Especial: o Fiat Uno de R$ 1 milhão
Protótipo Cabrio emociona a cada troca de marcha e tem visual pra lá de radical. Mas, infelizmente, não será vendido...
Os carros conceito ou “showcars”, como as marcas os chamam, muitas vezes servem apenas como um exercício de design com apelo futurista. Alguns de seus detalhes posteriormente podem ser aplicados em modelos de linha, caso seja aprovado pelos dirigentes de uma montadora e, sobretudo, pelo público. O Uno Cabrio, protótipo que a Fiat mostrou no Salão de São Paulo em 2010, pode ter toda aprovação do mundo e do além, mas não será fabricado.
E falamos de algo para lamentar muito. O protótipo que a Fiat do Brasil elaborou é talvez o melhor Uno já construído. A começar pela capota... Bom, ele não tem teto algum, nem retrátil. O conceito possui o mesmos bancos e volante do 500 Abarth, versão esportiva do compacto retrô oferecida na Europa, acompanhado ainda de comando de som e telefonia (todos funcionais). O painel também contém detalhes típicos de carros preparados, como os relógios indicando a pressão do óleo do motor e combustível. Interessante? Ainda não falamos da melhor parte.
O visual externo também foi bastante modificado. O para-choque frontal, diferente do Uno normal, tem aparência bem mais esportiva. O spoiler tem um “dente” que vai rente ao chão, como o de um carro de stock-car. Essa mesma peça tem também duas grandes entradas de ar, uma para arrefecimento geral do motor e outra para ventilar o intercooler. A traseira muda mais ainda. Por causa do teto cortado, as lanternas foram posicionadas mais para baixo e dispensaram as lâmpadas convencionais para a entrada de leds. Um detalhe curioso é a falsa saída dupla de escape, que é apenas de “mentirinha”. O escapamento original fica escondido atrás do spoiler traseiro.
“Desenvolvemos o carro em cerca de dois meses. Começamos com esboços e em seguida fizemos uma maquete virtual para então projetar as peças diferenciadas do conceito”, revela Manuel Alexandre, designer da Fiat responsável pela parte externa do Uno Cabrio. Já a decoração interna foi supervisionada pelo designer Carlos Leal. “Alguns detalhes da cabine são inspirados em carros esportivos do passado, como a alavanca do câmbio sem tratamento e os bancos com tecido quadriculado”, completa o decorador.
Impressões de um conceito
Diferente da maioria dos showcars, que dificilmente se locomovem por meios próprios, o Uno Cabrio anda demais! O protótipo é impulsionado pelo mesmo conjunto mecânico do arisco Punto T-Jet com a vantagem de ser 70 kg mais leve (marca cerca de 1.160 kg). O motor do “carrinho” é o 1.4 16V turbo da FPT (Fiat Powertrain Technologies), que gera instigantes 152 cv. É mais que dobro da potência do Uno 1.0. Ele vai do 0 aos 100 km/h em 8,2 segundos e atinge 201 km/h, nas palavras de Fabrício Cardenali, responsável pela parte de engenharia do carro. Nada mal.
O comportamento do carro também é de tirar o fôlego, com o perdão do clichê da expressão. Mas ele é assim mesmo. A suspensão é cerca de 20% mais rígida que a do Uno Sporting, que já tem um certo reforço em relação ao Uno comum. Isso faz do Uno Cabrio um “monstrinho” devorador de curvas, como pudemos conferir em nossa experimentação em um kartódromo em Barueri (SP). Durante os contornos, o carro se mantém firme na trajetória e assim segue até começar a escapar, algo que os pneus te avisam enquanto marcam a pista de lado. Na hora de frear, outra surpresa: o veículo tem freio a disco nas quatro rodas com sistema ABS ajustado para o uso esportivo.
A transmissão também tem manejo muito bom, tão interessante quanto os câmbio dos esportivos nacionais da marca (não podemos esquecer do Bravo T-Jet e o Linea T-Jet). As trocas são rápidas e precisas e vêm acompanhadas do espirro da válvula de alívio do turbo. A aceleração igualmente impressiona, ao ponto de faltar espaço para “brincar” mais com o protótipo. Em nosso teste só conseguimos usar o câmbio até a terceira marcha. Mas já foi o suficiente para se divertir e, claro, ter uma noção do quanto o carro é bom.
“Caixa de sapato sem tampa”
Para deixar o Uno Cabrio em condições de uso, a Fiat teve de reforçar sua estrutura, como é de praxe no projeto de conversíveis derivados de modelos com capota fixa. “O carro é como uma caixa de sapato. Se você tirar a tampa ela perde a rigidez torcional. Fica mole. O que nos fizemos foi colocar essa tampa na parte de baixo da caixa para ganhar mais firmeza”, explica Cardenali. O engenheiro ainda afirma que foi preciso reforçar as colunas A e B e dois santantônios de aço logo atrás dos bancos foram instalados. Esse detalhe é comum em descapotáveis modernos e serve para proteger os ocupantes no caso de capotamento.
O engenheiro também conta que entre os custos com material, pessoal e desenvolvimento, o protótipo custou a Fiat aproximadamente R$ 1 milhão. “Esse é o custo médio para criar um showcar funcional”. Então o que falta para o Uno Cabrio se tornar realidade? “Uma nova linha de montagem inteira”, lamenta Cardenali. “É um carro muito específico, com detalhes únicos de construção. Por isso ainda é inviável comercialmente”, finaliza. Uma pena.