Hyundai, Chery, Subaru e Renault: as marcas que cresceram nas mãos de CAOA
Empresário entrou na indústria automotiva por acaso e se tornou uma das figuras mais famosas e respeitadas do setor
Carlos Alberto de Oliveira Andrade era uma das figuras mais importantes da indústria automotiva brasileira. Médico de Campina Grande (PB), o empresário falecido no último sábado (14) entrou no setor por acaso, mas rapidamente se consolidou como um dos homens mais poderosos do país.
“Doutor Carlos”, como era chamado nos corredores da empresa que leva suas iniciais, sabia administrar companhias como ninguém. Em suas mãos, nada menos do que quatro montadoras se tornaram famosas no Brasil e atingiram patamares inimagináveis até então.
Renault e o divórcio tumultuado
Depois de adquirir uma revenda Ford na Paraíba e montar o maior grupo de concessionárias da marca, Caoa resolveu se aventurar.
Em meados dos anos 90, o empresário virou representante oficial da Renault no país. Depois de um início promissor, o casamento entre Caoa e Renault azedou e foi parar na justiça. Ao saber que a fabricante se preparava para assumir as operações por aqui, o médico pediu uma indenização para deixar de ser importador da empresa. Alegava que havia um acordo verbal sem prazo para o encerramento da parceria.
O imbróglio só terminaria em 1998, quando a Renault indenizou o grupo Caoa poucos dias antes de começar a fazer carros em São José dos Pinhais (PR).
Hyundai: decadência, auge e conflito
Àquela altura, Andrade já havia se tornado representante da Subaru no país - a marca é representada pelo grupo até hoje.
A virada na vida de Caoa aconteceria em 1999, quando o paraibano decidiu assumir o controle da Hyundai. A decisão era arriscada, já que a marca coreana não decolou nas mãos de outros importadores, inclusive por conta de produtos pouco interessantes.
Caoa, porém, estava na hora certa e no lugar certo. Enquanto na Coreia a Hyundai investia pesado para renovar seus carros e deixá-los mais atraentes, o empresário fez a marca decolar por aqui.
Além da qualidade de seus produtos, o grupo CAOA também fez a fama da Hyundai por conta de suas propagandas pouco ortodoxas. Embaladas pela voz marcante do narrador, as peças comparavam os modelos da Hyundai com ícones da indústria de luxo, como Audi, BMW, Mercedes-Benz e, pasmem, até Rolls-Royce. Deu certo: logo modelos como Tucson, Santa Fe e Azera se tornaram símbolos de status a preços atraentes.
Tanto sucesso fez Caoa investir R$ 1,2 bilhão para construir sua primeira fábrica no Brasil. A cidade de Anápolis (GO) foi a escolhida para iniciar a montagem do caminhão leve HR, e mais tarde outros modelos da Hyundai começaram a sair de lá.
Parecia tudo muito bom até que a marca também decidiu fazer carros por aqui. Ergueu uma fábrica em Piracicaba (SP) para montar a linha HB20, que revolucionaria o segmento de carros populares.
O problema, porém, estava na rede de concessionária: como a planta foi feita com capital 100% coreano e, portanto, sem relação com o grupo CAOA, os novos carros não poderiam ser vendidos na rede do conglomerado, que estava autorizada a comercializar apenas modelos importados e os produzidos na fábrica goiana.
No fim das contas, a empresa de Andrade decidiu inaugurar concessionárias HMB (de Hyundai Motor Brasil) para vender os modelos HB20. Recentemente, uma decisão judicial autorizou o empresário a seguir importando modelos da Hyundai até 2028, mas o imbróglio ainda está longe de ser resolvido.
CAOA Chery: a nova galinha dos ovos de ouro
Foi por isso que o “doutor” Caoa resolveu virar seus olhos para outra marca. Depois de analisar várias marcas chinesas (e quase fechar com algumas delas), encontrou na cambaleante Chery a parceira ideal.
Fundada em 1997, a empresa desembarcou no Brasil em 2009, mas sofreu para embalar por conta da qualidade de seus produtos. Até chegou a construir uma fábrica em Jacareí (SP), em 2014, mas esteve a ponto de deixar o país por conta de sucessivos problemas.
A redenção veio em 2017, quando o grupo Caoa adquiriu 50% das ações e rebatizou a empresa como CAOA Chery. Renovou e ampliou a rede de concessionárias (inclusive transformando antigos pontos Hyundai em Chery) e Investiu pesado no lançamento de SUVs, como Tiggo 5X e Tiggo 8. Tudo embalado por propagandas igualmente contundentes e até exageradas, como fez nos primeiros anos de Hyundai.
O namoro com a Ford
Se a história de Caoa começou na indústria automotiva por causa da Ford, nada mais justo do que escrever um novo capítulo envolvendo a marca norte-americana.
Com o fechamento da fábrica de São Bernardo do Campo (SP), o grupo CAOA logo surgiu como forte candidato a adquirir a planta. Só que o negócio nunca foi fechado, e a venda acabou sendo feita para a Construtora São José.
O fim da produção nacional da Ford fez com que o empresário novamente fosse apontado como nome forte para adquirir a fábrica de Camaçari (BA), que, até o fechamento desta reportagem, seguia com futuro incerto.
O falecimento de “Doutor Carlos”, porém, não deve alterar profundamente os planos do grupo criado pelo médico e empresário. O comando segue nas mãos do corpo executivo formado há anos, que conta com profissionais renomados vindos de grandes montadoras.