Os 40 anos do VW Gol, o carro mais vendido do Brasil - parte 1
Na primeira parte do especial sobre o Volkswagen Gol, contamos um pouco da história da primeira geração, que foi do quase fracasso para a liderança nas vendas
Na metade dos anos 70, a Volkswagen já começava pensar em um substituto para o seu maior sucesso no mercado nacional – o Fusca. E ela sabia que precisava de um produto moderno e icônico que fizesse a cabeça dos consumidores, assim como seu consagrado modelo.
Projeto BX
Para isso, a marca germânica buscou algumas inspirações dento do seu portfólio. No mercado europeu, a Volkswagen já tinha dois nomes de peso, o Polo e o Golf mas que seriam caros demais para produzir por aqui. A solução era buscar inspiração neles e adicionar o toque brasileiro nessa composição.
Embora bem mais moderno que o Fusca, o novo modelo deveria ter uma boa suspensão – firme e rígida, mas que também trouxesse conforto aos passageiros. A solução foi utilizar a base do primeiro Polo europeu e adaptá-la para as condições das nossas ruas e estradas.
Essa plataforma foi projetada por Phillip Schmidt – pai do Polo europeu – que fora transferido para o Brasil para ser o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Volkswagen e assim dar início ao futuro projeto BX, como era chamado internamente o Gol. Os primeiros esboços começaram a ser criados em maio de 1976, e o primeiro protótipo surgiu em dezembro de 1977.
Assim como o Passat, o projeto BX teria um design mais anguloso com apenas duas portas, vidro traseiro inclinado, com motor e tração dianteiros. No entanto, a referência de estilo não foi o Polo ou o Golf mas sim o Scirocco, uma versão esportiva do Golf que inspirou e muito o hatch nacional.
Design resolvido, era hora de escolher o nome. Alguns foram propostos, mas para seguir a mesma tradição que os hatches da marca adotavam (com nomes relacionados a esportes) o nome Gol foi sugerido pelo jornalista Nehemias Vassão, que fazia jus à paixão nacional, o futebol.
Com o nome escolhido, a Volkswagen agora precisava encontrar uma forma de reduzir custos para produzir o novo carro no país. A solução encontrada, no entanto, cobraria caro da marca nos primeiros anos. Em vez de utilizar motores transversais, o Gol utilizou o motor montado na posição longitudinal – prática que durou até meados de 2008. Para complicar a situação, a VW resolveu adaptar o motor arrefecido a ar de 1.3 litro do Fusca para estrear no Gol.
Primeira geração – 1980 a 1994
A primeira geração chegou ao mercado brasileiro em maio de 1980 em duas versões, a básica e L. O desenho era moderno e remetia à esportividade, os faróis eram pequenos e retangulares e a carroceria tinha uma boa área envidraçada, o que ajudava a criar uma sensação de amplo espaço interno.
A traseira tinha lanternas também pequenas e quadradas, dando um toque minimalista ao desenho geral do carro. O interior possuía alguns elementos oriundos de modelos mais caros como o Passat e da Variant II. O porta-malas oferecia generosos 380 litros de espaço pois o estepe ficava dentro do cofre do motor.
O motor 1.3 arrefecido a ar do Gol possuía 42 cv e 9,2 kgfm de torque associado ao câmbio manual de 4 velocidades também herdado do veterano Fusca. Com uma concepção mais antiquada do que os motores refrigerados a água, o Gol teve uma recepção morna no mercado.
O desempenho aquém da expectativa fez a Volkswagen oferecer outro motor no ano seguinte, o 1.6 ainda refrigerado a ar, mas com dupla carburação e 51 cv de potência e 10,5 kgfm de torque. Com esse novo motor, o compacto fazia o 0 a 100 km/h em 15,4 segundos e atingia os 143 km/h de velocidade máxima.
E assim como os seus concorrentes, o Gol criaria ramificações. Em 1981 era lançado o sedan Voyage, que utilizava uma dianteira levemente alterada, em comparação ao Gol, e uma perua, a Parati, que chegaria ao mercado nacional em junho de 1982. A família ficaria completa em setembro do mesmo ano com a picape Saveiro.
Mas ainda faltava tempero ao Gol. Foi assim que em março de 1984, a Volkswagen resolveu dois problemas de uma vez, introduziu um motor refrigerado a água e de quebra criou uma versão esportiva à altura do concorrente Ford Escort XR3. Sim, estamos falando do Gol GT, equipado com o motor 1.8 nas versões a etanol ou gasolina que entregava 99 cv e 14,9 kgfm de torque. Com esse novo propulsor, o Gol GT era capaz de ir de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos e atingir a velocidade máxima de 180 km/h.
O Gol GT se diferenciava pela grade na cor da carroceria, faróis de longo alcance montados na grade, defletor sob o para-choque, rodas de alumínio de 14 polegadas com desenho inédito, e o icônico adesivo GT instalado no vidro traseiro – que fora inspirado na versão esportiva do Scirocco.
No interior, o Gol GT contava com os aclamados bancos Recaro, console com relógio digital, instrumentos com grafia vermelha, e o mesmo volante do Passat TS. A suspensão também ganhava um acerto novo, ficando mais firme, com direito a novas molas dianteiras, uma barra estabilizadora maior e novos amortecedores.
Ainda em 1984, a Volkswagen introduzia o motor MD270, um 1.5 litro arrefecido a água com 78 cv e que no ano seguinte, passou a ter 1.6 litro e entregar 81 cv e 12,8 kgfm de torque. A dianteira do hatch recebia o mesmo layout do Voyage – com faróis separados das luzes de seta – e o estepe foi realocado do cofre do motor, para dentro do porta-malas.
O primeiro facelift
Ainda na primeira geração, a linha Gol ganhou pequenos retoques concentrados na dianteira e traseira, em 1987. Os faróis retangulares passaram a ser mais integrados à carroceria e as luzes de seta foram adicionadas a el. A grade dianteira ficava levemente mais baixa, e o para-choque dianteiro tornou-se mais volumoso.
A traseira ganhava novas lanternas – que agora também adotavam o formato retangular – o que ajudava a passar a sensação de o carro era mais largo do que realmente era. De quebra, o Gol ganhava uma nova versão esportiva, a GTS que substituía o GT e trazia como diferencial molduras laterais e spoiler traseiro, entre outros detalhes.
Enquanto o exterior estreou em 1987 o interior do Gol só mudaria em 1988, com dois layouts: um mais refinado, e outro mais simples. Algumas peças do interior eram compartilhadas com o Santana – como as teclas próximas ao volante, e o quadro de instrumentos. E no Salão do Automóvel do mesmo ano, a Volkswagen apresentava o Gol GTi – o primeiro nacional com injeção eletrônica de série.
GTi
Dotado de um motor AP 2.0 com injeção eletrônica, o Gol GTi entregava 112 cv – a Volks dizia 120 cv – e 18,3 kgfm de torque. Com esse novo motor e nova tecnologia, o Gol GTi fazia o 0 a 100 km/h em 8,8 segundos e atingia a velocidade máxima de 185 km/h. Além disso, ele ganhava um visual e uma cor exclusivas – o azul Mônaco.
A pintura era bicolor, com a carroceria pintada de azul, e a parte dos plásticos, tinha tons mais claros – como o branco ou cinza – e ainda o modelo ostentava belas rodas de liga leve.
No interior, os bancos ganhavam encosto de cabeça vazados, volante com revestimento de couro e quadro de instrumentos com iluminação vermelha. Essa versão a princípio foi limitada a apenas 2.000 unidades.
A Autolatina surge
Um ano antes de apresentar o Gol GTi, a Volkswagen se juntou com a Ford para criar a Autolatina – que fazia com que as duas empresas trocassem know-how e expertise dos seus produtos entre si.
Foi assim que surgiram alguns modelos interessantes, como o Ford Escort com o motor 1.6 AP e o Gol CL com motor CHT – que era de origem Renault, mas foi rebatizado de AE-1600. Com isso, era possível ter um Gol mais econômico – com os motores da Ford – e encontrar versões do Escort com motores mais potentes, oriundos da Volkswagen.
O segundo facelift
O segundo facelift feito na primeira geração do Gol foi apresentado em 1991, quando o modelo ganhava faróis e lanternas mais amendoadas, e grade ligeiramente menor e mais estreita, se comparados com o primeiro facelift do modelo. Ainda nesse mesmo ano, o Gol GTi também recebia as mesmas novidades visuais do restante da linha, com destaque para as novas rodas de liga leve – que por muitos anos foram sonho de consumo de muitos admiradores da Volkswagen. Já para 1992, a Volkswagen apresentava o Gol 1000 – uma resposta direta ao Fiat Uno Mille com motor 1.0.
O Gol 1000 tinha um acabamento mais simples, e era equipado com o motor 1.0 que entregava 50 cv e 7,3 kgfm de torque. O mesmo motor também foi usado pelo Escort Hobby, mas com uma diferença de seis meses entre um lançamento e outro.
Nessa época, o Gol já liderava o ranking de vendas há mais de cinco anos e sua mecânica, confiabilidade e desempenho encantavam muitos clientes. No entanto, a abertura das importações de veículos em 1991 iria mudar o panorama do mercado nos próximos anos quando a segunda geração do Volkswagen foi lançada.
Confira nesta sexta-feira a segunda parte do especial sobre os 40 anos do Gol.