O que a Chevrolet busca com o novo Onix Sedan
Sedan compacto, que será lançado até o final do ano, promete ser uma opção mais refinada e eficiente que o atual Prisma
Desde que abandonou a estratégia de produzir modelos da Opel no Brasil, a Chevrolet tem sido pragmática ao pensar em seu portfólio no país. Soluções sob medida para nosso mercado como o Celta, Agile ou Spin acabaram substituindo carros conhecido como o Corsa ou Meriva e mesmo quando lançou o bem sucedido Onix, a montadora ofereceu apenas o que importava para o modelo agradar.
Nessa receita frugal, o compacto trazia como principal chamariz a central multimídia MyLink, mas insistia em motores antigos de 8 válvulas. Enquanto não era obrigada a divulgar os números de consumo desses propulsores, a GM escondeu o jogo, mas quando isso foi inevitável mexeu o suficiente para que o carro atendesse os requisitos do programa Inovar Auto. Algo semelhante ocorreu quando o Onix foi mal no teste de impacto do Latin NCAP. Embora tenha reclamado na época, a marca reforçou a estrutura do compacto pouco tempo depois.
Felizmente essa fase parece estar com os dias contados. A montadora, em que pese ter ameaçado deixar o país por conta de prejuízos na verdade tem investido numa linha de produtos mais avançada e dentro da expectativa do público.
O primeiro modelo dessa nova safra será o Onix Sedan, provável nome do sedan compacto que chegará ao mercado brasileiro no segundo semestre. O novo carro foi revelado na China na semana passada durante o Salão de Xangai e, embora tenha diferenças em relação à versão brasileira, antecipa muita coisa que veremos por aqui.
Mas afinal que carro será esse? A Chevrolet, que levou jornalistas para conhecer os bastidores dos preparativos para seu lançamento, garante que “a segurança será um pilar fundamental”, num sinal de que não pretende passar pelo mesmo vexame da época do Onix.
A montadora também garante que o Onix Sedan não tomará o lugar de nenhum carro atual. O recado principal é em relação ao Prisma, claro, que deve seguir em produção como modelo de entrada, mas serve para garantir que o Cobalt, sedan de dimensões maiores mas com demanda apenas razoável, acabe não sendo eleito vítima da chegada do novo carro. Porém, é certo que não há espaço para três sedans compactos e alguém vai pagar por isso.
Motor turbo
A grande novidade do anúncio da GM é que o novo compacto terá motor turbo. A montadora não detalhou que unidade será essa, mas já fez questão de retirar o item da “pauta global”, ou seja, será uma solução para o Brasil. Apesar disso, esse novo motor tende a ser um 1.0 de 3 cilindros flex, a configuração com o melhor custo-benefício para esse segmento. Basta ver seu futuro rival, o Virtus, da Volkswagen, cujo motor rende 128 cv com essa mesma característica. Já o motor do Onix chinês dá uma boa ideia do que é possível já que possui 125 cv de potência e é capaz de rodar cerca de 20 km com um litro de gasolina.
As transmissões do sedan, ao contrário, não devem surpreender. Além da opção manual de seis marchas (e provável volume de vendas modesto), a GM deve continuar a oferecer o câmbio automático tradicional com trocas por um seletor na alavanca. É uma solução viável embora a tendência no mercado seja a de preferir o sistema CVT, de marchas continuamente variáveis.
Quase médio
O Onix Sedan é um carro compacto mas com dimensões avantajadas. Tem 4,47 m de comprimento ou quase 20 cm mais longo que o Prisma. Sua largura de carroceria, de 1,73 m, é quase 3 cm maior que o mesmo Prisma, e a altura, de 1,47 m, relativamente mais baixa que ele, o que deve melhorar sua eficiência aerodinâmica. Mas é no entreeixos que o Onix Sedan mostra a que veio: com 2,6 m ele é 7 cm maior que o sedan compacto mais vendido da Chevrolet. Isso significará um espaço interno melhor embora talvez com um pouco menos de porta-malas.
Em linhas gerais, ele possui um porte muito parecido com o Virtus e isso explica porque a Chevrolet acredita que o Onix Sedan não substituirá nenhum carro. Ele nasceu para brigar numa categoria e “quase médios” aproveitando o vácuo deixado por carros como o Corolla, Civic, Jetta e o próprio Cruze que têm crescido e se sofisticado. Esse nicho hoje se traduz em versões com preços entre R$ 75.000 e R$ 85.000 onde deverá estar o Chevrolet nos pacotes mais equipados.
Resta saber se mesmo assim a GM oferecerá um Onix Sedan com motor aspirado e com preço em torno de R$ 65.000 a R$ 70.000. É o que faz a rival Volks com o Virtus 1.6, por exemplo.
Exceção à regra
Numa época em que os utilitários esportivos chamam a atenção de cada vez mais pessoas, os sedans pequenos são uma rara exceção de categoria que cresce bastante sem ser atingida por eles. No ano passado, por exemplo, tivemos mais de 386 mil emplacamentos nesse segmento, acréscimo de 70 mil unidades em relação a 2017. O primeiro trimestre de 2019, geralmente mais fraco, já viu mais de 90 mil vendas de sedans compactos.
Tendo isso em vista dá para compreender porque a Chevrolet priorizou o Onix Sedan quando seria natural lançar seu irmão hatch, o Onix, primeiro. Assim como deveremos ver logo a segunda geração do SUV Tracker, a primeira a ser produzida no Brasil. São os “carros quentes” do mercado hoje e não é possível ignorar esse fato.
Em comum toda essa nova safra de carros terá mais eletrônica embarcada do que nunca e certamente o MyLink não será mais o chamariz do modelo e sim um dos itens obrigatórios na lista de compra dos futuros compradores.