Fernando Calmon

Engenheiro e jornalista especializado desde 21 de agosto de 1967, quando produziu e apresentou o programa Grand Prix na TV Tupi (RJ e SP) até 1980

Fernando Calmon: curiosidades do VW Gol quarentão

Colunista revela mais detalhes sobre o hatch e analisa outros temas de destaque na semana

Lançado em 8 de maio de 1980, o Gol completa 40 anos de produção e tem uma coleção de títulos ao longo destas quatro décadas. Foram produzidas 8,5 milhões de unidades, das quais 1,5 milhão exportadas, além de manter a liderança no Brasil por 27 anos seguidos (1987 a 2013), contando o primeiro e o último ano.

Destaco duas curiosidades em sua longa história. O Gol foi lançado com motor longitudinal de 1,3 L do Fusca com um só carburador e estepe no cofre do motor. Ao chegar o motor 1,6 L de dois carburadores, o estepe passou para o porta-malas por falta de espaço. Mas a concessionária Condor, de São Paulo, teve a ideia de recolocar o estepe no cofre do motor invertendo a posição de montagem. Pouco tempo depois a própria fábrica adotou a solução.

O Gol nasceu para usar motores longitudinais e o capô alto atrapalhava a visibilidade para motoristas de menor estatura. Por isso a fábrica colocou uma regulagem básica de altura do banco, algo que só existia em carros mais caros na época. Na quinta geração, em 2008, o motor passou a ser transversal, a visibilidade melhorou, mas manteve a regulagem do banco.

NOVO RODÍZIO NÃO DEU CERTO

Durou apenas uma semana a experiência da prefeitura de São Paulo em impor um rodízio radical de veículos na cidade. O sistema previa que os finais de placas ímpares só poderiam circular nos dias ímpares e os finais de placas pares, nos dias pares. A ideia era retirar 50% dos veículos leves de circulação numa tentativa de aumentar o isolamento social para ajudar a frear os casos de Covid-19 na cidade e utilizar mais o transporte coletivo. Táxis e profissionais da saúde eram exceção, embora estes fossem obrigados a redigir um pedido de isenção em um momento que estavam sobrecarregados de trabalho.

A medida tinha alguma lógica (até a Anfavea concordou), mas partiu de premissas erradas. Cerca de 40% de todas as viagens na capital paulista são feitas por automóveis normalmente, incluindo táxis e aplicativos.

Nesse período de pandemia a circulação já havia caído e depois aumentou porque as pessoas precisam trabalhar. Porém, com 50% da frota de carros fora das ruas o transporte coletivo ficou sobrecarregado. As aglomerações nos terminais aumentaram e também no interior de ônibus, trens e metrô. Mesmo usando máscaras, a proximidade entre os usuários piorou.

Ônibus mais modernos com ar-condicionado têm sistemas eficientes de renovação do ar interno, mas isso não é garantia de não contaminação pelo novo coronavírus. Além disso, corrimões e alças só podem ser desinfetados no final do dia.

O único ponto positivo desse imbróglio foi o reconhecimento de que a iniciativa não deu certo e a sua revogação.

INFLUÊNCIA DA PANDEMIA NA MOBILIDADE URBANA

Um dos aspectos mais discutidos no mundo hoje é a mobilidade urbana. A brasileira Bright Consulting preparou um relatório aprofundado sobre os Novos Serviços de Mobilidade (NSM), por empresas de aplicativos e de compartilhamento em geral, para os próximos anos no mundo e no Brasil, incluindo aspectos em que o novo coronavírus terá influência.

Obtive acesso com exclusividade às conclusões do estudo, aqui resumidas.

  • O crescimento dos NSM estará concentrado em áreas urbanas mais densas em razão dos desafios da mobilidade e de oferecer variedade de opções. Deslocamentos de ponta a ponta, vinculando diferentes modos de transporte e fazendo melhor uso de serviços existentes em determinada área, são uma solução parcial no curto prazo. Isso porque um grande número de pessoas não tem acesso a esses serviços.
     
  • Os fabricantes de carros veem boa oportunidade de transformar os NSM em clientes confiáveis para seus negócios. Além disso, as vendas para frotistas (em especial locadoras) vêm compensando em parte a menor procura do comprador tradicional (pessoa física).
     
  • Frotistas tendem a substituir veículos em ritmo mais acelerado e haverá concorrência entre eles para cativar clientes com modelos mais novos e atraentes. Mas o impacto será relativamente pequeno nas vendas nos próximos cinco anos.

  • Neste momento cresce a necessidade de se aprofundar sobre transformações digitais. As empresas terão que ser mais ágeis e desenvolver estratégias para entender seus usuários.
     
  • Municípios devem procurar uma sinergia entre transporte público e automóveis em busca da mobilidade mais eficiente.
     
  • Muitas pessoas mudarão para um modal que reduza risco de infecção, mas dependerá de seus hábitos pré-Covid-19. Quem possui veículo próprio irá usá-lo com maior frequência; no lugar do transporte público os que puderem andarão de bicicleta, patinete ou mesmo a pé.
     
  • A pandemia trouxe mudanças como o trabalho remoto, provocando diminuição da quilometragem percorrida por veículos. Impactos em longo prazo no transporte público e mobilidade compartilhada não podem ser previstos agora.
     
  • Estimativa do balanço entre veículos deixados de serem adquiridos pelo consumidor final versus veículos adquiridos para NSM podem gerar uma perda de 2% a 4% nas vendas totais em 2025.
Volkswagen Gol 1991
Volkswagen Gol 1991
Imagem: Divulgação

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