HR-V é mais um carro a ter preço acima de R$ 100 mil
Modelo da Honda se junta a uma lista que deve crescer nos próximos meses. Mas será que eles valem tanto assim?
É, sem dúvida, uma barreira psicológica, mas ela dói no bolso. Pagar mais de R$ 100 mil por um carro zero que não é ‘premium’ parece maluquice, mas é possível no Brasil. E deve se tornar mais comum, em parte, é óbvio, por conta da inflação em alta. O novo integrante do ‘clube dos seis dígitos’ é o HR-V, da Honda.
A versão EX-L, a mais equipada, pode sair por R$ 100.400 se o cliente optar por uma cor metálica. O valor é 27,5% maior que o da versão de entrada, LX, que sai por R$ 78.700 e não é, por assim dizer, uma ‘pechincha’.
O fenômeno não é exclusivo do jipinho da Honda. Seu rival, o Renegade, também têm preços elásticos: vai de R$ 75 mil na versão manual 1.8 a quase R$ 114 mil se o cliente incluir todos os opcionais da versão Limited Edition – e estamos falando de um carro flex e não das versões diesel, naturalmente mais caras.
O mais famoso integrante do clube é o Corolla. O sedã da Toyota foi um dos primeiros a romper a tal barreira, na versão Altis, mais cara da linha, que sai pela bagatela de R$ 105.600 e sem, como todos sabem, o sistema de estabilidade ESP.
Preços premium
Outra que aderiu aos preços ‘premium’ é a Volkswagen. O novo Golf nacional, se de um lado ganhou uma versão mais simples, com motor 1.6 MSI (R$ 76.590) também cobra R$ 100.494 de um Highline 1.4 TSI. Ainda que o hatch seja líder de seu segmento é bastante coisa para um volume tão baixo de vendas.
Por falar em falta de clientes, o sedã Focus, desde 2015 com sobrenome novo ‘Fastback’, é um mistério. Emplaca muito pouco, mas nem isso faz a Ford cobrar menos que R$ 104.590 pela versão 2.0 Titanium Plus automática. Mais um pouco e dá para levar o Fusion 2.5 para casa.
Mas será mesmo que esses modelos deveriam custar tanto?
Uma simples conta mostra que não. Sem entrar no mérito da comparação entre mercados diferentes por conta do câmbio variável, ainda assim o brasileiro gasta muito dinheiro para levar para a garagem modelos que beiram os preços de carros mais sofisticados.
Para dar uma ideia dessa distorção, levantamos no site Payscale, que oferece uma média salarial de diversas profissões no mundo, quanto um engenheiro civil ganha em média nos Estados Unidos, México, Alemanha e Brasil.
Enquanto o engenheiro americano precisa trabalhar 118 dias para comprar um Corolla o brasileiro leva 480 dias, ou seja, mais de quatro vezes do que nos Estados Unidos. O alemão que adquire um Golf trabalha um pouco mais para ter um Golf: 228 dias enquanto aqui ele levaria 457 dias para tê-lo.
O curioso é que mesmo se pensarmos que esses carros estão mais caros a ponto de valer a pena pular para o modelo seguinte dentro da mesma marca isso não vale no Brasil. Com exceção do Fusion, que é produzido no México por um custo bem mais competitivo e não paga imposto de importação, nos outros casos o brasileiro paga muito mais se decidir levar um Camry em vez do Corolla (70%), um Passat em vez do Golf (51%) ou um CR-V no lugar do HR-V (45%).
Lá fora, essa diferença é em média de 30% a 40%. Não é à toa que um Passat ou um Camry vendam tão bem na Europa e nos Estados Unidos: eles cabem no orçamento do nosso personagem, o engenheiro civil. Aqui, ao contrário, esse engenheiro vai ter seguidos pesadelos com cifras de seis dígitos.