Da Besta ao Rio, Kia faz 25 anos no Brasil
Marca coreana chegou oficialmente ao país no dia 30 de junho de 1992 e, depois de altos e baixos, prepara retomada em 2018
A marca de automóveis Kia é a prova que, por mais que um estreante seja alvo de chacotas há espaço para virar o jogo. A montadora sul-coreana que o diga. Fundada no Brasil em 30 de junho de 1992, a Kia completa nesta sexta-feira 25 anos no país. Mas passou vários anos desacreditada nos tempos em que seu mais famoso veículo era a Besta, uma van versátil, mas de nome improvável.
Desde aquela época a operação brasileira está nas mãos do grupo Gandini, sediado em Itu, no interior de São Paulo. É um caso raro em que a matriz não assumiu as rédeas ou acabou saindo do mercado. E agora a marca se prepara para retomar o crescimento, na expectativa do fim da cobrança dos 30 pontos percentuais extras de IPI introduzidos pelo Inovar Auto e condenados pela OMC, a Organização Mundial do Comércio. Ou seja, mais um exemplo das dificuldades que a Kia vem enfrentando nesse quarto de século.
Lotações
Embora tenha sido fundada em 1992, a Kia só iniciou operações em janeiro de 1993 aproveitando a recente abertura do mercado de veículos no Brasil. Apesar de existir desde 1944, a marca era desconhecida no mundo, mas o clima de novidade que os carros importados traziam às ruas logo trouxe uma certa notoriedade para ela sobretudo pela Besta, uma van com versões de passageiros e carga, lançada na Coreia na década de 80.
Na verdade, seu nome era Best-A, uma alusão a palavra ‘melhor’ e a letra ‘a’, porém não demorou para que no Brasil virasse ‘besta’. Junto com ela, a marca também passou a vender o pequeno caminhão Ceres. A primeira tentativa no segmento de automóveis foi com os modelos Sephia e Clarus, cujo design e padrões de acabamento em nada coincidiam com o gosto do brasileiro.
As boas vendas da Besta, no entanto, sofreram um revés quando várias cidades brasileiras resolveram acabar com as lotações, serviços de transporte coletivo clandestino. Com exigências que direcionaram o padrão dos veículos para modelos maiores fabricados pelas mesmas empresas que forneciam ônibus no país, as vans coreanas perderam espaço.
No início dos anos 2000, a Kia tinha uma atuação modesta, centrada mais nas vendas do Sportage, um SUV de concepção antiga, mas que trazia tração 4x4. Foi quando o designer alemão Peter Schreyer assumiu os novos projetos de carros da Kia.
Inspiração felina
Schreyer chegou à montadora em 2006 e pouco tempo depois já mostrava do que era capaz. Criou o Soul, um misto de hatch e SUV que no Brasil foi batizado de “carro design” na campanha de TV. Era o início de um estilo que marcaria a Kia, com a característica “boca de tigre” na grade frontal e linhas bastante angulosas e equilibradas.
A nova geração do sedã Cerato, por exemplo, mudou o modelo da água para o vinho. Com ele e o Soul, a Kia brasileira experimentou seu melhor momento no país, em 2011, quando emplacou mais de 77 mil carros. Na época, se falava até de uma fábrica em território nacional, mas o imbróglio causado por outra montadora coreana, a Asia Motors, que havia saído do país após receber incentivos para construir uma planta aqui, impossibilitou qualquer tentativa nesse sentido – a Kia havia assumido a Asia na Coreia do Sul.
Inovar Auto
Com as mãos mágicas de Schreyer lançando novidade atrás de novidade, a Kia mudou completamente sua imagem mundial, praticamente no mesmo ritmo da Hyundai, da qual passou a fazer parte em 1998.
Mas em 2011 o governo brasileiro decretou o Inovar Auto, programa de incentivo à indústria nacional e matou qualquer pretensão da Kia. Sem condições de lançar uma fábrica no país, a Kia viu seu mercado encolher a medida que teria de arcar com 30 pontos extras de IPI em seus veículos.
A cota máxima anual, pensada mais para ajudar marcas de luxo, equivalia às vendas da Kia em apenas 15 dias, ou seja, não houve como ser competitiva nesse quadro, mesmo com muitos modelos desejados no pelo público brasileiro como o novo Sportage.
Agora, a Kia vê com expectativa o fim do Inovar Auto em dezembro. Sem os 30 pontos de IPI e contando com a nova fábrica da montadora no México, a marca sul-coreana pode voltar a crescer no mercado em 2018. O modelo da virada, curiosamente, se chama Rio, um compacto premium que quase foi vendido em outros momentos no Brasil.
“É muito importante e muito especial comemorarmos os 25 anos ininterruptos de atividades da Kia Motors do Brasil”, reconhece José Luiz Gandini, presidente da marca no Brasil. “Mas é muito mais importante vislumbrar o futuro próximo. Sem os 30 pontos percentuais, não tenho dúvidas de que a marca Kia volta a ter força o suficiente para recuperar a rede de concessionárias, duramente castigada nos últimos cinco anos, e também de atender aos consumidores brasileiros, que querem ter opção de escolha, para melhor. Os mercados fechados só prejudicam os consumidores”.