Fiat Uno dá adeus ao Brasil com série especial Ciao

Modelo popular chegou ao mercado em 1984, fez sucesso com motor 1.0 e ganhou uma nova geração em 2010, mas sucumbiu à mudança do consumidor
O Uno Ciao, série de despedida do modelo da Fiat, que sai de cena após 37 anos

O Uno Ciao, série de despedida do modelo da Fiat, que sai de cena após 37 anos | Imagem: Divulgação

Uma das despedidas mais difíceis da indústria automobilística foi anunciada pela Stellantis nesta segunda-feira (20), o fim da produção do Fiat Uno, seu veículo mais famoso no Brasil.

O compacto, lançado em 1984 com inovações tecnológicas que foram replicadas por seus concorrentes, se despede com uma série especial, a Uno Ciao (tchau em italiano), limitada a 250 unidades numeradas, informou a empresa.

Na verdade, o hatch compacto já tinha seu destino selado há algum tempo, diante das mudanças não apenas da legislação como também no perfil do consumidor brasileiro, hoje mais focado em produtos com apelo aventureiro.

Em 2021, o Uno deve emplacar pouco mais de 20 mil unidades, quase nada se comparado aos 274 mil veículos vendidos em 2011, no auge da segunda geração.

O Uno, assim como o Gol, sobreviveram no mercado por tanto tempo por uma mistura de robustez, preço acessível e também oportunidades. No caso do Fiat, o advento do carro popular nos anos 90.

Primeiro carro popular com motor 1.0 nacional, o Fiat Uno Mille
Primeiro carro popular com motor 1.0 nacional, o Fiat Uno Mille
Imagem: Divulgação

Após estrear em 1984 com um projeto bem mais avançado que seus concorrentes, o sucessor do 147 não agradou de imediato, ganhando apelidos como “botinha ortopédica”. A mecânica sofrível contrastava com a posição de dirigir elevada, os botões e comandos acessíveis, o espaço interno e visibilidade excepcional.

Parecia que não haveria solução para a montadora italiana no Brasil quando o governo federal decidiu isentar carros com motor até 1.000 cm³, criando um segmento que sustentou a indústria até poucos anos atrás.

O Mille virou líder em seu segmento, aproveitando a inércia da rivais da Fiat. Ainda assim, a marca planejou um sucessor, o Palio, que desembarcou em 1996, mas não conseguiu matar o irmão mais velho.

O Uno seguiu como carro de entrada até 2010, quando a Fiat repensou sua proposta e lançou uma segunda geração, conhecida pelo design de quadrados arrendodados.

Se não revolucionou, o novo Uno cumpriu seu papel de carro bem resolvido e moderno para época. O problema é que logo depois surgiu uma nova safra de hatches compactos como o Onix e o HB20 que ditaram uma tendência e sufocaram o famoso carro da Fiat.

Fiat Uno Vivace
Fiat Uno Vivace
Imagem: Divulgação

Em 2013, a primeira despedida, também na carona de uma versão especial, a Grazie Mille, que marcava o fim da primeira geração.

Ainda assim, o Uno sobreviveu, ganhou reestilizações e novos equipamentos, mas perdeu boa parte do sentido quando a montadora italiana colocou o diminuto Mobi e logo depois o Argo no mercado.

Desde então, ele virou um zumbi no portfólio, à espera do fim. Nesses 37 anos ininterruptos de produção, saíram da linha de montagem 4,38 milhões de Unos.

O Uno Ciao terá cada carro numerado e contará com emblema, cor cinza “Silverstone”, teto, retrovisores externos e spoiler traseiro pintados de preto e maçanetas na cor do veículo. Além disso, um adesivo lateral com a inscrição ‘Uno Ciao’ junto da frase “LA STORIA DI UNA LEGGENDA”. Uma lenda, sem dúvida.

Ricardo Meier

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