Coronavírus faz vendas de veículos em março serem as mais baixas desde 2006
Mercado parou na segunda quinzena, terminando com pouco mais de 155 mil automóveis e comerciais leves emplacados, queda de quase 20% em relação a fevereiro
Poderia ser pior, é verdade, mas os números de emplacamentos de março já demonstram o tamanho do buraco em que o mercado de veículos novos está entrando após a pandemia do coronavírus motivar a várias ações de restrição social no Brasil.
Os detalhes desse fenômeno ainda serão detalhados pela Anfavea, porém, é possível antecipar que o resultado de março é o pior desde 2006 quando foram emplacadas pouco mais 148 mil unidades. No mês passado foram 155,7 mil, entre automóveis e comerciais leves, uma queda de 19% em relação a fevereiro.
A queda interrompeu o que deveria ser o melhor mês de 2020 e possivelmente superior aos cinco anos anteriores. Até o fim da primeira quinzena, os emplacamentos seguiam em alta, como se ainda ignorassem os efeitos das quarentenas prestes a serem decretadas em vários estados e municípios. Bastou que elas passassem a vigorar para os dados quase travarem.
Entre as várias razões estão o fechamento das concessionárias, é claro, mas também empresas que suspenderam atividades e os órgãos públicos do setor como os departamentos de trânsito de vários estados. Ou seja, nem que algum cliente tenha fechado a compra de seu carro novo ele de fato pode ter conseguido emplacá-lo ainda. A Fenabrave afirmou que "apenas algumas concessionárias estão com as oficinas abertas, para atender caminhões, ambulâncias e outros veículos essenciais para serviços de primeira necessidade, como os ligados à saúde e alimentação”, comentou Alarico Assumpção Júnior, seu presidente.
Efeitos diversos
O sintoma dessa situação inusitada pode ser visto no ranking de marcas e veículos. O efeito do coronavírus foi diverso, atingindo várias montadoras enquanto outras pouco sentiram reflexos. No top 10 das marcas, a Nissan foi a mais atingida, caindo 26%, seguida pela Chevrolet e Jeep, com 25%. A que menos sentiu o impacto foi a Ford, com queda de 4,5%.
Já o pelotão intermediário viu até mesmo marcas que tiveram seu melhor momento do ano, caso da CAOA Chery, que terminou em 11º lugar com 1.927 carros emplacados. A Mitsubishi também teve um ligeiro crescimento enquanto as marcas francesas Peugeot e Citroën desabaram 29% e 40%, respectivamente.
Entre os modelos mais vendidos, o Onix, líder do mercado, foi o mais afetado no top 20. O hatchback da Chevrolet caiu 32% em relação a fevereiro enquanto o sedan Onix Plus perdeu 27% e a vice-liderança. O SUV Compass, no entanto, foi o pior, com queda de 35%.
No caminho inverso, o Argo ultrapassou a marca de 6 mil unidades e terminou em 5º lugar no ranking de março.
Posição | Marca | Vendas | Var. |
---|---|---|---|
1° | Chevrolet | 25451 | -25,4% |
2° | Volkswagen | 25194 | -20,3% |
3° | Fiat | 23701 | -10,7% |
4° | Ford | 14390 | -4,5% |
5° | Hyundai | 13183 | -19,9% |
6° | Toyota | 11825 | -19,9% |
7° | Renault | 11520 | -20,3% |
8° | Jeep | 7576 | -24,9% |
9° | Honda | 6945 | -20,4% |
10° | Nissan | 6155 | -26,3% |
11° | CAOA Chery | 1927 | 0,3% |
12° | Citroën | 1145 | -40,4% |
13° | Mitsubishi | 1287 | 3,5% |
14° | Peugeot | 891 | -29,1% |
15° | Mercedes-Benz | 778 | -17,1% |
16° | BMW | 794 | -13,4% |
17° | Kia | 484 | -19,2% |
18° | Volvo | 465 | -28,6% |
19° | Land Rover | 449 | -19,0% |
20° | Audi | 335 | -55,9% |
Cenário desolador
Com as dificuldades em fazer o mercado funcionar e com a suspensão da produção em várias fábricas no Brasil, é provável que o cenário em abril seja ainda mais desolador. Para piorar, o dólar já acumula valorização de mais de 30% este ano, elevando custos em moeda estrangeira e pulverizando o mercado de importados.
Segundo a Abeifa, associação de empresas importadoras, o impacto será profundo: “Com a declaração oficial da OMS (Organização Mundial da Saúde), de pandemia do coronavírus (Covid-19), aliada à escalada do dólar, as nossas vendas caíram drasticamente”, lamentou João Henrique Garbin de Oliveira, presidente da entidade. Ele acrescentou ainda que vê sério risco de o setor desaparecer: “a Abeifa está preocupada com a própria sobrevivência dos importadores e sua rede de concessionárias se confirmadas as projeções de queda nas vendas de automóveis novos este ano da ordem de 40%”.
Infelizmente, abril deverá ser um mês de recordes negativos se nada mudar.
Posição | Modelo | Vendas | Var. |
---|---|---|---|
1° | Chevrolet Onix | 12007 | -32,0% |
2° | Chevrolet Onix Plus | 6670 | -26,9% |
3° | Ford Ka | 7103 | -13,2% |
4° | Hyundai HB20 | 7042 | -16,4% |
5° | Volkswagen Gol | 5681 | -4,4% |
6° | Fiat Argo | 6071 | 2,6% |
7° | Renault Kwid | 4109 | -29,3% |
8° | Fiat Strada | 4799 | -7,5% |
9° | Volkswagen Polo | 3774 | -31,6% |
10° | Jeep Renegade | 4492 | -16,1% |
11° | Fiat Toro | 3598 | -19,6% |
12° | Volkswagen T-Cross | 4417 | -17,8% |
13° | Fiat Mobi | 3527 | -24,6% |
14° | Nissan Kicks | 3597 | -27,4% |
15° | Toyota Corolla | 3643 | -19,3% |
16° | Jeep Compass | 3059 | -34,7% |
17° | Hyundai Creta | 3484 | -22,0% |
18° | Renault Sandero | 3303 | -18,5% |
19° | Ford Ka Sedan | 3627 | 18,8% |
20° | Toyota Hilux | 2971 | -4,9% |