O que o novo Polo nos diz sobre a ''nova Volkswagen''
Hatch passa a mostrar um novo posicionamento da marca alemã que veremos aqui no Brasil daqui para frente
Baixada a poeira do lançamento, vale a pena tirarmos algumas lições sobre o que significou a estreia da sexta geração do Polo no Brasil, modelo que apresenta aos brasileiros um reposicionamento da marca VW (e do grupo VW como um todo) em escala global, algo a que seus executivos preferem chamar de uma “nova Volkswagen”.
Provando que até mesmo as crises mais graves colaboram para o crescimento de qualquer entidade, esse trabalho dentro dos portões de Wolfsburg, cidade alemã que abriga a sede do conglomerado alemão, começou após o escândalo de manipulação no nível de emissões de vários carros a diesel do grupo, crime que manchou não só a reputação da marca Volkswagen como também deixou uma cicatriz na fama da engenharia alemã e até mesmo abalou o forte mercado europeu de automóveis de passeio movidos a diesel.
Após pesadas multas e intervenções governamentais, tudo isso motivou a Volkswagen a adotar novas posturas e esquemas administrativos que visam não só aprimorar a governança como também conferir mais liberdade às operações da marca em diversos mercados. A Volkswagen, que era uma empresa notoriamente centralizadora, fazia questão que todos projetos contassem sempre com a participação e a chancela da matriz.
Essa postura, entretanto, retirava grande parte da competitividade da Volkswagen em especial frente às concorrentes mais dinâmicas. Além disso, quase sempre pressionadas por resultados e muitas vezes sem o apoio desejado da matriz, algumas subsidiárias faziam malabarismos para contornar a buracria interna da gigante alemã. Esse comportamento é apontado por alguns especialistas como uma das causas para a fraude no sistema de controle de emissões, em especial nos veículos vendidos nos EUA. Essa menor dependência das subsidiárias em relação ao escritório central de Wolfsburg, que começa a ser implatado a partir de agora, é um caminho que tem tudo para entregar frutos interessantes.
Nos voltando para o Brasil e falando especificamente da linha de produtos, o primeiro grande marco dessa “nova Volkswagen” começou a ser visto com a estreia do up! 2018, onde a empresa enxugou grande parte das versões do modelo tornando a gama mais racional para a linha de produção, concessionários e, é claro, os consumidores.
Posteriormente isso começou a se espalhar para o restante da linha, como notamos recentemente com o Fox e sua resiliente derivação station wagon, o SpaceFox. Ambos, contudo, deverão abrir espaço na linha de montagem de São José dos Pinhais (PR) para produtos mais inovadores.
O ápice da “nova Volkswagen” começa a surgir mesmo no Brasil a partir do novo Polo, modelo que inaugura uma esperada renovação completa da gama de modelos da VW por aqui. A Volkswagen declarou que vai começar a próxima década exibindo 20 novos produtos em suas concessionárias. A conta já começa a valer com o Polo, portanto veremos um ritmo intenso de lançamentos da VW a partir de agora.
Podemos esperar dessa nova linha VW no Brasil conjuntos mecânicos bem modernos e eficientes, em grande parte capitaneados pelo uso do motor 1.0 TSI em suas diferentes opções de calibração. A nacionalização da plataforma modular MQB, que chegou com a sétima geração do Golf, também permitirá à Volkswagen produzir aqui modelos com alto nível de segurança, como já constatamos no Polo, além de um comportamento dinâmico elogiável.
É bem possível que ao avançarmos para além de 2020, a gama Volkswagen oferecida no Brasil mude consideravelmente. Dentre as novidades, já temos como certeza a chegada da nova geração do Tiguan em primeiro lugar com sua inédita carroceria 7 lugares, além dos também renovados Jetta e Touareg. Modelos como o Fox e a SpaceFox devem dar adeus, o que já ocorreu com os aventureiros CrossFox e Space Cross. A gama de compactos, contudo, ganhará o reforço do sedã Virtus logo no início de 2018, bem como a companhia de uma picape acima da Saveiro e um aguardado SUV.
Se a Volkswagen olha na concorrência de Renault Duster Oroch e Fiat Toro para desenvolver sua picape, o bem sucedido Jeep Compass também deverá inspirar um novo produto que eventualmente pode sair das fábricas brasileiras da VW. Com porte um pouco acima dos compactos e não tão grande como os SUVs médios, é fato que a receita do Compass acertou em cheio e pode inspirar outras fabricantes a trilharem esse mesmo caminho.
O Gol, por sua vez, é um dos poucos modelos que deverá resistir na gama da alemã até mesmo por sua força no mercado brasileiro. Vale destacar que, se perdeu espaço para concorrentes como o Chevrolet Onix e o Hyundai HB20, o Gol ainda se mantém muito vivo no ranking de vendas, sempre figurando nas posições mais altas do levantamento. Claro que ele deverá receber alguns aprimoramentos seja no visual ou na lista de equipamentos, mas é certo que o Gol possa figurar como uma alternativa mais racional ao up! para quem busca um modelo de entrada, no futuro contando apenas com motor 1.0 e preço mais camarada, nos modelos do que a Chevrolet pensou quando colocou no mercado o Onix Joy.
Por falar em preço e custo, a tendência é que a Volkswagen também atente cada vez mais para o custo de propriedade de seus modelos, tornado os valores de peças e revisões cada vez mais competitivos.
Se tinha a fama, ao lado da Honda, de oferecer produtos mais caros dentro de cada segmento, outra tendência que vamos notar nessa “nova Volkswagen” é uma precificação cada vez mais agressiva por parte da marca. Bastar notar, por exemplo, os valores de opcionais para o novo Polo. Mesmo o arrojado painel de instrumentos digital, uma exclusividade do hatch até então no segmento, não é algo tão longe de ser almejado já que ele faz parte de um pacote (Technology Pack) de R$ 4.500 que também traz consigo recursos como central multimídia com câmera de ré e navegador, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, sensor de chuva, acendimento automático dos faróis, dentre outros.
Amparada em tecnologia, custo-benefício melhor trabalhado, dispondo de conjuntos mecânicos eficientes além de sintonizar a gama futura com os modelos que o público brasileiro mais deseja, a “nova Volkswagen” tem tudo para se tornar muito mais competitiva e alcançar o topo do ranking em termos de participação no mercado nacional. Seguramente, em breve, veremos a concorrência se mexer de olho nas movimentações da alemã.