O que impede a Renault de vender a picape Alaskan no Brasil?
Modelo produzido no vizinho compartilha a mesma base da Nissan Frontier, que é importada para cá, mas tradição do segmento de picapes médias pode ser um entrave
A Alaskan é um daqueles mistérios sem pé nem cabeça do mercado de veículos no Mercosul. A picape média é produzida pela Renault-Nissan na Argentina desde 2020 e é na prática uma Frontier com adereços da marca francesa.
Quando anunciou sua fabricação em Santa Isabel, no país vizinho, a Renault confirmou que ela seria vendida também no Brasil. Mas no ano passado a montadora mudou de ideia e preferiu focar apenas no mercado argentino, onde ela tem tradição nesse segmento.
Na época, a decisão parecia fazer sentido, mas tudo pode mudar, conforme afirmou o presidente da Renault na Argentina na semana passada. Pablo Sibilla disse à agência de notícias Telam que a meta é vender a Alaskan no Brasil, possivelmente a partir de 2022.
Por trás da afirmação está o desejo da marca de concentrar a produção da picape na Argentina e exportá-la para outros mercados da região como Chile e Colômbia, onde, acreditem, ela também é montada – com a mudança, a linha seria extinta.
A grande questão é saber o que impede a Alaskan de ser comercializada no Brasil, país que absorve a maior parte da produção de picapes médias produzidas na região. Até abril, foram emplacadas mais de 35,5 mil unidades dessa categoria e no ano passado, o total passou de 107 mil veículos, ainda menos que os 132 mil de 2019, portanto, antes da crise sanitária.
Ou seja, ignorar o Brasil parece um ato de insanidade para um produto que precisa de volume de produção para se justificar.
Cliente diferente
Porém, como dito no início do texto, o mercado de utilitários é complexo e porque não dizer conservador. Comprar uma picape média não é uma atitude impulsiva ou tão emocional como levar um SUV para casa. Os clientes desse tipo de veículo analisam vários fatores que vão da capacidade à confiabilidade e resistência.
Por tudo isso, convencer um potencial consumidor a trocar uma Hilux ou uma S10 por uma Alaskan é sem dúvida uma tarefa das mais difíceis. Não faltam exemplos de experiências ruins como a da Peugeot com a picape compacta Hoggar ou da própria Renault com a Oroch.
A experiência da Nissan com a Frontier também não inspira muito otimismo. Depois que resolver trocar a linha de montagem do Brasil para a Argentina, a picape nunca mais foi a mesma em volume de vendas. Em 2019 e 2020 foram cerca de 8 mil unidades emplacadas, menos da metade do que o modelo brasileiro vendeu em 2012.
Ou seja, a resistência da filial brasileira é compreensível. Investir na rede e na promoção do modelo por aqui pode não corresponder à expectativa. Por outro lado, a Renault deseja elevar o ticket médio de seus veículos e buscar uma operação lucrativa. Nesse cenário uma picape média é um senhor item no portfólio, não há dúvida.