Esqueça: carros do passado não voltarão nunca mais
Fabricantes insistem em tentar resgatar a 'alma' de veículos famosos, mas tudo não passa de encenação
A novidade foi revelada no Salão de Moscou nesta semana, a evolução do Niva, jipão da Lada que foi o único sobrevivente na aventura da marca russa no Brasil na década de 90. Conhecido pela sua robustez, o Niva possui uma grande legião de fãs e, como outros modelos clássicos, vez ou outra é cogitado para ganhar uma nova geração.
Mas o que se vê nesses casos é algo que nem de perto lembra a razão de sucesso desses veículos. É verdade que o próprio Niva ainda sobrevive em produção, mas o Vision 4x4, essa releitura que a montadora AvtoVAZ (hoje pertencente à Renault) fez dele dispensa e por razões óbvias o que o mítico jipe tinha de especial.
Estamos falando das soluções “brutas” que fazem do Niva um veículo valente no off-road. Mas quando uma marca pensa em se inspirar nisso resta apenas alguma ligação com o design do passado já que é inviável manter um chassi com formato pouco aerodinâmico, tração 4x4 de acionamento mecânico e o interior desconfortável do passado. Que dirá um painel rústico. Nada disso, em seu lugar um cockpit futurista.
Mas aonde está o Niva nisso? Em quase nada. Ou seja, é um fato: não adianta ter esperança de ver um legítimo sucessor nascer daquele carro que lhe marcou a infância ou a juventude. Melhor exemplo disso é o Fusca.
Modelo mais famoso da Volkswagen, ele já reencarnou duas vezes, mas em ambas a ligação com o passado ficou restrita ao formato curvo da carroceria ou aos faróis circulares. Só. O Fusca, se é que ele merece essa honraria, não tem motor traseiro com refrigeração a ar, porta-malas dianteiro ou o preço de manutenção barato que garantiu a posse de um veículo nos tempos de vacas magras.
Fiel à tradição
Em nome dessa ilusão algumas marcas atropelam a história de veículos fundamentais para a indústria automobilística como é o caso do Mini. O minúsculo carro urbano inglês, nascido no final dos anos 50, trazia soluções que seriam replicadas até hoje como o motor transversal e tração dianteira, que o tornavam tão compacto e prático em ambientes urbanos. Era um carro nascido para ser uma alternativa barata numa época em que os veículos eram grandes e gastões.
Nas mãos da BMW nos anos 2000, o Mini virou uma marca, mas de carros não tão “minis” e bem mais caros e luxuosos. Restou o lado lúdico de celebrar a cultura britânica, mas o Mini original era “muito maior” que isso.
O saudosismo é um sentimento bacana e muitas vezes serve até como um bom momento para refletirmos sobre o caminho que trilhamos. Mas não pode se tornar uma obsessão. Por mais que jogar algum game de Atari emulado num PC ou smartphone ou ver a Disney recriar o universo de Star Wars possa lembrar um pouco da sensação original é apenas isso, um olhar para o passado e não uma forma de voltar no tempo.
Isso significa que estamos condenados a enterrar nossos carros preferidos? Talvez não. A Suzuki, por exemplo, parece ter sido mais fiel ao recriar o Jimny, seu clássico jipinho (e ao contrário do que fez com outro carro famoso, o Vitara). Atualizou o visual, introduziu novos equipamentos, tornou o carro mais seguro, mas tentou preservar suas características tão admiradas. Talvez essa deveria ser a primeira opção dos russos da AvtoVaz.
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