Hilux vira 'picape Corolla' em nova geração
Picape da Toyota evolui no conforto e sofisticação, mas está mais capaz no off-road também
Há 10 anos a Toyota virou o segmento de picapes médias de cabeça para baixo. Naquela época, esse tipo de veículo era uma especialidade das americanas Chevrolet e Ford, que dominavam o mercado com os modelos S10 e Ranger. Mais bonitas e com alguns recursos modernos, as duas sobravam comparada à ultrapassada Hilux. Mas bastou a 7ª geração surgir para que esse cenário mudasse por completo. De caça, o veículo da Toyota virou caçador: era maior, mais espaçosa, confortável e atraente que qualquer outra picape do gênero.
A prova do acerto dos japoneses é que a Hilux passou praticamente incólume a década enquanto marcas como Chevrolet, Ford, Nissan, Mitsubishi e até Volkswagen apresentaram novidades, sem, no entanto, abalar o reinado da Toyota.
O longo tempo deu a montadora japonesa a chance de planejar bem sua sucessora. Está claro que não seria possível revolucionar mais uma vez, portanto, a nova geração da Hilux foi pensada como um passo à frente em todas as áreas onde foi possível avançar.
Frente bicuda
Ver a nova Hilux de perto significa identificar algumas linhas da geração anterior logo de cara. Parece que é uma reestilização apenas, mas basta reparar em alguns detalhes para ver que a Toyota fez uma releitura de estilo, mantendo traços que a caracterizavam, mas atualizando partes, sobretudo a frente, que agora exibe uma grade cromada que se liga aos faróis, assim como no Corolla.
Aliás, o sedã é lembrado a quase todo o momento na picape. O aspecto geral da Hilux é bom, mas não chega a impressionar. Apenas o ângulo lateral é que evidencia uma frente um tanto bicuda, que provavelmente ajuda a melhorar a aerodinâmica, ponto em que as picapes sofrem pela sua enorme área frontal.
A nova Hilux é um pouco mais longa (7 cm), mais larga (2 cm) e mais baixa que anterior (4 cm). O entreeixos é exatamente o mesmo, mas o arranjo ficou diferente. A caçamba, por exemplo, é cerca de 20% mais espaçosa graças ao aumento da largura, comprimento e altura.
Por dentro, os ocupantes sentam em bancos mais confortáveis e numa posição semelhante a de um carro, porém, a fileira traseira não chega a ter um espaço para as pernas tão generoso quanto a de um sedã compacto como o Versa ou o Cobalt. Mas agora há uma saída de ar-condicionado e um apoio de braço retrátil atrás.
Painel melhor que o do Corolla
Outra coisa que chama a atenção no interior da Hilux é o predomínio dos tons em preto, um visual bem diferente da antiga Hilux, onde dominava a cor cinza. Isso tornou a picape mais sofisticada e envolvente, sensação que é reforçada pelo belo painel, uma cópia melhorada do que equipa o sedã Corolla.
A disposição dos elementos é bem parecida com o sedã, mas a Toyota aqui soube distribuir melhor algumas peças e ressaltar partes mais importantes como o topo do painel de instrumentos, além de destacar a central multimídia do conjunto. O volante, embora semelhante, é mais robusto, o que combina mais com o perfil do cliente da picape.
Motor menor
Por enquanto, a Toyota lançará apenas a versão turbodiesel, segmento onde domina (a flex chega daqui um ano para brigar com a líder geral, a S10). O novo motor é um 2.8 litros contra 3 litros do anterior, mas oferece mais potência (177 cv) e torque de quase 46 kgfm já a 1.600 rpm. E, de quebra, é mais econômico - 9,03 km/l na cidade e 10,52 km/l na estrada com câmbio automática. Já com transmissão manual, a nova Hilux faz 9,3 km/l e 11,5 km/l, respectivamente.
A Toyota também passou a adotar uma transmissão automática com seis marchas, assim como as versões de entrada passam a contar com um novo câmbio manual também de seis velocidades. A marca, no entanto, não divulgou dados de desempenho mais uma vez.
Mais eletrônica
Talvez o ponto em que mais esperava da Hilux era em relação à adoção de mais tecnologia a bordo. Foi nesse sentido que outras picapes avançaram mais, principalmente a Amarok, da Volkswagen. A Toyota não decepcionou nesse sentido: a nova picape passa a contar com itens como controle de estabilidade, assistente de subida e descida e controle de tração, além de bloqueio eletrônico de diferencial. Em conjunto, esses recursos tornaram o uso off-road mais fácil e seguro, como pudemos comprovar durante o curto test-drive.
A Toyota também se preocupou em minimizar um dos problemas mais desagradáveis das picapes desse porte, ou seja, a dirigibilidade cansativa. Caminhonetes, pela sua concepção, são ótimos veículos de carga e razoáveis ‘automóveis’. Isso se explica pela adoção de suspensões robustas mas que tornam-se instáveis quando a caçamba está vazia. Como são construídas com a junção de uma chassi e carroceria, elas também sofrem em curvas e passagens em valetas além de vibrarem em demasia graças ao motor diesel.
Pois bem, a Toyota produziu um novo chassi mais reforçado, aumentou o curso da suspensão traseira e aprimorou o isolamento acústico da cabine fazendo com que a Hilux seja muito mais agradável e segura de dirigir.
Quase um Corolla picape
De fato, a sensação de dirigir a nova Hilux é a de estar a bordo de um Corolla alto. A direção, embora continue com assistência hidráulica, está mais leve e direta. A posição de dirigir também é mais natural e o painel agrada pela boa disposição dos instrumentos – peca aqui apenas o reflexo do sol que vem da peça que imita aço escovado no painel.
O test-drive no asfalto foi extremamente curto, de uns poucos quilêmetros, infelizmente, mas foi possível perceber os bons e precisos engates da transmissão manual assim como o silêncio a bordo. Já o motor pareceu dar conta do recado, algo que só teremos certeza num próximo contato com a picape.
Preços nas alturas
Não resta dúvida que a nova Hilux venderá bem mesmo com os preços salgados divulgados, afinal a clientela da Toyota é extremamente fiel a ponto de a antiga picape emplacar muito ainda, mesmo com a iminência da chegada da sua sucessora. Também está nítido que essas caminhonetes estão cada vez mais parecidas com um automóvel de luxo, mas com o acréscimo de uma caçamba. No entanto, parece notório também que essa mudança de perfil colocará o segmento numa encruzilhada num futuro não tão distante.
De R$ 188.120 picape média Chevrolet S10, Ford Ranger 32.691 2.8 turbodiesel 177 cv a 3.400 rpm 45,9 kgfm a 1.600 rpm Automática de 6 velocidades 5,33 m de comprimento, 1,86 m de largura, 1,82 m de altura e 3,085 m de entreeixos 2.075 kg não divulgadoToyota Hilux 2.8 Diesel SRX 2016
Resumo
Preço
Mecânica
Motor
Dimensões
Medidas
O marketing de picapes diesel sempre apela para a capacidade off-road, do bem sucedido empresário que quer um veículo valente e que enfrente trechos ruins com bravura, mas na prática pouca gente acaba usando esses recursos e mesmo esse cliente já anda tão ‘urbanizado’ que imaginar uma fazenda com estradas caindo as pedaços é algo um tanto forçado.
Em resumo, resta saber como será a nova Hilux de 2025 (caso a Toyota leve mais uma década a próxima picape). Será que até lá essa imagem estará valendo? Será que as inéditas picapes com tração dianteira e chassi monobloco como a Fiat Toro e a Renault Oroch já não terão ditado um novo rumo para esse segmento?
Seja como for, o fato é que ter uma picape média na garagem será cada vez mais uma possibilidade apenas para clientes abastados. A dúvida será apenas saber se você precisa de uma caçamba ou não.