Lembra da Gurgel? Designer atualiza um modelo símbolo da marca
Ao longo de seus 27 anos de existência, fabricante 100% nacional produziu cerca de 30 mil veículos
Visionário e imbuído da notável meta de criar uma fabricante de automóveis 100% nacional, o engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel certamente vai entrar para a história do empreendedorismo com a sua Gurgel Motores S/A.
Ao longo de 27 anos, entre 1969 e 1996, a fabricante, que nasceu na cidade de São Paulo e mudou-se para Rio Claro, no interior do estado, em 1975, produziu cerca de 30 mil veículos. Com ideias avançadas para seu tempo, algumas delas encontrando eco apenas em anos mais recentes, Gurgel há muito tempo já olhava para a propulsão elétrica em seus automóveis com modelos como o Itaipu E150 e o E400. O engenheiro ainda desenvolveu soluções arrojadas, como o “plasteel”, que mesclava plástico e aço para a construção do chassi de seus veículos.
Tendo criado e fornecido veículos de aplicação militar e comercial, a Gurgel Motores também preocupava-se com a oferta de um modelo voltado ao uso urbano, que resultou no lançamento, em 1988, do BR-800. Com um processo de aquisição pouco convencional, para comprar o modelo era necessário adquirir ações da fabricante. À época, o modelo custava, em média, US$ 7 mil e os interessados ainda precisavam pagar mais US$ 1.500 pelas ações da Gurgel Motores S/A. Trazendo os valores em dólar para a realidade atual, só o valor pago pelo carro representaria algo em torno de R$ 84 mil, porém a cifra poderia variar dependendo da negociação.
Para manter viva na memória essa rica história da Gurgel Motores, o designer Kleber Silva fez um interessante trabalho de criar uma releitura moderna para o BR-800, mantendo as proporções do compacto original e a carroceria 2 portas.
Projetado com um pequeno motor de 800 cm3, dois cilindros contrapostos e refrigerado a água, o BR-800 oferecia 33 cv e 6,2 kgfm de torque. Desempenho não era o forte do compacto, mas ele destacava-se pela economia de combustível com médias de 12 km/l na cidade e 14 km/l na estrada. Com 3,19 m de comprimento e apenas 1,47 m de largura, o tamanho compacto facilitava o uso na cidade. A cabine acomodava 4 passageiros, porém, dada a vocação urbana do projeto, o porta-malas era bem restrito e entregava apenas 122 litros de capacidade volumétrica.
Com eixo rígido na suspensão traseira, o BR-800 era inegavelmente um carro robusto e a tração traseira ainda conferia uma boa dose de valentia em vias não pavimentadas. Com câmbio manual de 4 marchas e rodas aro 13", o modelo apresentava um comportamento dinâmico satisfatório. Apesar da direção não assistida, o baixo peso do BR-800, no caso 650 kg, o tornava um carro relativamente fácil de manobrar.
Em 1991, segundo dados da Wikipedia, a Gurgel Motores S/A tinha colocado nas ruas cerca de 5.000 BR-800 nas mãos de seus sócios. Mais tarde, o pequeno modelo ganharia a companhia de modelos como o Motomachine com suas portas translúcidas e o Supermini, uma configuração de acabamento superior derivada do BR-800.
Consta que Gurgel tinha nos planos um sucessor para o BR-800, conhecido como o projeto Delta, que seria um novo carro popular de baixo custo utilizando o mesmo motor Enertron. Seu preço deveria ficar entre US$ 4 mil e US$ 6 mil , mas não chegou a ser fabricado em série. Ainda de acordo com a Wikipedia, pouquíssimos protótipos do projeto Delta foram fabricados.
Quem sabe, se levarmos em consideração os avanços da tecnologia e o ímpeto de Gurgel, a fabricante hoje já não estaria lançando um modelo nos moldes do BR-800 até mesmo com propulsão elétrica e ainda mais inovações construtivas oriundas da mente criativa do engenheiro. De qualquer forma, o legado de Gurgel na história automotiva brasileira é inconteste e deverá ser sempre lembrado.