Entidades clamam por mais segurança veicular
América Latina sofre com a disparidade na regulamentação do assunto
Entidades de defesa ao consumidor divulgaram o relatório Safer Cars For Latin America. O material destaca a disparidade das regulamentações de segurança veicular em países da América Latina e mostra que fabricantes do mundo todo continuam produzindo e vendendo carros nessa região que estão sendo reprovados em testes de segurança reconhecidos internacionalmente. Nos mercados da Europa e dos Estados Unidos esses veículos não poderiam ser vendidos.
O relatório aponta que dos 22 modelos de carros que foram identificados como não seguros, 15 estão sendo vendidos para consumidores da América Latina por fabricantes como GM (Chevrolet), Nissan, VW, Fiat, Hyundai e Suzuki. Estes 15 modelos são best-sellers na região, mas nunca seriam vendidos em países com regulamentações mais claras e precisas.
"Os dados falam por si só. Existe um padrão ambíguo inaceitável sendo aplicado na América Latina. Vidas dos consumidores são colocadas em risco onde as regulamentações do governo são fracas. Fabricantes lucram com essas falhas nas regulamentações e continuam vendendo carros que não são seguros”, diz Amanda Long, Diretora Geral da Consumers International.
O material apresentado pelas entidades mostra também que cerca de 150 mil carros foram vendidos na América Latina em 2015 e que seriam reprovados em teste padrão de impacto. Estas unidades foram fabricadas sem airbags e sem as capacidades mais básicas de segurança veicular. Isto significa que potencialmente 150 mil vidas estão em risco, sem contar os passageiros. "E isto continua acontecendo e vai continuar até que os governos adotem as regulamentações da ONU e os fabricantes introduzam o mínimo de capacidades de segurança em cada veículo que produzem, independentemente de lugar em que está sendo vendido”, complementa a especialista.
Utilizando um sistema de notas que varia de 0 a 5 estrelas, o New Car Assessment Programme para a América Latina e Caribe (NCAP Latin) realiza testes de impactos e ranqueia a performance de segurança dos carros que são vendidos na região. Cinco dos carros TOP 10 mais vendidos no México e no Brasil – os dois maiores mercados da região - receberam a nota mais baixa possível. Estes carros não seriam vendidos para consumidores da Europa e Estados Unidos e não podem ser vendidos também para os consumidores da América Latina. Como exemplo, a Chevrolet/GM vendeu mais de 725.787 carros com notas de zero estrelas.
Outra preocupação para o consumidor refere-se aos resultados de uma pequena pesquisa qualitativa realizada em quatro países da região. Ela revelou que a população da América Latina não está recebendo informações claras e precisas sobre a segurança dos carros que consideram comprar. Existe uma falta de consciência sobre o que esperar e cobrar quando se compra um carro novo.
Mais de 1.25 milhão de pessoas morrem anualmente nas estradas ao redor do mundo e 90% das mortes relacionadas a acidentes de carros acontecem em países com baixa ou média renda. Existe uma ligação nítida entre países com regulamentações frágeis de segurança veicular e o alto número de mortes. Por exemplo, no Peru, que não adotou nenhuma das 7 regulamentações recomendadas pela ONU, 4.234 pessoas perderam a vida em acidentes de carro em 2015, uma taxa de 13.9 mortes a cada 100 mil pessoas.
Em outros países como a Índia, também existem evidências da prática de padrões similares de ambiguidade. Lá os fabricantes de automóveis continuam produzindo e vendendo carros que falharam em testes de segurança de impactos. A Índia, no entanto, está planejando adotar em 2017 o padrão mínimo de regulamentações recomendadas pela ONU.
"Estamos pedindo aos governos da América Latina para que adotem as regulamentações da ONU e que trabalhem junto às organizações de consumidores em campanhas de conscientização do público para salvar vidas. Nós também pedimos que fabricantes de carros parem de vender carros que não são comprovadamente seguros e que voluntariamente adotem as regulamentações da ONU. Eles terão que se adequar algum dia e nós vamos pressionar os governos para que introduzam as regulamentações. Agora é a hora de fazer a mudança e pedir por carros mais seguros", declara Tamara Meza, da Consumers International do Chile.
Campanha Online
Para reforçar a importância de adotar as regulamentações da ONU, a Consumers International, em parceria com quatro entidades latino-americanas (El Poder del Consumidor , ASPEC , Odecu e UUC Argentina) também coloca no ar uma ação online pedindo que os governos do Chile, Peru, Argentina e México adotem as resoluções da ONU.