Novo sistema de pedágio no Brasil enfrentará vários desafios, diz especialista
O free-flow já existe em vários países há décadas, mas vai demorar para ser implantado em solo brasileiro
O sistema free-flow de pedágio, feito através de uma tecnologia de emissão e recepção de sinais na rodovia, vai levar um bom tempo para entrar em operação nas estradas em todo o território do Brasil, prevê Dario Reis, professor da Escila de Engenharia da Universidade Presbeteriana Mackenzie, especialista em Transportes e Mobilidade.
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Segundo ele, para que essa tecnologia funcione, um pórtico com um conjunto de antenas substitui a tradicional praça de pedágio. As antenas leem os dados dos veículos e executam automaticamente a cobrança do pedágio. E os veículos são identificados e classificados por uma tag de pedágio ou sua própria placa, e não precisam parar – não há mais cabine ou praça de pedágio.
Entre as vantagens do sistema free-flow o professor enumera os seguintes:
- Melhora nas condições de fluidez da estrada, por não ter mais espera nas filas das praças de pedágio, e a consequente redução dos tempos de viagem
- Avanço na parte de segurança, pelo fim dos “acidentes de praça” que ocorrem pelo acúmulo de veículos e no descontrole nas reduções de velocidade
-Ganho ambiental ao acabar com as filas nas cabines de pedágios, pois evita a emissão desnecessária de toneladas de gases de combustíveis fósseis;
-Forma justa de cobrança, pois o pagamento é proporcional à quantidade de quilômetros rodados.
Mas, ainda segundo o professor, para que se usufrua de todas essas vantagens, há pelo menos dois desafios a superar. O primeiro é de natureza cultural. Ainda é proporcionalmente baixo o número de clientes que utilizam formas de pagamento automático dos pedágios. Será necessário conscientizar a todos para essa nova forma de pagamento.
O segundo desafio é de natureza territorial: o Brasil é muito grande e a malha rodoviária está sob diferentes jurisdições (federal, estaduais e municipais), além de uma considerável quilometragem de estradas locais. Tudo isso traz uma dificuldade extra na instalação dos pórticos, podendo até inviabilizar sua implantação.
Há ainda um outro problema, associado à sustentabilidade financeira: a inadimplência no pagamento do pedágio. A não identificação do veículo resulta na não cobrança do pedágio. Desta forma, o uso massivo de tags (através da conscientização dos clientes) e o acesso à base de dados dos veículos serão essenciais para garantir o sucesso de implantação do free-flow.
Quando o veículo não tem uma tag, o grande desafio para a operadora da rodovia está na possibilidade de acesso futuro aos dados do veículo, para envio da cobrança a partir da leitura da placa. E as operadoras ainda não podem enviar elas mesmas a cobrança ao endereço vinculado à placa por causa da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). A solução desse problema demanda uma ampla e transparente discussão.
Por isso, implantação do sistema free-flow no Brasil não será rápido, nem imediato. Há tempo suficiente para planejar não só as ações necessárias ao sucesso do pedágio de passagem livre, mas também para a requalificação e reposicionamento dos colaboradores das cerca de 400 praças de pedágio espalhadas por todo o país.
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