Obituário dos carros: quem se foi em 2019
O ano termina com várias despedidas, incluindo carros que ficaram no mercado por muito tempo
Foi-se o tempo em que modelos de carros permaneciam no mercado por anos a fio. Com a mudança no humor do consumidor e os altos e baixos da economia, a quantidade de automóveis que dão adeus às concessionárias é sempre significativa, como ocorreu em 2019.
Veja a seguir quais foram as despedidas do ano e também alguns carros e marcas que andam na UTI.
Campeão no exterior, fracasso no Brasil
Se existe uma marca perdida no Brasil ela se chama Ford. A montadora americana anda em uma entressafra imensa, com poucos modelos vendendo bem. Para estancar seu prejuízo, a marca fechou a histórica fábrica de São Bernardo do Campo, dando adeus ao segmento de caminhões, mas também encerrando a produção do Fiesta, único automóvel produzido nela. É, no entanto, um enorme contrassenso visto que os hatches compactos premium estão em alta por aqui e o Fiesta acaba de ganhar nova geração no exterior e continua a vender bem. É uma despedida triste para um carro que já estava há 25 anos no Brasil.
Mais uma perua falece
Em outubro outro modelo há bastante no mercado deu adeus oficialmente. A perua SpaceFox deixou de ser oferecida no site da Volkswagen após o fim do estoque – o modelo havia saído de linha em janeiro na Argentina. Lançada em 2006, a perua trazia alguns elementos de minivans, como a boa altura interna, e teve até versão cross, descontinuada no ano passado. A SpaceFox abriu espaço, no entanto, para mais um SUV que será produzido no vizinho.
Subcompactos em baixa
Não é de hoje que os hatches subcompactos, com quatro lugares, são ignorados pelo consumidor. O brasileiro, de fato, não vê valor em um produto tão pequeno e caro, geralmente. A Kia sentiu isso com o Picanto, seu menor modelo e que estava por aqui desde 2007. Tentou trazer uma versão mais esportiva, mas não houve interesse.
Outra que tinha grandes planos com um subcompacto era a Audi. Quando lançou o A1 no Brasil em 2011, a marca alemã poderia ter atraído um público novo, porém, cobrou caro pelo pequenino e nunca vendeu bem. A nova geração, lançada na Europa, está fora dos planos por enquanto.
Mas nem só carros pequenos e caros falham. A CAOA Chery bem que tentou fazer o QQ emplacar, mas o hatch, mesmo barato, não convenceu os clientes a levá-lo para casa. No mês passado, o hatch deixou de ser exibido no site, mas já vinha perdendo espaço no mercado. A marca já deixou claro que pretende focar em veículos mais sofisticados como seus SUVs Tiggo.
A PSA encolhe portfólio
Curioso como outras marcas não suportam vender um volume razoável de determinado modelo, mas a Peugeot Citroën insiste em manter certos carros que já não se justificam há muito tempo. A Citroën, por exemplo, enfim desistiu de importar a minivan C4 Picasso este ano. Embora seja um carro bastante agradável, versátil e até com um preço aceitável, ele já é um dinossauro no mercado brasileiro.
Mas é a Peugeot que tem maior predileção a perder dinheiro. A dupla 308 e 408 mal era notada nas lojas, porém, a marca continuava a oferecê-los até o começo do ano quando enfim capitulou. O hatch médio realmente não tinha sentido em um segmento já morto, mas o sedan é um caso a ser estudado. Embora tenha um pacote técnico bom e bastante espaço, o 408 foi ignorado por aqui: seu melhor ano (2012) equivale à venda de um mês do Corolla.
SUV dando adeus?
Pois é, há quem não conseguiu vender nem mesmo utilitário esportivo, a JAC. Seu primeiro modelo do gênero no Brasil, o T6, ficou apenas quatro anos à venda, acumulando 1.900 unidades emplacadas. No ano de estreia, o SUV médio até não fez feio, mas a ausência de transmissão automática e um motor turbo um tanto beberrão mataram qualquer chance de sucesso. Agora, a marca chinesa acaba de lançar o T60, modelo um pouco menor e mais atual.
Carros para a família Adams
Acha que a maior parte dos modelos que oferecem sete lugares são apertados? Então você precisa conhecer o JAC T8 e o Mercedes-Benz Vito, verdadeiras vans para sete e oito pessoas. Quer dizer, não precisa mais já que os dois deixaram de ser vendidos no Brasil.
A JAC tinha planos ambiciosos para o T8, lançado no ano da Copa do Mundo do Brasil, e que poderia ser um veículo executivo ou para turistas. Mas somente 650 unidades foram vendidas. Assim como o T6, ele usa o motor turbo 2.0 pouco eficiente e um câmbio manual sofrível. Também não era barato, mas há que se levar em conta que esse segmento inexiste em nosso país, infelizmente.
Prova disso é que nem a Mercedes conseguiu emplacar o Vito, que era produzido na Argentina e também vendido na versão utilitária. Com peso inferior à Sprinter, a van pode ser dirigida por motoristas com habilitação do tipo B, ou seja, a maior parte deles, o que deveria ser um atrativo, mas o Vito teve menos de mil unidades emplacadas.
Adeus ao Golf nacional
É verdade, o Golf ainda é vendido no Brasil, mas apenas na versão GTE, importada. Embora seja da geração VII, ele pode ser substituído pelo Golf 8 no futuro, mantendo o icônico Volkswagen à venda por aqui, mas não deixa de ser um fato a lamentar o fim da produção nacional do modelo. E justamente em uma das suas melhores edições, culpa da mudança do consumidor, que hoje está mais de olho nos SUVs. Nesse embalo também faleceu a perua Golf Variant, que era importada.
Sabático?
Quem resolveu tirar umas férias foi o sedan Elantra. O modelo da Hyundai, é verdade, nunca teve uma carreira muito marcante no Brasil – no melhor ano, em 2012, foram emplacadas quase 8 mil unidades -, mas é um carro importante para a marca sul-coreana. Por isso não será estranho que ele retorne em nova fornada em 2020. A conferir.
Zumbis asiáticos
Duas marcas tiveram um 2019 tenebroso, a Lifan e a SsangYong. A chinesa deixou de montar seus carros no Uruguai culpando o dólar elevado, mas é nítido que a marca perdeu força no mercado, sem modelos minimamente interessantes. Sem carros e rede, ela deve terminar 2019 com cerca de 230 emplacamentos. Um recente acordo com a Brilliance, outra chinesa, deve reabrir a linha de montagem uruguaia, mas ignora-se se será suficiente para uma retomada no Brasil.
Já a sul-coreana SsangYong, hoje parte da Mahindra, marca indiana que abandonou nosso país há alguns anos, nega que tenha desistido da nova empreitada, lançada em 2017. A empresa diz ter vendido os 135 carros que importou no primeiro lote e que planeja novos lançamentos nos próximos meses. A tarefa, no entanto, não será fácil, como tem ficado bastante claro para os importadores. Afinal de contas, figurar no obituário por duas vezes nos últimos anos é algo para lamentar.