Ricardo Meier

Comenta o mercado de vendas de automóveis e tendências sustentáveis

Novos Kicks, Compass, Taos...por que o Brasil ficou para trás nos lançamentos?

Antes prioritário para várias marcas, nosso mercado passou a ver novidades serem lançadas no exterior e demorarem a chegar por aqui

Houve uma época – e isso não faz tanto tempo – que o Brasil tornou-se uma das referências em novidades mundiais no mercado de automóveis. A Jeep, por exemplo, revelou o então inédito Compass primeiro aqui e imagens do modelo correram o mundo. A Nissan também usou nosso país para criar o Kicks e, embora a produção tenha sido iniciada no México, o modelo estreou em 2016 em nossas concessionárias.

Agora, em 2021, vivemos uma situação incômoda. De mercado promissor, o Brasil passou a ser o lanterninha para muitas montadoras. Pegue-se o caso das citadas Jeep e Nissan: a primeira já mostrou o Compass reestilizado em várias partes do mundo, mas o modelo só muda aqui no meio do ano, já a segunda faz mistério com o Kicks 2022 enquanto vende o SUV há tempos do outro lado do mundo.

E não se tratam de exemplos isolados. A Hyundai, que já lançou o Creta atrasado no Brasil, prepara uma mudança no modelo que deve seguir a atualização vista há tempos lá fora. A Volkswagen, por sua vez, está bem mais adiantada a respeito do Taos nos EUA e México enquanto esperamos o início da produção na Argentina.

Talvez o episódio mais emblemático ocorra com a Ford. A marca norte-americana desistiu de levara sério o Brasil, a despeito de promessas de novos produtos importados, e transformou o EcoSport num estranho para nós. Enquanto segue desenvolvendo o modelo na Índia, a montadora deixou de produzi-lo em Camaçari, justamente o “berço” onde o pioneiro utilitário esportivo nasceu, no início dos anos 2000.

Mas, afinal, por que o Brasil perdeu a prioridade para boa parte das montadoras? A resposta não é simples, mas certamente envolve a eterna desconexão que temos com o resto do mundo. Desconexão no sentido de regras específicas impostas por sucessivos governos, protecionismo e impostos e custos elevados, que tiram competitividade da indústria. E sim, elas, as montadoras, têm culpa no cartório por terem sido coniventes com propostas absurdas como a sobretaxa de importação criada na década passada.

Alinhamento com o resto do mundo é necessário

Por conta desse descompasso, o mercado de automóveis no Brasil continua imenso, mas desinteressante porque, engessado, nem sempre é lucrativo. Inventamos o carro popular, mas miramos apenas no critério do volume dos cilindros para determinar que um veiculo deve ter isenção de impostos. Como se sabe, a indústria evoluiu e um moto 1.0 litro pode ser usado por um carro médio.

A alta carga tributária também faz com que tenhamos uma distorção séria, a de pagar por um carro compacto o mesmo que um médio no exterior. Daí surgiram os “super compactos”, modelos espaçosos, mas de qualidade inferior.

Ford EcoSport 2003
O primeiro EcoSport: tempos em que o Brasil criava segmentos
Imagem: Divulgação

Agora, que o dólar está nas alturas, o Brasil vive uma situação inusitada: ao mesmo tempo em que encarece muitos veículos para o consumidor brasileiro, a indústria não consegue aproveitar essa redução de custo por conta do câmbio para exportar, afinal não temos produtos globais – no sentido de estarem alinhados com outros mercados.

Em resumo, nos tornamos um lugar estranho ao resto do mundo, cuja importância passou a ser relegada a um segundo plano. Sim, teremos vários lançamentos importantes em 2021, como o Corolla Cross ou o inédito Jeep de 7 lugares que está sendo gestado em Goiana, e que espera-se faça sua estreia mundial por aqui. No entanto, o brasileiro merecia sorte melhor.

Para mudar esse cenário seria preciso alinhar-se com o resto do mundo, incentivar veículos com tecnologias mais sustentáveis e, quem sabe, instituir uma carga tributária regressiva que beneficie quem produz e vende mais, criando um ciclo virtuoso. Afinal de contas, o que nunca faltou no Brasil foi demanda para bons automóveis.

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