Fiat mata o conversível 124 Spider, o 'Miata italiano'
Esportivo foi lançado em 2015 para resgatar clássico do passado, mas utilizou a base do Mazda MX-5 e era produzido no Japão
Parece incrível que, a despeito de inúmeros fracassos seguidos, a ideia de lançar um automóvel aproveitando a base de um modelo de outra marca ainda prospere na cabeça de altos executivos das grandes montadoras. Trata-se de um atalho preguiçoso e desesperado para ter um novo produto em tempo recorde, mas que invariavelmente produz um fracasso de vendas.
O novo membro desse clube é o 124 Spider. A Fiat, que já havia desistido do modelo na Europa, decretou seu fim também na América do Norte nesta terça-feira (23). Em comunicado sobre a linha 2021 do Fiat 500X, a FCA deu o recado discretamente: "O Fiat 124 Spider e o Fiat 500L serão descontinuados após o ano-modelo 2020", incluindo também a minivan na sentença de morte.
Para quem não sabe, o 124 Spider foi uma tentativa da Fiat de resgatar um dos seus clássicos, o belíssimo Fiat 124 Sport Spider, um conversível desenhado pela Pininfarina e que foi produzido entre 1966 e 1985.
Mas já começou errado. Em vez de criar um produto italiano na alma, como mandaria a tradição, a FCA preferiu fechar um acordo com a Mazda para criar um veículo sobre a base do MX-5 Miata. Por mais nobre que esse modelo japonês seja, não é isso que um cliente saudosista da marca italiana deseja ao ver um carro usar o nome 124 Spider.
O conversível acabou sendo uma espécie de compensação por uma mudança de planos determinada por Sergio Marchionne, o chefão da Fiat que criou a FCA. Em 2014, o italiano frustrou os planos de um projeto conjunto entre a Mazda e a Alfa Romeo para dar origem a esportivos, alegando que os carros da marca não poderiam ser feitos fora da Itália.
A saída foi usar o projeto com a marca Fiat, embora a montadora tenha tentado introduzir características italianas no modelo, como o motor 1.4 turbo Multiair e um ajuste de suspensão próprio, além, é claro, do estilo bastante diferente do Miata.
Miata mania
Não faltaram esforços para que o novo 124 Spider fizesse sucesso, seja ao lançá-lo na Europa e nos EUA, seja ao criar até uma versão Abarth com 170 cv de potência (contra 140 cv do modelo normal).
Entre 2016 e 2019, pouco mais de 13 mil unidades foram produzidas e o fim de linha para o carro não foi uma surpresa. Desde o final do ano passado, após deixar de ser oferecido na Europa, comentava-se que era uma questão de tempo para o 124 Spider desaparecer.
Curiosamente, o Miata, que é produzido ininterruptamente desde 1989, segue em linha, com mais de um milhão de unidades vendidas e uma enorme legião de fãs. É aquela constatação um tanto óbvia que demonstra que os clientes (sobretudo de veículos com uma linha especial) buscam justamente algo que honre o passado da marca e não um modelo dito italiano produzido no Japão por outra empresa.
Espera-se que a FCA pense melhor da próxima vez que resolver resgatar um dos seus carros mais importantes.