Ford e Mahindra desistem de parceria na Índia
Acordo de 2019 não foi concluído antes do prazo de expiração e pode afetar o Brasil
Nas últimas horas de 2020, a Ford e a Mahindra anunciaram uma decisão relevante para as operações das duas empresas, que poderá até trazer reflexos para outros mercados emergentes.
Em outubro de 2019, as fabricantes revelaram suas intenções de criar uma joint venture no país asiático com o objetivo de desenvolver, comercializar e distribuir veículos Ford na Índia, bem como produtos criados de forma conjunta entre as duas empresas em mercados emergentes de alto volume. Com a parceria, as duas empresas poderiam amortizar custos e ganhar fôlego financeiro.
Porém, em um comunicado oficial emitido primeiramente pela Ford e depois pela Mahindra no último dia de 2020, as companhias revelaram que “não iriam concluir a joint venture automotiva previamente anunciada entre as duas empresas”.
Pelo acordo original de 2019, havia uma cláusula de longstop, ou expiração, que venceria em 31 de dezembro de 2020 caso as fabricantes não tivessem acertado os termos do acordo comercial até o prazo estabelecido. As companhias, contudo, afirmam que a decisão foi tomada de forma “amigável” e “mútua”.
Segundo o comunicado das duas empresas, a decisão de cancelar o acordo “foi impulsionada por mudanças fundamentais nas condições econômicas e de negócios globais - causadas, em parte, pela pandemia global - nos últimos 15 meses. Essas mudanças influenciaram decisões separadas da Ford e da Mahindra para reavaliar suas respectivas prioridades de alocação de capital”.
Pelo acordo delineado em 2019, a joint venture criada pelas duas empresas teria controle da Mahindra, com 51% de participação acionária. A Ford, que ficaria com 49% das ações, deveria transferir suas operações na Índia para a nova empresa, incluindo seu pessoal e fábricas de montagem em Chennai e Sanand. A Ford manteria as operações de sua fábrica de motores em Sanand, bem como sua unidade de Serviços de Negócios Globais, a Ford Credit e a Ford Smart Mobility.
A Ford, em resposta ao cancelamento da joint venture, declarou que está “avaliando ativamente seus negócios em todo o mundo, incluindo na Índia, fazendo escolhas e alocando capital de forma a avançar o plano da empresa de alcançar uma margem EBIT ajustada de 8% e gerar um fluxo de caixa livre ajustado consistente e forte”.
A decisão da Ford e da Mahindra na Índia pode trazer impactos para o Brasil, uma vez que diversos projetos para mercados emergentes seriam desenvolvidos por lá, quem sabe até o sucessor do EcoSport nacional em conjunto com um futuro SUV médio mais competitivo do que o Territory atualmente importado da China ao Brasil.
Segundo a imprensa especializada indiana, a Ford já está bem adiantada no desenvolvimento de seu futuro SUV médio (tratado internamente como projeto C757), o qual é baseado na próxima geração do Mahindra XUV500. A expectativa é que o modelo da Ford seja revelado no início de 2022 e é esperado que a Ford celebre um contrato de fabricação com a Mahindra para construir o modelo em Chakan. A Ford também deverá fornecer motores da Mahindra no futuro. O Ecosport atualizado, previsto para o começo de 2021 na Índia, será movido por um motor 1.2 turbo com injeção direta fornecido pela Mahindra.
Segundo as duas empresas, a Ford continuará a operar na Índia como uma entidade independente, porém, como dito, a fabricante norte-americana pode realizar um contrato de fabricação com a Mahindra para a produção local de futuros produtos.
Vamos acompanhar, aqui no Brasil, como tudo isso poderá refletir nos próximos planos da Ford para a renovação de sua gama local.