Divórcio entre Hyundai e CAOA pode ser ruidoso

Grupo brasileiro, que detém representação de veículos importados da marca coreana, entrou com ação na Justiça para não perder negócio
Casamento entre Hyundai e CAOA perto do fim

Casamento entre Hyundai e CAOA perto do fim | Imagem: Divulgação

Prestes a completar 20 anos como representante no Brasil da marca coreana Hyundai, o grupo CAOA recebeu uma notificação da montadora no mês passado de que não renovará o atual contrato, que venceu na segunda, 30 de abril.

Pode ser o início de uma longa e talvez ruidosa disputa nos tribunais e também o fim de um relacionamento aparentemente cordial entre as duas empresas.

Fundada pelo médico Carlos Alberto de Oliveira Andrade em Pernambuco, a CAOA se transformou no maior revendedor da Ford na década passada, mas foi na representação de importados que o grupo brasileiro mais se destacou. Foi ele que lançou a Renault no país na década de 90, mas tempos depois os franceses decidiram assumir o negócio e jogando de escanteio seu parceiro que foi à Justiça na época.

Mais tarde, em 1998, a CAOA voltou a ser importadora com a marca japonesa Subaru, relacionamento que dura até hoje, mas foi no ano seguinte que a empresa fez sua aposta mais arriscada e bem sucedida, assumir a então apagada marca Hyundai.

A experiência coreana no Brasil se resumia à venda das vans de passageiros Besta, Topic e H100, além da febre da Towner, espécie de pau para toda obra como utilitário. Mas sob pressão da Anfavea, o governo estancou a sangria de importados, para azar de Kia, Hyundai e da Asia, que acabou incorporada pela primeira e esta, pela segunda. A saída foi vender automóveis de passageiros, mas o design sem sal e a falta de confiança do consumidor dificultaram o trabalho da CAOA nos anos seguintes.

Melhor do mundo

Tudo mudaria com duas mudanças. A primeira veio com o investimento da Hyundai numa linha de carros mais atraente e sofisticados. Começando de “cima para baixo”, a montadora lançou modelos como os SUVs Santa Fe e Tucson e também automóveis como o Azera e o hatch i30.

Aproveitando essa nova onda, a CAOA apostou num marketing agressivo e em preços bastante atraentes para atrair interessados e deu certo. Aos poucos os modelos da marca estavam se espalhando pelas ruas, criando uma nova clientela cativada pelas campanhas que exaltavam os carros como maravilhas tecnológicas e os “melhores do mundo” na inconfundível voz do locutor Ferreira Martins.

Não faltaram acusações dos concorrentes de que a dupla perdia dinheiro com a venda dos carros para ganhar mercado. Alheio a isso, o empresário Carlos Alberto decidiu construir uma fábrica própria em Goiás para montar os carros da Hyundai. Inaugurada em 2007, ela começou o trabalho finalizando o caminhão urbano HR e mais tarde o Tucson, modelo de enorme sucesso que só saiu de linha recentemente no Brasil.

Com uma imagem de marca de luxo, a Hyundai gozava de um prestígio que nunca seria imagino, o que fez os coreanos prestarem atenção em nosso mercado. Foi aí que o então que o casamento começou a mostrar fissuras.

Hyundai brasileira

A matriz da marca resolveu entrar no mercado mais disputado do país, o de compactos, e para isso investiu pesado para criar uma linha exclusiva (HB20), capaz de superar os principais concorrentes da época. Uma enorme fábrica foi erguida no interior de São Paulo (Piracicaba) e a Hyundai Motor Brasil foi criada para produzir e comercializar os veículos nacionais.

Mas como vender os modelos nacionais se a representação exclusiva era da CAOA? A saída foi criar duas redes paralelas, com lojas de importados e nacionais. Embora desconfortável, a situação acabou “represada” pelas duas empresas que se negavam a reconhecer desavenças.

Como a CAOA tinha natural e enorme interesse em vender o HB20 e seus irmãos, acabou abrindo lojas próprias para eles. Enquanto isso permanecia o mistério: afinal, até quando a Hyundai deixaria a CAOA à frente de seus modelos importados?
O acordo só acabou revelado nas últimas semanas quando soube-se que o contrato mais recente elas e assinado em 1º de maio de 2008 (portanto antes da fábrica própria), venceria no dia 30 de abril.

A opção por não renová-lo era algo esperado tanto é que a CAOA há bastante tempo busca por uma outra representação para repetir a bem sucedida operação com os coreanos. Depois de sondar várias marcas chinesas, a bola da vez dos emergentes, o grupo brasileiro acabou assumindo o braço nacional da Chery, uma das maiores montadoras do país asiático.

Apesar disso, a CAOA não deve vender tão fácil a “liberdade” da Hyundai. Segundo se comenta no mercado, a cláusula para não renovação automática do contrato está em algumas metas como compra de um mínimo de unidades da matriz e vendas de seus modelos. Segundo a empresa brasileira, essas metas teriam sido atingidas e por isso ela entrou com uma liminar na Justiça para continuar vendendo os carros da Hyundai.

Tudo leva a crer que o divórcio entre as duas empresas deverá ocorrer em breve afinal elas não compartilham tantas coisas em comum como há duas décadas. Mas certamente essa separação custará caro para o bolso de uma delas, mesmo que o grupo brasileiro já esteja “casado” com outra estrangeira.

Ricardo Meier

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