Num Nissan GT-R, a 237 quilômetros por hora

Avaliamos, como passageiro, o superesportivo da Nissan, que correu na FIA GT1 neste final de semana em Interlagos

Nissan GTR da GT1 | Imagem: FIA GT1

O que é um carro superesportivo? O que faz de um carro um superesportivo? Um motor forte, uma suspensão mais firme, uma "pegada" mais vigorosa? Difícil explicar em palavras qual a sutil linha que separa esportivos de superesportivos. Melhor deixar para os principais representantes dessa exclusiva categoria de automóveis mostrarem o que é isso no seu habitat natural: a pista. Foi o que fez hoje, em Interlagos, o Nissan GT-R. Seu piloto era Jamie Campbell, inglês bicampeão da GT1, categoria onde o lendário esportivo japonês vem conquistando vitórias e que passa pelo Brasil nesse final de semana.

Apesar de esportivo, o GT-R esbanja conforto. Os bancos em couro abraçam os ocupantes da frente o suficiente para segurá-los em uma curva mais ousada, mas nem por isso são desconfortáveis. Pelo contrário. Ainda tentando entender o que são as inúmeras informações no painel central – que a brevidade do encontro com o GT-R me impediu de descobrir afinal –, pergunto para Campbell o que é mais extraordinário naquele Nissan, que vai saindo dos boxes se preparando para botar seus 523 cv extraídos do motor 3.8 litros V6 birutbo para cavalgar. “Trata-se de um carro de rua, e não de corrida”, resume o piloto, quase que esnobando os demais superesportivos, que supostamente precisariam de ajustes extras para alcançar o GT-R.

237 km/h

Chega a reta oposta e a aceleração do carro, que já vinha embalado, é forte. A troca de marchas, feita em borboletas fixas no cubo do volante, e não na direção, é quase instantânea. As placas que sinalizam os metros que faltam para acabar a reta vão passando e nada de Campbell frear. Quando o faz, o GT-R obedece imediatamente. Se a aceleração e os freios impressionaram, faltava saber como o cupê fazia curvas: elas simplesmente pareciam retas, de tão rápido que a contornamos. Até no miolo, que é mais travado, o GT-R foi bem rápido – vale lembrar que trata-se de um carro com entreeixos longo, o que em tese dificultaria em curvas de baixa. No final da reta dos boxes, chegamos a 237 km/h.

A segunda volta começa e o piloto inglês resolve aproximar o GT-R do seu limite. E ele aceita. Nas escapadas de traseira, Campbell contra-esterça e o carro volta à sua trajetória. Quase sempre, na verdade: entramos tão forte na curva do Laranjinha que quase rodamos. Campbell ficou chateado com seu erro. Mas foi o único deslize, literalmente. Antes de entrar nos boxes, reparo melhor no interior do carro. No velocímetro, que vai até 340 km/h, há tanta velocidade para alcançar que o ponteiro quase dá uma volta completa. Como todo bom esportivo, quem está no centro do painel é o conta-giros.

Saio do carro imaginando que dificilmente vai existir uma transmissão tão rápida como as automatizadas de dupla embreagem; que nada é mais divertido que um carro de tração traseira; que esportividade e conforto podem andar juntos e que, definitivamente, não é para qualquer esportivo se manter lenda por mais de 40 anos. Trata-se de um carro especial, sem dúvida. "Na GT1, já andei de Corvette C5, Dodge Viper, Ferrari 550 Maranello e Aston Martin DB9. Desses, meu preferido é o Lister Storm, com o qual ganhei meus dois campeonatos. Depois dele, vem o GT-R, por sua incrível dirigibilidade e rapidez", conta Campbell.

Neste domingo, no autódromo de Interlagos, em São Paulo, 22 carros da GT1 largaram sob sol forte. Os vencedores foram os brasileiros Enrique Bernoldi e Xandinho Negrão, que dividiram o cockpit de um Maserati MC12. Darren Turner e Tomas Enge, de Aston Marin DB9 foram os segundos colocados e Marc Hennerici e Alexander Margaritis ficaram na terceira posição, com Chevrolet Corvette Z06. Nosso colega Campbell e seu companheiro Warren Hughes não conseguiram levar o GT-R até o final da prova.