Fiat, VW, GM e Ford perdem espaço no Brasil
Década passada viu uma redistribuição de forças no mercado brasileiro de veículos, com grande avanço das montadoras asiáticas
Com tantas transformações que afetam o mercado de automóveis no mundo e no Brasil, pode ter passado despercebida boa parte da mudança de forças das marcas que atuam em nosso país. Mas esse fenômeno foi marcante, como mostra um levantamento inédito feito pelo Autoo.
Acostumado ao domínio das quatro montadoras mais tradicionais no Brasil, o consumidor quebrou essa tradição na última década, apostando em novos produtos e marcas menos conhecidas. Essa mudança de humor fez a participação de Ford, Volkswagen, Chevrolet e Fiat cair de cerca de 77% para 55%.
É um volume imenso, equivalente a deixar de vender algo como 575 mil veículos no ano passado. A Fiat foi de longe a marca que mais perdeu espaço na preferência do brasileiro. Se em 2009, a montadora italiana emplacou mais de 736 mil veículos, dez anos depois esse total caiu nada menos que 50%, o que fez sua participação cair quase dez pontos percentuais.
Logo atrás da Fiat está a Volkswagen, que perdeu quase 40% das vendas, número que seria pior se no ano passado a marca não tivesse recuperado um pouco do seu volume. A Ford caiu 28% e a Chevrolet, 20%, mesmo liderando o mercado com certa margem.
Mas afinal quem se beneficiou da derrocada das montadoras mais antigas do país? As marcas asiáticas, sem sombra de dúvidas. Japonesas, coreanas e chinesas mais que dobraram sua participação no mercado brasileiro, chegando a mais de 26% - ou seja um em cada quatro carros emplacados no Brasil é produzido por um fabricante cuja matriz fica do outro lado do planeta.
Dessas marcas, a Nissan foi a que mais viu seus números se multiplicarem em uma década. De apenas 23 mil veículos vendidos em 2009, a montadora terminou 2019 com 96 mil unidades emplacadas, ou 314% a mais. O resultado se explica no fato de a marca ter aberto uma fábrica no Brasil e passado a participar de segmentos como de sedans compactos e sobretudo SUVs com o bem sucedido Kicks.
Em números absolutos, o mérito é no entanto da Hyundai. Os sul-coreanos lançaram com enorme sucesso a família HB20 que abraçou um enorme naco do mercado e que compensou o recuo de vendas de seus carros importados. O resultado é que a Hyundai triplicou suas vendas em 10 anos.
A Toyota não ficou muito atrás, vendendo 122 mil carros a mais que em 2009 enquanto sua tradicional rival, a Honda, empacou. A marca, mesmo com uma linha de produtos equilibrada e atraente, teve um pequeno crescimento de 3% nesse período. Ainda assim viu sua participação crescer de 4,2% para 4,9%, mas poderia ser melhor se ela não tivesse passado os últimos anos com sua produção limitada por preferir não ativar sua nova fábrica de Itirapina.
A Peugeot foi a marca que mais perdeu mercado enquanto a Jeep foi, disparada, a que mais conquistou espaço
Vexame da Peugeot Citroën
A indústria automobilística francesa conseguiu crescer modestamente nesse intervalo de tempo, mas apenas porque a Renault foi a maior exceção na tendência do consumidor de migrar para as marcas asiáticas. Com uma estratégia precisa, a montadora mais que dobrou suas vendas, conquistando o 4º lugar no mercado, posição tradicionalmente ocupada pela Ford.
Já sua rival caseira, o grupo PSA Peugeot Citroën teve uma década vexaminosa. As duas marcas, que já vinham em queda livre, encolheram a ponto de, juntas, não representarem nem 2% de participação no mercado brasileiro. A Peugeot foi a grande marca a ter a maior queda nesse período, indo de um volume anual de 81 mil carros para míseros 21 mil veículos no ano passado, ou 74% a menos.
Sua irmã Citroën não foi muito melhor, com redução de 62%, mesmo índice da Kia Motors, uma das exceções entre as asiáticas – a outra foi a Mitsubishi. Atingida pelas cotas do programa Inovar Auto e pela cotação elevada do dólar, a marca que é parte do grupo Hyundai vendeu menos de 10 mil carros no ano passado, resultado até melhor que o de anos recentes.
Novos players
Além do reequilíbrio de forças, o mercado brasileiro ganhou novos players entre os mais vendidos. O maior destaque foi, sem dúvida, a Jeep, até então uma marca de importados discretíssima. Com a nova estratégia global da FCA, ela saiu de um ano com 689 veículos emplacados para quase 130 mil SUVs vendidos (99% deles Compass e Renegade), número superior ao da Honda. O ótimo desempenho da Jeep, aliás, amenizou a queda impressionante da Fiat. Mesmo sem recuperar o volume da marca italiana, a Jeep compensou por elevar o tícket médio de seus veículos, para sorte da FCA.
Após um período de ostracismo diante das barreiras comerciais levantadas no Brasil, as marcas chinesas tiveram uma reviravolta com a CAOA Chery. Com a ajuda do grupo brasileiro, a marca terminou 2019 com mais de 20 mil carros vendidos, quase o mesmo que Peugeot e Mitsubishi, velhos conhecidos do brasileiro.