Para compensar preço salgado, dono de carro elétrico no Brasil precisaria ir e voltar até a Lua
Diferença entre um Renault Zoe e um Kwid obrigaria seu proprietário a rodar mais de 700 mil km para recuperar investimento extra
O Salão do Automóvel 2018 marca a maior investida das montadoras nos carros elétricos no Brasil. Além de diversões modelos apresentados, algumas marcas colocaram seus veículos para serem testados pelos visitantes enquanto três fabricantes anunciaram a venda de automóveis 100% movidos a eletricidade.
Com maior autonomia e um design que pouco foge do estilo dos carros movidos a combustão, Nissan Leaf, Chevrolet Bolt e Renault Zoe parecem ser o início de uma nova era, mais limpa e consciente no Brasil. Mas na prática eles estão bem longe de serem alternativas viáveis para o consumidor nacional. E a razão é simples: os preços pedidos por eles no país ultrapassam de longe o bom senso.
Ida e volta até a Lua
Mesmo com o “esforço” de Brasília em aprovar uma nova legislação que beneficia os veículos ecológicos dentro do plano Rota 2030, aprovado nesta semana, o incentivo para esse tipo de veículo é pífio. Algum desconto de IPI e uma complexa conta para que as montadoras recuperem parte do investimento. Apenas os taxistas deverão receber um desconto de IPI e IOF se optarem por esses carros, algo que já existe em relação aos modelos emissores de poluentes como o dióxido de carbono.
Ou seja, pagar mais de R$ 178 mil por um Nissan Leaf é uma insanidade ou, na melhor hipótese, uma consciência ecológica só acessível a gente com muito dinheiro sobrando. Mesmo se levarmos em conta o Renault Zoe, o hatch compacto elétrico que a marca francesa lançou no salão por R$ 149.990 a conta não fecha.
Pequeno e um tanto apertado, o Zoe é capaz de rodar um quilômetro gastando apenas 10 centavos de real, segundo a Renault. Algo maravilhoso não fosse o fato de que um Kwid da mesma montadora capaz de gastar 25 centavos para percorrer a mesma distância com etanol - baseado na média nacional de preços divulgada pela ANP.
Em outras palavras, os 15 centavos de economia por km rodado exigiriam que o dono do Zoe percorresse nada menos que 720.000 quilômetros para recuperar os R$ 108.000 desembolsados a mais pelo carro elétrico em relação ao Kwid Intense, versão mais equipada do compacto nacional. Claro que o importado é um carro mais sofisticado e caro de produzir, mas nada justifica tamanha diferença.
Se você não consegue imaginar o que significa essa distância basta dizer que é quase ir da Terra à Lua e voltar (768,8 mil km em média). Se existisse uma “estrada” entre nosso planeta e o satélite natural nosso hipotético motorista levaria 400 dias dirigindo a 80 km/h de forma ininterrupta para já quase de volta à Terra “comemorar” o fato de passar a economizar dinheiro com seu veículo.
Um empurrão, não um soprinho
Há quem vá argumentar que hoje, por não existir uma produção em grande escala, o carro elétrico não tem como ser viável economicamente, o que é um fato. Mas a disparidade entre o preço de um automóvel ecológico e um a combustão no Brasil não encontra paralelo nas nações mais desenvolvidas.
Na França, por exemplo, a própria Renault cobra cerca de R$ 87 mil pelo mesmo Zoe Intense oferecido no Brasil. Mas lá um carro semelhante ao Kwid como o Twingo custa pouco mais de R$ 60 mil, uma diferença de R$ 27 mil (45% a mais pelo elétrico) enquanto o Zoe vendido aqui equivale a mais de três Kwid Intense (R$ 42 mil).
Em suma, o mercado de carros híbridos e ecológicos precisa de um empurrão e não de um "soprinho" para sair do lugar. Isso se traduz em isenção total de impostos mas que seja dada ao comprador do veículo e não para a cadeia produtiva que, como se sabe, nem sempre faz esse “incentivo” chegar à tabela de preços. Algo como vemos no mercado PCD e que tem surtido efeito nas vendas. Quem sabe até mesmo oferecer os elétricos para esse público não seria nada mal.
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