O que acontecerá com os carros mexicanos se Donald Trump fechar a fronteira dos EUA?
Produção de veículos no México supre a América do Norte, mas desde março passou a ter isenção de impostos no Brasil. A questão é: esses modelos sobreviverão sem o consumidor americano?
O falastrão Donald Trump é um deleite para as redes socais com suas frases polêmicas como a recente ameaça de fechar a fronteira dos EUA com o México como “antídoto” para a imigração ilegal. A afirmação causou pânico na indústria automobilística americana afinal suas fábricas dependem de componentes trazidos justamente vizinho do sul.
O impacto de tal ação, no entanto, é mais profundo. Hoje o México produz quase 4 milhões de veículos por ano e exporta nada menos que 3,5 milhões deles, a absoluta maioria para os EUA, graças ao NAFTA, o acordo comum do qual eles fazem parte.
Ou seja, sem o mercado norte-americano para viabilizar a produção de inúmeros modelos, a indústria mexicana não se sustenta. A principal afetada nesse caso é a General Motors, cuja exportação do México somou 834 mil carros no ano passado. É quase o dobro do que ela vendeu no Brasil em 2018, para se ter uma ideia do tamanho da encrenca.
Além da GM, a Nissan, com 762 mil veículos, a FCA (639 mil) e Volkswagen (435 mil) seriam outras montadoras que teriam sérios problemas com o fechamento da fronteira. Há pelos menos 30 modelos produzidos no México que seriam proibidos nos EUA, parte deles também enviada paa o Brasil.
Mas, afinal, se essa hipótese de fato ocorrer, como ficariam esses veículos por aqui? É uma pergunta curiosa. O Brasil acabou de liberar a importação de carros mexicanos sem impostos, mas com a exigência de 40% de conteúdo nacional – a regra vale para os dois lados. A Anfavea tem tentado barrar a medida, mas o governo brasileiro até aqui negou qualquer mudança.
Sem condições de substituir o mercado dos EUA
Numa avaliação inicial, o resultado disso para nosso mercado seria ruim. A razão é simples: mesmo com um custo de produção mais baixo, o carro mexicano depende da demanda americana para ser produzido em volumes para ser viável comercialmente. Sem isso certos modelos despencariam a ponto de terem sua fabricação ameaçada.
Pegue-se o caso do SUV Equinox, da Chevrolet. O modelo teve 25 mil unidades vendidas em fevereiro nos EUA. Já no Brasil, o mesmo veículo mexicano emplacou 437 veículos, ou 1,7% do volume norte-americano. Em outras palavras, a GM não conseguiria dar vazão a essa produção em mercados como o brasileiro mesmo que ele não pague impostos. E para isso seria necessário comprar peças brasileiras para montá-lo no México, uma hipótese ainda mais difícil.
Nessa mesma situação encontram-se outros modelos como o Nissan Sentra, o Jetta e o Tiguan, da Volkswagen. Outras marcas, no entanto, não enviam tantos carros do México a ponto de verem suas estratégias tão abaladas. Seria o caso da Kia (Cerato), FCA (RAM e Journey) e Audi (Q5), cujos volumes são baixos e podem ser substituídos por outras fábricas.
Outro modelo importante que vem do México é o Tracker, lá conhecido como Trax. Mas o SUV compacto está prestes a mudar de geração e ignora-se exatamente onde a Chevrolet o produzirá. Como o segmento de SUVS compactos é o mais aquecido no Brasil não seria absurdo que a GM tivesse já decidido ter um produto local, capaz de enfrentar em melhores condições Renegade, HR-V, Kicks e Creta, todos nacionais e mais bem colocados.
De repente, Trump é capaz de dar uma mãozinha para seu “amigo” Bolsonaro sem querer.
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