Mesmo com fim de imposto, vendas de carros importados não decolam
Alta da cotação do dólar anulou benefício do fim do IPI extra do programa Inovar Auto, diz Abeifa
O “bicho papão” da Anfavea não passou de história da carochinha em 2018. A associação das fabricantes de veículos sempre demonizou a importação de automóveis como possível causa da destruição da indústria automobilística no Brasil (embora todas as montadoras sejam estrangeiras e enviem remessas de lucros para o exterior).
Por essa razão a associação viu com bons olhos a instituição da “multa” de 30 pontos percentuais de IPI para marcas que resolvessem importar veículos sem ter uma fábrica no país. A regra, no entanto, foi julgada ilegal pela OMC, a Organização Mundial do Comércio, e eliminada com o fim do Inovar Auto, o programa de incentivo à indústria criado pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Mas na prática o fim do imposto extra não transformou o Brasil no paraíso dos carros importados, como se pregava. Em 2018, apenas 304 mil veículos emplacados no país vieram do exterior, ou 12,3% do total. O crescimento em pontos percentuais foi de parcos 1,3% em relação a 2017.
A ironia é que a 87% desse volume foi importado, quem diria, pelos próprios associados da Anfavea. Mas, afinal, por que os veículos produzidos no exterior não voltaram com força no ano passado?
Para a Abeifa, associação que reúne as marcas importadoras e também algumas com linha de montagem no Brasil, a razão está no câmbio: “o aumento do dólar na casa de 21% anulou o benefício do fim do IPI extra”, explicou José Luiz Gandini, presidente da associação.
Segundo a entidade, a moeda americana saltou de R$ 3,21 para R$ 3,88, aumentando os custos para importar os veículos. Por essa razão, a Abeifa viu sua previsão de 40 mil unidades em 2018 ser frustrada, com um número cerca de 10% menor – 37,5 mil veículos.
Para 2019, as incertezas de um governo em início de mandato fizeram a associação imaginar uma venda total de 50 mil veículos importados além de 55 mil produzidos no Brasil pelas suas associadas. A projeção para o mercado brasileiro como um todo é de 2,75 milhões de veículos, segundo ela.
Longe do melhor momento
O ano do “terror” para a Anfavea foi 2011 quando a então “importadora” Hyundai vendeu 115 mil carros e os associados da Abeifa trouxeram outros 200 mil carros do exterior. Os grandes responsáveis para esse número foram a Kia, com 77 mil emplacamentos, e a chinesa JAC, que estreava naquele ano e conseguiu o feito de vender mais de 23 mil automóveis em cerca de nove meses.
O temor da “velha guarda” da indústria era de que esses veículos, com valores bem mais competitivos, pudessem esvaziar a produção local e causar prejuízos e desemprego. Mas é fato que a cotação do dólar na época era praticamente irreal: apenas R$ 1,76, o que fazia qualquer veículo montado no exterior uma pechincha com o real valorizado.
De lá para cá a moeda brasileira perdeu força e com ela a vantagem de importar produtos. Ou seja, no fim o “tsunami” dos carros importados não passou de “marolinha”, o que deve continuar assim por bastante tempo.