parceria com a Bramont, a produção foi suspensa em meio à crise do mercado. Desde então a fabricante indiana não considerou atuar de maneira mais destacada no país.